segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

LICENÇA PARA BELO MONTE SUSPENSA

Justiça suspende licença para canteiro de obras de Belo Monte

Vista aéra do rio Xingu
Justiça também impediu repasse de recursos do BNDES à empreiteira
A Justiça Federal no Pará ordenou nesta sexta-feira a suspensão de licença parcial que autorizou a instalação do canteiro de obras para a construção da usina de Belo Monte, no rio Xingu (PA).
O juiz Ronaldo Destêrro considerou que as pré-condições para o início da construção não foram cumpridas. 

A decisão ainda proíbe o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de transferir recursos à Nesa (Norte Energia SA), empresa formada para o empreendimento.
A liminar suspendendo a licença foi pedida pelo Ministério Público Federal do Pará, que argumentou não haver, no sistema legal brasileiro, a possibilidade de conceder uma licença parcial.
A autorização, outorgada em 26 de janeiro pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), permitia à Nesa desmatar 238 hectares e erguer os acampamentos dos sítios Pimental e Belo Monte, onde serão feitas as duas barragens da usina.
A licença autorizava também a implantação e obras de melhorias em estradas de acesso e a realização de terraplanagem.
Ao conferir a permissão, a diretora de licenciamento do Ibama, Gisela Forattini, afirmou que 24 das 40 pré-condições pedidas pelo órgão para a instalação da usina haviam sido cumpridas.
Entre as pré-condições, tecnicamente chamadas de condicionantes, estão medidas como a recuperação de áreas degradadas, a melhoria da infraestrutura urbana em Altamira e programas de apoio a indígenas.
No entanto, o Ibama disse que a licença parcial não significava que a usina seria erguida: para isso, a Nesa teria de cumprir com as condicionais restantes.
O Ministério Público Federal e a OAB, porém, defendem que as obras não comecem antes da obtenção de uma licença de instalação definitiva.
"Há três tipos de licença: a prévia, a de instalação e a de operação. O Ibama fez um fatiamento, autorizando o início dos canteiros mesmo reconhecendo que as condicionantes não foram cumpridas", afirmou à BBC Brasil o procurador da República Ubiratan Cazetta.
Segundo Cazetta, as condicionantes prioritárias a serem cumpridas são as referentes à saúde, educação, saneamento e segurança pública.
Ele diz que há previsão de que 100 mil pessoas sejam atraídas a Altamira no início das obras, dobrando a população atual.
"Com a população de hoje, a infraestrutura já não aguenta a demanda por hospitais, educação etc. Se derem início às obras sem implementação dos serviços, condenarão a cidade ao caos e, em vez de preparatórias, as políticas terão de ser reparatórias."
O procurador diz ainda que nada foi feito para aproveitar a mão-de-obra local, outra pré-condição imposta aos construtores.
Segundo Renata Pinheiro, integrante do Movimento Xingu Vivo para Sempre, que congrega organizações sociais e ambientalistas, o início das obras será como uma "declaração de guerra aos povos indígenas da região".
"Haverá conflitos por aí", disse ela à BBC Brasil. Para Pinheiro, a construção da usina causará uma "catástrofe social".
No início de fevereiro, representantes de comunidades ribeirinhas, de grupos indígenas e de ONGs entregaram no Palácio do Planalto um documento pedindo a suspensão do licenciamento de Belo Monte.
Eles afirmam que a usina causará grande prejuízo ao meio-ambiente e à população que vive na região.
Histórico
Caso seja construída, a usina de Belo Monte será a terceira maior do mundo em capacidade instalada (11.233 MW), atrás da chinesa Três Gargantas (22,5 mil MW) e da binacional Itaipu (14 mil MW).
Seu custo foi estimado em até R$ 30 bilhões pela iniciativa privada. Se o cronograma de implantação for cumprido, ela deve começar a operar parcialmente em 2015.
A Nesa, consórcio liderado pela Queiroz Galvão e pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), venceu, em abril de 2010, o leilão de geração promovido pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para a construção da usina.
O projeto inicial foi mudado várias vezes até a concessão do licenciamento ambiental prévio. No plano original, quatro usinas seriam construídas, e uma área de 1.500 km² ficaria submersa. Agora, o empreendimento compreende uma usina e dois reservatórios, com área alagada de 500 km².

