UE estuda estender sozinha o Protocolo de Quioto
por Fabiano Ávila, do CarbonoBrasil
Pela primeira vez o bloco estaria considerando dar continuidade ao tratado, que termina em dezembro de 2012, mesmo sem a participação dos Estados Unidos e com o abandono de outros países desenvolvidos, como Japão e Canadá.
Uma mudança na postura da União Européia (UE) trouxe esperança para a rodada de negociações climáticas das Nações Unidas que está sendo realizada na cidade alemã de Bonn.
A delegação européia deixou transparecer que está estudando a possibilidade de estender o Protocolo de Quioto para além de 2012, mesmo sem o apoio de outros países desenvolvidos.
“A UE está deixando claro que está preparada para entrar no segundo período de compromisso sob Quioto e que muitos países do bloco são a favor da extensão do Protocolo mesmo sem a participação dos Estados Unidos, Canadá, Rússia e Japão”, afirmou Julie-Ann Richards, que acompanha as negociações como enviada da Climate Action Network.
Dessa forma, as negociações voltaram a caminhar, ainda que lentamente.
Para agilizar as conversas, as pequenas nações insulares cobraram que apenas os países interessados na extensão de Quioto deveriam participar das negociações sobre o Protocolo. Diante disso, Canadá e Japão adotaram uma posição mais receptiva, o que fez com que o tema voltasse a fluir.
“Muita coisa está acontecendo em negociações paralelas, existe mais entusiasmo do que antes. Apenas a Rússia ainda não se manifestou”, detalhou Richards.
O Protocolo de Quioto, que entrou em vigor em 2005, obriga os países industrializados a reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEEs), durante o período de 2008 a 2012, em uma média de 5,2% em relação aos níveis de 1990. Isso representa conter cinco bilhões de toneladas de CO2. Para realizar esses cortes, eles podem comprar créditos de carbono de projetos em nações em desenvolvimento através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e da Implementação Conjunta (IC).
Queda de Braço
Com ou sem extensão do Protocolo, os EUA estão brigando em Bonn por novas regras internacionais para medir as emissões dos países emergentes.
Essa imposição dos norte-americanos, que sequer foram signatários de Quioto e já manifestaram que não assinarão uma possível extensão, irritou outras delegações.
A Índia declarou que não vai tratar de metas internas se não houver avanços nas promessas feitas em Copenhague (COP15), que falavam na liberação de US$ 30 bilhões em financiamento climático e na transferência de tecnologia para a adaptação e mitigação do aquecimento global.
O país também se mostrou contrário à proposta da União Européia que pedia que os emergentes primeiro indicassem que estavam dispostos a cumprir metas para depois ser discutida a extensão do Protocolo de Quioto.
Segundo uma reportagem do jornal The Times of India, o país se recusa a inverter os papéis nas negociações e não vai deixar o debate sobre Quioto morrer. Assim como não vai aceitar um novo acordo que trate todos os países como iguais.
As nações emergentes cobram o que chamam de “responsabilidade histórica”. Os países industrializados seriam hoje ricos justamente porque no passado sua economia cresceu alimentada pela emissão de GEEs. Agora que os emergentes estão crescendo e tirando milhões da pobreza não seria certo impedir esse processo forçando-os a adotar metas, que, entre outras coisas, poderiam elevar o preço da eletricidade.
A rodada de negociações climáticas de Bonn segue até a sexta-feira (17) e é preciso que ela avance mais nesses últimos dias do que tudo o que foi conseguido nas semanas anteriores para que seja considerada um sucesso.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)