A caça e as ameaças à biodiversidade
Membro do INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia, projeto Perda de Bbiodiversidade nos Centros de Endemismo do Arco do Desmatamento, Carlos Peres discute os impactos da ação humana no ecossistema amazônico e os fatores “invisíveis” que estão ausentes do debate sobre efeitos globais do desmatamento, atualmente dominado pelo tema emissões de carbono
Agência Museu Goeldi -É senso comum pensar que a manutenção da cobertura vegetal amazônica garante o equilíbrio do ecossistema e da biodiversidade, todavia, estudos demonstram que a conservação ambiental ainda é um grande desafio para a ciência.
Na palestra “Erosão da biodiversidade compromete os serviços ecossistêmicos das florestas amazônicas”, que inaugurou a programação do Museu Emilio Goeldi no Ano Internacional das Florestas, Carlos Augusto da Silva Peres, pesquisador da Universidade de East Anglia (Norwich, UK) e PhD em Ecologia Tropical e Conservação, chamou atenção para o fato de que a complexidade da floresta e sua dinâmica interna são fundamentais para o equilíbrio dos serviços ecossistêmicos, e explicou que, para além das atividades conhecidas, fatores “invisíveis” contribuem para este fenômeno.
Dentre as causas que não estão claramente aparentes, Peres destacou em sua apresentação a sobre exploração da caça, isto é, a prática de caça maior que a taxa de renovação das populações, principalmente de vertebrados frugívoros de grande porte. Após uma vasta pesquisa, com coleta de dados em 154 áreas estruturalmente conservadas da Amazônia, mas com taxas de caça variadas, o pesquisador demonstrou como a caça ininterrupta, ainda que de subsistência, interfere no nível de biomassa da área florestal, na capacidade reprodutiva das espécies vegetais e como o nível de densidade humana intensificam esta atividade.
O pesquisador explica que as análises de impacto devem, prioritariamente, considerar a caça de animais de grande porte. Apesar de, numericamente, inferiores, eles concentram a maior parte da biomassa da floresta porque ingerem mais matéria orgânica do que os animais menores. Tanto as sementes maiores como as menores são dispersas por esses animais. Quando há interferência no crescimento da fauna frugívora de grande porte, também há nas espécies de plantas das quais ela se alimenta.
Dessa forma, grande parte da biomassa é removida pela caça.. Segundo Peres, a densidade de biomassa é compensada pelo ecossistema, mas os pesquisadores desconhecem detalhes de como este processo ocorre.
Peres explicou que as áreas preservadas são as mais importantes na retenção do carbono e também as mais vulneráveis à ação antrópica. E, tratando-se de ação humana, vale ressaltar novamente que não é só o desmatamento o grande vilão deste processo. A floresta não deve ser reduzida à cobertura vegetal – ela apresenta uma série de interações e agentes representados em grande parte pelos animais, que devem ser considerados. Segundo o especialista, o maior risco observado para a manutenção dos serviços ecossistêmicos é o da degradação da biodiversidade das florestas.
O debate atual sobre a biodiversidade amazônica
De acordo com Carlos Peres, a maior preocupação no que se refere à Amazônia restrige-se à ameaça às espécies florestais por meio de diferentes níveis de perturbação humana. Por isso, é necessário ampliar o debate com a sociedade incluindo toda biodiversidade amazônica o que, segundo ele, é hoje “praticamente inexistente”.
A mobilização para reverter este cenário depende, para Carlos Peres, dos próprios amazônidas: “A responsabilidade é nossa. O destino da Amazônia está nas mãos do homem da Amazônia (...) Por meio de lideranças de pesquisas e maior engajamento de políticas públicas é que teremos certeza de que a Amazônia do presente-futuro será bem manejada”.
A palestra foi transmitida ao vivo via web pelo projeto Labcom Móvel/SCS/MPEG, mas pode ser acessada no arquivo em mp3 disponivel no site do INCT - Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia. Assim como uma entrevista em vídeo com Peres, que aborda questões relacionadas ao debate público no tema conservação da Amazônia e manejo florestal.
Texto: Luena Barros