APROVEITAMENTO RACIONAL DO LIXO

MDL: AO INVÉS DE LIXO, UM MONTE DE DINHEIRO
Da Agência Ambiente Energia - Dos 5.612 municípios brasileiro, 100 têm condições de implmentar projetos que utilizem os aterros sanitários para gerar créditos de carbono, o que poderia resultar numa receita bruta de 2,7 bilhões de euros, com uma redução de emissões de carbono estimada em 807 milhões de toneladas. Esta é uma das conclusões do estudo “Utilização do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)”, divulgado pelo Instituo de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Como exemplos, o documento análise as iniciativas para geração de biogás desenvolvidas pelo Projeto NovaGerar, em Nova Iguaçu (RJ), e do Aterro Bandeirantes, em São Paulo.

Segundo o estudo, o setor de saneamento básico, em particular o de tratamento de lixo, apresenta elevada potencialidade para a utilização de um MDL setorial. “A maior utilização do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo poderia ser um elemento importante para viabilizar projetos ou políticas públicas que contribuam para o  desenvolvimento brasileiro sustentável”, afirmou a técnica de Planejamento e Pesquisa Maria Bernadete Gomes.
Além de abordar o setor de saneamento básico do Brasil e o tratamento dos resíduos sólidos e projetos de geração de energia a partir de aterros, o estudo trata dos panoramas brasileiro e mundial do MDL, do mercado de carbono – com seus volumes e valores –, das políticas públicas e medidas de desenvolvimento sustentável. No mercado de MDL, o Brasil figura no terceiro lugar.

COMO AS PLANTAS SE DEFENDEM

PESQUISA FAPERJ


Divulgação
Peptídeos de pimenta: arma contra leveduras do gênero Candida
Criando plantas mais resistentes
Isoladas de sementes, certas proteínas têm sido alvo de pesquisadoras da Uenf, que querem entender as estratégias de defesa de plantas contra insetos e micro-organismos. Peptídeos de sementes de pimenta,por exemplo, são eficientes no combate a leveduras patogênicas, especialmente as do gênero Candida. Além de criar plantas mais resistentes, o estudo pode servir de base para futuros fármacos. 


Pesquisadores estudam estratégia de defesa de 


plantas


Vilma Homero
 Divulgação / Uenf
             
     Células de leveduras S. cerevisiae: à esquerda, grupo de
      controle;
 à direita, com adição de peptídeos de pimenta   


Peptídeos isolados de sementes de certos tipos de pimenta têm se mostrado bastante eficientes no combate a diferentes leveduras patogênicas, especialmente as do gênero Cândida, alvo do estudo das pesquisadoras Antonia Elenir Amâncio Oliveira, Valdirene Moreira Gomes e Maura da Cunha da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), com a colaboração de Rosana Rodrigues. Esses peptídeos e outras proteínas com ação antimicrobiana, presentes em sementes de várias plantas, vêm demonstrando, em laboratório, ser promissores não só para futura aplicação na agricultura como para o desenvolvimento de medicamentos.

