DA AGÊNCIA USP DE NOTÍCIAS
Por Giovanni Santa Rosa -Editoria Meio Ambiente
Por meio da análise dos anéis de crescimento de árvores é possível
reconstruir como os fatores do clima oscilaram na cidade de São Paulo em
certos períodos. Essa é a conclusão da pesquisa do biólogo Gustavo
Burin Ferreira, do Instituto de Biociências (IB) da USP, que estudou 43
cedros do Instituto Butantan, do Parque da Cantareira e do próprio IB,
entre 2007 e 2011, para conhecer mais sobre o passado climático da
cidade.
A partir da análise das informações, Ferreira descobriu que o fator
que mais se correlaciona com o crescimento das árvores estudadas é a
temperatura no final do inverno: quanto maior ela é, menor é o
crescimento. “Explicando de uma maneira simples e finalista, é como se a
árvore ‘queimasse a largada’ e começasse o processo de crescimento
antes da hora”, diz Ferreira.
Para estudar as árvores sem destruí-las, o pesquisador utilizou o
trado de incremento, uma espécie de broca oca que retira amostras de
madeira. A partir delas, é possível saber as medidas dos aneis de
crescimento e confrontá-las com os dados já existentes sobre o clima na
cidade. “Depois de remover tendências naturais de crescimento, o que
estiver variando é causado por fatores que não estejam relacionados a
estas tendências”, explica.
Ferreira afirma que o estudo prova que, apesar de difícil, é possível
fazer esse tipo de análise em cidades. “Nas árvores urbanas, são muitos
fatores envolvidos, como poluição e podas, entre outros. Isso pode
mascarar alguns efeitos, além de abrir um grande leque de
possibilidades. Mesmo assim, ainda é possível obter resultados.” Outro
obstáculo encontrado na pesquisa foi a falta de dados sobre o clima da
cidade, principalmente antes da década de 1960. A dissertação de
mestrado Análise dendroclimatológica do cedro (Cedrela fissilis L. – Meliaceae) para reconstrução do cenário ambiental recente da cidade de São Paulo, SP, foi orientada pelo professor Gregório Ceccantini e apresentada em 2012.
Poucos estudos no Brasil
A dendroclimatologia — ciência que estuda as relações entre o clima e os anéis de crescimento das árvores — é uma área recente no Brasil. Ferreira conta que, até 60 anos atrás, acreditava-se que ela não teria sentido nos trópicos por não haver uma sazonalidade bem definida no clima dessas regiões.
A dendroclimatologia — ciência que estuda as relações entre o clima e os anéis de crescimento das árvores — é uma área recente no Brasil. Ferreira conta que, até 60 anos atrás, acreditava-se que ela não teria sentido nos trópicos por não haver uma sazonalidade bem definida no clima dessas regiões.
Há apenas cerca de 40 anos, pesquisadores alemães observaram a
relação entre os anéis de crescimento e a sazonalidade da
disponibilidade de água. Mesmo assim, são poucas as pesquisas do tipo no
Brasil, o que motivou Ferreira a realizar o estudo.
Os anéis de crescimento são porções de madeira que se repetem
sazonalmente e possuem demarcações de tempo de natureza morfológica ou
anatômica, que permitem individualizar um intervalo de tempo.
Imagem: Marcos Santos / USP Imagens