Pesquisador da UnB desenvolve “supermaracujá” mais produtivo
Em parceria com a Embrapa, o engenheiro agrônomo Marcelo Sousa ajudou a desenvolver uma variedade da fruta mais resistente a doenças e até quatro vezes mais produtiva que o maracujá “comum”
Bárbara Arato/Repórter da Secretaria de Comunicação da UnB
Uma fruta quatro vezes mais produtiva, resistente a doenças, mais nutritiva e de melhor valor de mercado é o sonho de todo produtor. Foi isso que conseguiu o pesquisador do Departamento de Fitopatologia da Universidade de Brasília, Marcelo Alves de Figueiredo Sousa, em sua tese de doutorado. Ele desenvolveu um maracujá mais tolerante a vírus, fungos e bactérias, sem o uso de agrotóxicos e quatro vezes mais produtivo que o tipo comum da fruta.
Para criar o supermaracujá, Marcelo cruzou espécies selvagens e comerciais do maracujá azedo, comum na produção de sucos, sorvetes e doces. Os retrocruzamentos dos progênies - material de teste retirado das melhores plantas - foram realizados na Fazenda Água Limpa, em Vargem Bonita (DF). Das novas plantas produzidas, o pesquisador retirou o pólen e colocou na flor da variedade de maracujá mais resistente às doenças.
Depois dos retrocruzamentos, o pesquisador produziu sementes a partir da autofecundação das plantas. “Repetimos esses cruzamentos até chegar a um produto maior, com mais polpa, com valor comercial e com resistência”, explica Marcelo. “Quanto maior o rol de doenças que o material puder abarcar, menor a necessidade de se usar agrotóxicos”, completa o professor do departamento de Fitopatologia, José Ricardo Peixoto, orientador da tese.
A metodologia desenvolvida com a Embrapa tinha o objetivo de fazer com que o pólen pudesse fecundar o sistema reprodutor feminino da flor de maracujá. Essa fecundação não acontece naturalmente. “Antes de a flor abrir, colocávamos o pólen”, diz Marcelo. Após obter a semente, o pesquisador a levava à casa de vegetação, um ambiente com condições de temperatura e umidade controladas. Em seguida, fazia a inoculação dos patógenos (vírus, fungos e bactérias) e selecionava o material mais resistente. Quando a planta crescia, era levada ao campo, onde vento e chuva se encarregam de disseminar as doenças. Em seguida, os frutos eram colhidos e tinham suas características analisadas, como cor, tamanho e polpa.
O pesquisador explica que, ao longo dos cruzamentos, a resistência inicial da planta diminui. “O problema é que, após dois anos de vida, a planta fica debilitada e o patógeno entra com mais força”, diz. Marcelo argumenta que o mesmo acontece com seres humanos. “Quando seu organismo está debilitado, maior sua vulnerabilidade a doenças”, exemplifica. As sucessivas autofecundações também diminuem o vigor da semente – ou seja, reduzem seu potencial germinativo e aumentam a probabilidade de se produzir sementes estéreis. “Não conseguimos criar uma variedade totalmente imune a doenças. O que conseguimos foi viabilizar esse fruto comercialmente, torná-lo mais tolerante”, diz.
PRODUTIVIDADE
Marcelo afirma que são produzidas, em média, 11 toneladas por hectare (ton/ha)ao ano da variedade “comum” de maracujá azedo. A variedade produzida pelos pesquisadores rende até 40 ton/ha. A estatística engloba o plantio sem o uso de agrotóxicos, já que o objetivo da pesquisa era testar a resistência das variedades sem nenhum artifício. “O produtor que faz o trato cultural pode conseguir uma produtividade até duas vezes maior”, diz.
Em 2008, a Embrapa Planaltina distribuiu algumas sementes da variedade desenvolvida pelo pesquisador entre produtores da região, em caráter experimental. Marcelo conta que fica satisfeito ao ouvir os elogios. “No meu contato com os produtores, já vieram me dizer o quanto a semente é melhor, mais produtiva. Dá um certo orgulho”, diz. O pesquisador ressaltou a importância social das pesquisas em melhoramento feitas na universidade. “É importante que a universidade trabalhe em prol do produtor. E os resultados precisam ser rápidos porque a população necessita muito disso”, diz o engenheiro agrônomo. Marcelo hoje trabalha como fiscal estadual de agricultura em Goiás, orientando produtores sobre manejo de pragas e utilização de agrotóxicos.
Chegar ao maracujá “ideal” é um trabalho que leva tempo. “É uma pesquisa que leva até 12 anos para ser concluída. Demora até a planta crescer, se desenvolver e conseguirmos listar todas as variedades”, afirma. Marcelo iniciou o trabalho com o maracujá ainda no mestrado. Foram cinco anos e meio de pesquisa, incluindo o doutorado, além do acompanhamento dos híbridos que continuam sendo produzidos. A cada ano, novos pesquisadores aperfeiçoam o trabalho. “Não deu tempo de testar tudo. Temos mais três mestrandos se dedicando à pesquisa do maracujá atualmente. Vamos continuar esse trabalho”, garante o professor José Ricardo.