Depois de uma varredura em sementes de 17 plantas diferentes, as pesquisadoras vêm se concentrando naquelas com maior potencial, como as pimentas, certos tipos de soja e de feijões, por exemplo. "O que propomos é a transformação genética, uma nova frente de atuação para produzir plantas modificadas", explica Antonia Elenir, coordenadora do projeto, que recebeu recursos do programa de Apoio às Universidades Estaduais – Uerj, Uenf e Uezo, da FAPERJ.
Para isso, é preciso caracterizar, identificar essas proteínas e submetê-las a ensaios biológicos com microorganismos e insetos, investigando fundamentalmente seu mecanismo de ação. "A partir daí, tendo como base este conhecimento, é possível aumentar sua expressão em sistemas transgênicos em plantas para torná-las mais resistentes tanto ao ataque de insetos quanto a fungos e outros microorganismos."
Ao isolar certa proteína da casca da semente de soja, por exemplo, e submetê-la a testes in vitro, Elenir observou sua capacidade de se ligar a um carboidrato em especial, a quitina, presente no trato intestinal de insetos. "Quando o inseto come a semente, essa proteína se liga à quitina em seu intestino, interferindo em sua função básica e bloqueando a absorção de nutrientes. O resultado é que o inseto morre de inanição", explica Antonia Elenir. Como a quitina não é um carboidrato presente no organismo humano, não há o menor risco de a soja produzida com altas concentrações dessas proteínas façam mal ao ser consumidas.
Outro exemplo são peptídeos antimicrobianos encontrados em sementes de certas pimentas, altamente eficientes contra o crescimento de leveduras – que são fungos unicelulares –, como a levedura patogênica do gênero Candida. "Atuando sobre a membrana dessas leveduras, os peptídeos inibem o desenvolvimento normal e causam severas alterações morfológicas, impedindo seu crescimento e proliferação", fala Valdirene. Como a Candida é um fungo importante em doenças humanas, as pesquisadoras acreditam no potencial futuro desse peptídeo na produção de medicamentos. "Mesmo em baixíssimas concentrações, os peptídeos de sementes de pimenta demonstraram alto potencial contra várias leveduras", entusiasma-se Valdirene. Isso abre espaço para que, no futuro, se possam produzir medicamentos utilizando esses peptídeos – na forma sintética ou na forma natural como princípio ativo.
O estudo das pesquisadoras abrange também peptídeos com outros tipos de atuação, como os inibidores de tripsina e as proteínas transferidoras de lipídeos (LTPs). "A tripsina é uma enzima importante na fisiologia de vários organismos vivos, seja um inseto ou um ser humano. Ela exerce um papel fundamental no metabolismo. Em plantas, por exemplo, muitos desses inibidores de tripsina só serão produzidos diante de um ataque de patógenos ou após uma agressão por insetos", diz a pesquisadora. No caso das defensinas, Valdirene dá um bom exemplo de sua eficiência: as defensinas que foram isoladas de rabanete. Além de apresentar alta atividade antimicrobiana in vitro, tiveram seu gene introduzido e superexpresso em plantas de fumo, aumentando consideravelmente a resistência dessas plantas ao fungo Alternaria sp., um tipo de patógeno que ataca várias culturas agrícolas.
Todas essas estratégias, na verdade, são formas de aproveitar as táticas já utilizadas pelas plantas em sua defesa natural contra as mais diversas pragas. "Fazemos pesquisa básica e as aplicações de nossos resultados ainda demandam novos estudos e anos de trabalho", diz Antonia Elenir. Para as pesquisadoras, os próximos passos do trabalho serão partir para a biologia molecular, ampliando os testes com um número maior e mais diversificado de insetos e microorganismos, e testar os níveis de aumento da concentração dos compostos de peptídeos sem interferir na fisiologia da planta. Ainda há um enorme trabalho pela frente, mas as especialistas também antevêem com entusiasmo as promissoras aplicações de seus resultados.

© FAPERJ – Todas as matérias poderão ser reproduzidas, desde que citada a fonte.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

SC - ARRASTÃO DO BEM

Venham pro nosso “Arrastão do Bem”!



Ana Echevenguá*

No próximo dia 06 de março, Domingo de Carnaval, o Movimento SOS Canasvieiras vai às ruas fazer um “Arrastão do Bem”. Num clima de alegria e descontração, o grupo fará um trabalho de limpeza e conscientização, com coleta de lixo e distribuição de panfletos.


A concentração será às 10hs, no Capitão do Mar, o barzinho do Jorge e da Neuzinha, que fica na areia da praia, próximo ao Riacho Beatriz.

