Majestade branca
Conheça melhor essas aves que fazem do Parque do Museu Emilio Goeldi um refúgio do mundo de concreto em que a cidade se transformou
Agência Museu Goeldi
Possivelmente, ela é uma das aves mais elegantes na natureza. Veja, por exemplo, como o dicionário a descreve: “com cerca de 88 cm de comprimento, plumagem branca com enormes egretes no período reprodutivo, bico e íris amarelos, pernas [longíssimas] e dedos pretos”. Se a descrição não foi suficiente, saiba que ela é uma figura presente em diversos logradouros de Belém, desde a Praça Batista Campos, passando pelo Forte do Presépio, pelo rio Guamá – em frente ao Campus da Universidade Federal do Pará, no Bosque Rodrigues Alves e, também, no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi.
Adivinhou? Bem, para a ciência, trata-se da Casmerodius albus, mas atende também por garça-branca-grande ou, simplesmente, garça. “Em Belém, as garças se alimentam no Ver-o-Peso, namoram na Praça Batista Campos e fazem ninhos no Museu Goeldi”, brinca Messias Costa, veterinário do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), ao tentar ilustrar o lugar que esses animais ocupam no imaginário e no cotidiano da cidade. A garça-branca-grande pertence à família Ardeidae e, embora receba o nome científico de Casmerodius albus, o site BirdLife International especializado na catalogação de aves, apresenta o nome Ardea alba, como um sinônimo possível.
No cardápio de uma garça estão, devido à proximidade com as águas, peixes, anfíbios, répteis, larvas aquáticas e crustáceos. Quando caçam, podem permanecer imóveis, durante um tempo considerável, à espera da presa. Já na hora de voar, encolhem o pescoço e estendem as pernas. Geralmente, você as vê em bandos, mas é possível também que vivam em pares ou solitárias. São ativas durante o dia e no horário de crepúsculo.
Concorrência - As garças costumavam utilizar as samaúmas (ver box) do Museu como santuário para seus ninhos. No entanto, um problema recente tem mudado esse hábito: a competição com outra ave, o urubu.
Há dois anos o Parque Zoobotânico convive com o sério problema da grande concentração de urubus em diversos pontos, sobretudo nos viveiros das antas, do urubu-rei, do gavião-real, e, claro, em uma das samaúmas, localizada próxima ao Espaço Raízes. Isso tem afugentado as garças do Museu. O veterinário da instituição calcula que, atualmente, a freqüência delas represente apenas 20% do que era antes. Mesmo assim, ainda é possível vê-las paradas sobre os prédios históricos do Parque, como a Rocinha, bem como nas alamedas, “bloqueando” o caminhar dos visitantes.
Sobre os urubus, diversos procedimentos vêm sendo tomados pelos veterinários da instituição para reverter o quadro. Afinal, um dos riscos da concentração desses animais está diretamente ligado à questão sanitária, como explica Messias Costa: “os urubus, por se alimentarem de restos e morarem, por exemplo, em lixões, podem carregar consigo vírus, bactérias, fungos. Umas das doenças que podem veicular é o botulismo, intoxicação pela exotoxina de lostridium botulinum e Clostridium parabotulinum, bacilos que se desenvolvem na comida enlatada mal esterilizada, assim como em carnes, conservas e embutidos culinários também chamada alantíase
Além disso, com o tempo, os urubus se tornaram mais “ousados”, molestando os animais que vivem no Museu, perseguindo-os e, até mesmo, bicando-os. Com medidas para afugentar os urubus a partir do uso de foguetes luminosos de baixo estampido, esta situação tem sido minimizada. Hoje os poucos urubus existentes no PZB resistem e insistem em passar a noite na sumaumeira. Ao sanar totalmente essa situação, quem sabe, as garças voltem a fazer seus ninhos no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi.
Samaumeira (Ceiba pentandra (L.) Gaertn) - Na 3ª edição do Guia Botânico do Museu Goeldi, lançado em 2006, de Paulo Cavalcante, o botânico relata numa linguagem simples e acessível, informações ‘sobre as principais espécies vegetais cultivadas no Parque, ressaltando a importância econômica, farmacológica, ornamental etc, além de outros dados e curiosidades principais’. Para a Samaumeira, descreve: ‘árvore gigantesca, com amplas raízes tabulares (sapopemas), madeira branca, mole e muito leve, de pouco valor. Floresce entre julho e agosto, época em que perde todas as olhas. Em outubro, os frutos maduros libertam as sementes envoltas por uma paina muito leve,
transportadas pelo vento a grandes distâncias. Antigamente, essa paina era utilizada para enchimento de colchões e travesseiros’.
transportadas pelo vento a grandes distâncias. Antigamente, essa paina era utilizada para enchimento de colchões e travesseiros’.
Que bicho é esse? - Embora, em Belém, as garças tenham um significado especial na vida da cidade, esses animais não são endêmicos, nativos da região. Na verdade, são encontradas em todo o Brasil, sendo observadas em diferentes tipos de ambientes. Na maioria das vezes são paludícolas (bicho que vive em pântanos ou charcos) ou dependentes de águas rasas. Por isso, são comuns às margens de lagoas, lagos, rios, brejos, várzeas inundadas, represas, açudes, pantanais e manguezais.
Diego Santos