por Vito Gemaque/Agosto 2011
foto Acervo do Pesquisador/ JORNAL BEIRA DO RIO/UFPA
foto Acervo do Pesquisador/ JORNAL BEIRA DO RIO/UFPA
Moradores da comunidade receberam cursos decapacitação e ajuda para instação de equipamentos |
Muito indicada pelas avós para tratar contusões, inchaços, reumatismos e para acelerar cicatrizações, a andiroba (Carapa guianensis) tem lugar cativo na farmácia tradicional dos povos da Amazônia. A árvore, natural da região, já teve suas propriedades fitoterápicas reconhecidas pelo Ministério da Saúde.
Um fruto da andiroba tem entre quatro e seis sementes. As famílias que vivem nas comunidades do Mutirão, no município de Igarapé-Miri, coletavam as sementes para vender sempre que aparecia alguém interessado em adquiri-las. Essa era uma alternativa de renda para as famílias que vivem, principalmente, da colheita do açaí.
O quilo da amêndoa da andiroba é vendido por R$0,20. Com as sementes transformadas em óleo, o preço sobe para R$10,00 por litro, representando uma diferença de R$9,20 já que, para produzir cada litro, são necessários quatro quilos de amêndoa. Os extrativistas faziam seus negócios sem perceber a capacidade de renda que poderiam ter.
Para reverter essa situação, foi implementado o Projeto de Extensão "Capacitação de comunidades do Baixo Tocantins para a exploração de plantas oleaginosas com foco na geração de renda e inclusão social", coordenado pela professora Nadia Cristina Fernandes, do Laboratório de Operações de Separação (LAOS) do Instituto de Tecnologia (ITEC), com financiamento do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA).
As ações foram desenvolvidas de dezembro de 2007 a junho de 2010, em parceria com a Associação do Mutirão, que reúne 22 comunidades. Uma pequena unidade de extração de óleo vegetal foi instalada para beneficiar as sementes coletadas e aumentar a renda das famílias.
Óleo pode ser aproveitado em cosméticos e biodiesel
O óleo da andiroba possui componentes que o qualificam como uma alternativa viável em diversos setores, pois, além dos poderes fitoterápicos, ele pode ser usado na produção de cosméticos e de biodiesel. Por ser uma espécie nativa, está em vantagem frente a outras plantas oleaginosas exógenas, como o dendê, a soja, o girassol e o peão-manso, mais suscetíveis às pragas. Essas qualidades garantem ao produtor o retorno do investimento.
Outro fator faz com que a andiroba atenda perfeitamente aos moradores do Mutirão: o florescimento da árvore ocorre na estação chuvosa e a colheita de frutos pode ser realizada no período de janeiro a julho, o qual corresponde a entressafra do açaí.
Apesar dos aspectos favoráveis, a andiroba não era vista como uma fonte de renda pela comunidade. Os moradores já tinham os equipamentos necessários para a extração do óleo, doados pelo Plano de Assistência da Eletronorte, mas não possuíam treinamento para instalação e uso das máquinas. A equipe de pesquisadores da Universidade verificou a situação e avaliou a possibilidade de implantação da unidade de extração de óleo.
A produção poderia chegar a 20 litros por dia. Em 100 dias, a Unidade poderia gerar uma renda de R$20 mil. Se fossem vendidas in natura, a mesma quantidade de sementes renderia apenas R$1.600,00. Para o professor Luiz Ferreira de França, o desconhecimento dessa possibilidade de aumentar a renda com a planta é um dos principais empecilhos para que comunidades como as do Mutirão não valorizem a andiroba.
"A extração do óleo não é complicada, o que falta é a informação sobre o sistema de processamento, que tem início com a coleta e a seleção das melhores sementes", afirma o professor do Laboratório de Operações de Separação (LAOS).
Qualificação da mão de obra
Todas as etapas do Projeto foram realizadas em parceria entre os pesquisadores e a Associação do Mutirão. O primeiro passo foi a reunião para decidir onde a unidade de extração seria implantada. A sede da Associação foi o mais indicado.
Em seguida, foram feitos levantamentos sobre a situação socioeconômica dos ribeirinhos, os equipamentos disponíveis e a potencialidade dos frutos oleaginosos presentes na região. Nesta etapa, foram verificados dois problemas principais: a necessidade da manutenção dos equipamentos e a qualificação da mão de obra local.
Os equipamentos estavam há quase dois anos guardados e sofreram desgastes. Após uma avaliação, eles passaram por limpeza, manutenção e testes. Cursos de técnicas básicas de análise, produção de óleos vegetais e controle de qualidade foram ofertados para a população.
Só então o Projeto montou a infraestrutura necessária para a extração do óleo com a construção de um galpão de processamento e do secador solar, a instalação da prensa, do filtro-prensa e do sistema de conversão da energia elétrica para essas máquinas, que funcionam com energia trifásica, e a aquisição de um moinho.
Projetos precisam de apoio
De acordo com o professor Luiz França, para que a andiroba tenha um melhor aproveitamento e seja fonte de renda para a comunidade, é necessário que os órgãos e as instituições desempenhem seus papéis.
Às universidades públicas, como a Universidade Federal do Pará, a Universidade Federal Rural da Amazônia e a Universidade do Estado do Pará, cabe elaborar pesquisas sobre o tema e desenvolver projetos que visem formar e capacitar os extrativistas. O governo deve entender que a agricultura familiar na Amazônia não se restringe apenas a plantio de feijão e arroz, mas também envolve o extrativismo. Investimentos nesse tipo de projeto podem, inclusive, mudar o conceito errôneo que se tem sobre o extrativismo.
"Aqui, nós vivemos de extrativismo, o que nós devemos melhorar é a maneira como ele é praticado. Existe aquele extrativismo arcaico, que precisamos superar para chegarmos ao extrativismo com tecnologia. Nós podemos fazer manejo e plantio de mudas sem precisar mexer com o ecossistema", explica o professor.