Canasvieiras vive um momento crítico. E carece de cuidados urgentes. A falta de tratamento de esgoto – somada ao descaso dos governantes e da CASAN - está afetando diretamente a saúde dos usuários da praia. Em janeiro, após a chuva que alagou o balneário, foram mais de 15 mil casos de “virose”, provocada por coliformes fecais.

Ou seja, está mais do que comprovado que tem cocô e xixi na água e na areia! E não dá mais esconder isso debaixo do tapete!

Um dos objetivos do SOS Canasvieiras é chamar a atenção da mídia para este problema de saúde pública. E, desde março de 2010, várias reportagens foram feitas, mostrando um pouco da realidade local.

Também levou o caso às autoridades competentes. O Ministério Público Estadual foi um dos primeiros a cumprir seu papel: instaurou um inquérito civil para apurar as ilegalidades noticiadas.
Quem não entende, acha que o Movimento, ao discutir os problemas que o balneário experimenta, poderá falir a indústria do turismo.

Ao contrário, queremos defender e preservar as riquezas naturais de Canasvieiras, para atrair cada vez mais turista. Afinal, é este que gera emprego e renda na Ilha.

Por isso, queremos que nossos governantes cumpram suas obrigações e entendam que preservar é preciso! Queremos saneamento básico! Queremos praia limpa!

Portanto, junte-se a nós! Abrace essa causa! Adquira sua camiseta no Mercado Jardim, do Seu Chico. Visite nosso blog - http://soscanas.blogspot.com - e página do Facebook.

Enfim, faça parte desse grupo de voluntários apaixonados por Canasvieiras e que está lutando para garantir a sadia qualidade de vida, um direito que está nas linhas e entrelinhas da nossa Constituição Federal e Estadual.

* - integrante do Movimento SOS Canasvieiras, e-mail: ana@ecoeacao.com.br, website: www.ecoeacao.com.br

sábado, 26 de fevereiro de 2011

POLÊMICA A VISTA


Empreendimentos de Eike Batista recebem licença ambiental apesar das condicionantes

Do Correio do Brasil
 Por Redação - do Rio de Janeiro e São Paulo
O Porto de Açu deverá ser um dos maiores do mundo
O Porto de Açu deverá ser um dos maiores do mundo
O governo do Estado do Rio de Janeiro anunciou, nesta quarta-feira, que pretende conceder a licença ambiental para a construção do complexo do Porto do Açu, do empresário Eike Batista, que inclui a construção de porto, estaleiro, usina térmica a gás natural, entre outros empreendimentos previstos.
 O governo exigiu em contrapartida condicionantes no valor de R$ 65 milhões, que será rateado entre os investidores do complexo.

O complexo industrial do Porto do Açu já conta com parcerias de empresas como a japonesa Hyundai, que terá participação no estaleiro, da chinesa Wuhan Iron and Steel (Wisco), que pretende construir uma siderúrgica, entre outras.
– Além da compensação ambiental para investimentos em unidade de conservação, haverá uma substancial compensação para saneamento e também a obrigação de se investir na preservação da biodiversidade da região – explicou a secretaria estadual do Ambiente nesta quarta-feira em seu site.
Grupo Bertin
Em contraponto à notícia de que o Porto de Açu receberá a licença para a construção do complexo industrial, o empresário Eike Batista também soube das dificuldades do Grupo Bertin para levar adiante os ambiciosos projetos em que se envolveu nos últimos anos. O campo agora está livre para os investimentos de Batista na área elétrica. O Bertin ofereceu algumas termoelétricas à Cemig, que a princípio não se interessou. Agora, a empresa negocia com outros investidores, entre eles a MPX, de Batista.
O grupo desistiu na semana passada de seu lance mais audacioso, a hidrelétrica de Belo Monte, afirmando que pretendia priorizar outros empreendimentos. A decisão forçou o governo a correr atrás de um substituto para fechar o consórcio Norte Energia, que vai explorar a usina. Quatro empresas estão na mira do governo: Vale, CSN, Alcoa e Gerdau. A Vale já foi procurada.
Na semana passada, a mineradora recebeu de Valter Cardeal, executivo da Eletrobras e homem de confiança da presidente Dilma Rousseff, convite para voltar ao empreendimento – a empresa era sócia do consórcio que perdeu a disputa por Belo Monte. Ontem, executivos da Vale se reuniram em Brasília para começar a avaliar as condições do negócio. O substituto do Bertin precisa ser definido logo, para que as obras comecem antes das cheias no Rio Xingu.
A desistência de Belo Monte criou um problema para o governo, mas não é suficiente para devolver o fôlego financeiro ao Bertin, que precisa de R$ 10 bilhões até 2014 para tirar seus projetos do papel – sendo R$ 7 bilhões para construção de 31 usinas. Seis delas atrasaram e estão inadimplentes na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). A empresa também foi multada pelo atraso, em R$ 1,2 milhão, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Para vender parte dos ativos elétricos, a empresa teria contratado o Banco Votorantim.

PREÇO DOS ALIMENTOS DEVE ACARRETAR NOVA CRISE

Suíço prevê nova crise no preço dos alimentos

A especulação não gera um aumento dos preços, mas acentua, disse Ronald Jaubert.
A especulação não gera um aumento dos preços, mas acentua, disse Ronald Jaubert. (Reuters)
Por Pierre-Francois Besson, swissinfo.ch

Os preços dos alimentos alcançam níveis recordes, ameaçando o sustento de milhões de pessoas. Uma crise previsível depois da última de 2007-2008, que segundo um especialista suíço em política agrícola, não serviu de lição para a economia mundial.

Entrevista com o professor do Instituto de Estudos Internacionais e do Desenvolvimento (HEID) e da Faculdade de Geociências e Meio Ambiente da Universidade de Lausanne, Ronald Joubert.

swissinfo.ch: Estamos no início de uma nova crise alimentar, tal como anunciado pela FAO e pelo relator especial da ONU para o direito à alimentação?




Ronald Jaubert: Fala-se hoje de crise alimentar, quando de fato trata-se de uma crise de alta dos preços. Com quase um bilhão de pessoas consideradas desnutridas, o mundo está enfrentando uma crise alimentar há muitos anos.
As crises de preço - a de 2007-2008, como a atual - só amplificam a situação. Mas estamos passando por uma crise alimentar já faz alguns anos, só que não queríamos necessariamente ver.
swissinfo.ch: E por que não?
R.J: Na verdade, o apoio à agricultura desapareceu da agenda internacional nos anos noventa e início de dois mil. Um exemplo, e não é para criticá-la: a DDC [Agência Suíça para Cooperação e Desenvolvimento] fechou sua seção agrícola.
É difícil encontrar uma explicação para essa evolução aberrante. Mas a questão agrícola já não parecia um problema. Estávamos em uma situação de declínio dos preços agrícolas a longo prazo. No entanto, permanecia um problema significativo de desnutrição.
swissinfo.ch: Quais são as consequências do atual recorde na alta dos preços dos alimentos?
RJ: Para os países mais pobres, incluindo os países importadores, essa situação irá provocar um aumento na nota. Ele irá agravar o problema da desnutrição. Em 2007-2008, a crise dos preços impulsionou o número estimado de pessoas subnutridas de 850 milhões para mais de um bilhão.
A questão é saber quais são as origens da crise. É preciso ter realmente consciência da necessidade do restabelecimento do sistema de controle dos preços agrícolas.
swissinfo.ch: De que forma?
R.J.: Não há solução simples. A atual crise dos preços é o produto de uma combinação de fatores: a especulação, os efeitos de más colheitas em vários países, etc. Por conseguinte, é necessário desenvolver uma série de medidas de curto e médio prazo.
Uma questão que vem sido discutida, por exemplo, é a influência da especulação sobre os preços. Hoje ainda é difícil de medir realmente esse efeito. Mas ele existe, é óbvio. A especulação não gera o aumento dos preços, mas o acentua. Ela se alimenta da volatilidade dos preços.
Perante esta situação, podemos tentar limitar a especulação em geral. Mas parece que começamos mal, faltam medidas para isso. A outra opção, seria dar um jeito para que a especulação não encontre campo de ação na agricultura. Em outras palavras, que se crie um controle da volatilidade dos preços.
swissinfo.ch: Quem é capaz de impor essa agenda?
R.J.: É o que nós gostaríamos de saber. Vários líderes políticos insistem na ideia de regulamentar a especulação. Aliás, não só sobre os preços agrícolas. Um elemento que incomoda particularmente é a especulação com as matérias primas, incluindo o petróleo. Mas além da constatação nada é feito. Parece que os especuladores, principalmente os bancos e os fundos de investimento, impõem uma forte resistência.
swissinfo.ch: Além da especulação, quais são as outras alavancas da crise alimentar?
RJ: É preciso reinvestir na agricultura, aumentando a produção agrícola de acordo com o crescimento da população e constituindo estoques. A produção agrícola é variável em sua natureza. Depende do clima e de seus caprichos. Não é previsível com exatidão antes da temporada. O que as sociedades sempre fizeram antes que perdêssemos a razão, foi criar estoques para lutar contra as irregulariedades.
swissinfo.ch: Costuma-se dizer que a produção agrícola é suficiente, o problema é a má regulamentação dos mercados agrícolas, o que geraria as crises…
RJ: É em grande parte verdade, o que nos leva novamente à questão da especulação. Dito isto, é preciso realmente aumentar a produção e diversificá-la. A humanidade depende, em mais de 85% do seu consumo de cereais, de quatro tipos de grãos [trigo, arroz, milho, cevada]. Tudo se passa em mercados bem estreitos. Imaginar uma maior diversidade é aumentar as oportunidades de substituição. Os preços do trigo começam a subir? Então come-se outra coisa. Mas no momento, a especialização é tal que não temos escolha.
swissinfo.ch: Diante dessa crise, o que pode um país como a Suíça?
RJ: Eu não tenho certeza que ela possa agir sózinha. Como pode um pequeno país, com um mercado relativamente pequeno, ter uma influência sobre os preços agrícolas? Parte da especulação com as matérias-primas, agrícolas principalmente, é feita a partir de Genebra. A Suíça tem capacidade de regular o setor sozinho? Obviamente que não. Além disso, se as autoridades suíças decidirem mesmo de regulamentar essa atividade, ela simplesmente se mudaria para outro lugar, é claro.
swissinfo.ch:  Então, qual é a saída?
RJ: A médio e longo prazo, todos concordam que os preços agrícolas vão aumentar. É mais propício para o investimento na agricultura. Ao mesmo tempo, a volatilidade dos preços do atual período torna difícil investir. Como planejar se os preços podem variar de um a três? De alguma forma, estão arruinando as chances de investimento nesse setor.
Em todo caso uma coisa é certa: se, como depois de 2007-2008, não houver mudança de atitude, se nós não aprendermos a lição, uma nova crise pode ser prevista dentro de dois ou três anos.


Pierre-Francois Besson, swissinfo.ch

Adaptação: Fernando Hirschy


CRESCIMENTO DESORDENADO CAUSA DE DESASTRES


Crescimento urbano intensifica temporais em São Paulo

DO Correio do Brasil
 Redação, com BBC


Desmatamento de áreas verdes favorece formação de 'ilha de calor'
A expansão da malha urbana em São Paulo e a sobreposição de fenômenos climáticos são os principais motivos por trás da intensificação nos temporais que têm castigado a cidade, segundo especialistas.
No mês de janeiro, segundo o Inmet – Instituto Nacional de Meteorologia -, as chuvas na cidade somaram 493,7 mm, recorde para o mês desde o início das medições, em 1943. A média histórica de chuvas para janeiro é de 261,3 mm.

Em fevereiro, o índice chegou a 123 mm até a manhã desta segunda-feira – a média para o mês é de 235,4 mm.

Como resultado dos temporais, além das habituais inundações, a cidade têm sofrido com a queda de árvores e panes nos semáforos, fatores que causam problemas no fornecimento de energia elétrica e no trânsito.
Para Augusto José Pereira Filho, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, o alto índice pluviométrico está diretamente relacionado à formação de uma “ilha de calor” na cidade durante o verão e a primavera.
Pereira Filho explica que a mancha urbana na Grande São Paulo continua se expandindo, o que implica o desmatamento de áreas verdes e o consequente aumento da temperatura em dias de grande incidência solar.
Aquecido, o ar em São Paulo sobe, abrindo espaço para a vinda do ar úmido proveniente do litoral, bastante próximo da cidade.
A interação entre o ar relativamente quente e seco da cidade e o ar relativamente úmido e frio do oceano produzem uma condição instável, que gera tempestades violentas, com ventos intensos e grande índice pluviométrico.
– À medida que aumenta o contraste de temperatura, entre o ar do litoral e o da cidade, há tendência de aumento nos temporais, em intensidade e em área atingida –, diz o professor.
Ele conta que, entre 1936 e 2007, a temperatura média em São Paulo aumentou 2,1 ºC. Pereira Filho credita a variação principalmente ao crescimento urbano na cidade, já que no mesmo período a temperatura na região tropical do globo subiu apenas 0,5ºC, como resultado do aquecimento global.
O professor explica, no entanto, que há um limite para a elevação da temperatura na cidade: por meio da formação de nuvens, chuvas ou mesmo tempestades, o próprio sistema atmosférico age para baixá-la, restaurando o equilíbrio entre o calor acumulado e o dissipado.
Pereira Filho acredita, aliás, que o aumento da temperatura na cidade está próximo de seu limite.
Sobreposição de fenômenos
Segundo o meteorologista do Inmet Franco Villela, além da “ilha de calor” formada sobre São Paulo nesta época do ano, a sobreposição de outros fenômenos concorre para a intensificação dos temporais.
Entre eles, destacam-se o La Niña, constituído pelo resfriamento anormal das águas no Pacífico na costa do Chile e do Peru, o que altera a distribuição de massas de ar quentes e frias em vários pontos do Brasil;
A elevação da temperatura do Atlântico, que provoca maior evaporação na costa próxima a São Paulo;
E a Zona de Convergência do Atlântico Sul, que provoca o deslocamento de umidade da Amazônia até a região Sudeste.
Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), na primeira semana de fevereiro caíram em São Paulo, em média, 80 árvores por dia em decorrência das fortes chuvas e dos raios.
Além da queda das árvores, os temporais aumentaram sensivelmente a quebra de sinais de trânsito. Segundo a CET, nos meses sem chuva são registradas, em média, 43 ocorrências por dia.
Em janeiro, 100 sinais quebraram por dia na cidade, dos quais boa parte só voltou à normalidade dias depois. A cidade tem cerca de 6 mil aparelhos.
Segundo o especialista em trânsito Sérgio Ejzenberg, mestre pela Escola Politécnica da USP, os sinais de trânsito deixam de funcionar porque os temporais acionam um dispositivo de segurança que evita falhas em seu funcionamento.
Ele explica que, quando chove, se a fiação está mal aterrada ou se suas conexões elétricas estão desgastadas, o semáforo detecta uma anomalia no fornecimento de eletricidade e, para não acionar uma erroneamente alguma lâmpada, desliga ou passa a piscar automaticamente.
Para sanar o problema, Ejzenberg diz que é preciso investir mais na manutenção dos sistemas de transmissão elétrica, isolando as tubulações enterradas e pondo fim às áreas de curto-circuito em redes aéreas.