Óleos essenciais: pelo desenvolvimento sustentável de Nova Friburgo
Débora Motta
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Extraídos a partir de plantas aromáticas, os óleos essenciais
podem ser opção para o desenvolvimento de Nova Friburgo
Uma mistura de substâncias voláteis extraída de plantas pode ser uma alternativa para impulsionar o desenvolvimento sustentável de Nova Friburgo. Trata-se do óleo essencial, matéria-prima importante para as indústrias cosmética e farmacêutica, além de largamente utilizado em práticas terapêuticas, como a aromaterapia.
O projeto Aromas da Mata Atlântica – coordenado pela empresa Entrefolhas, ligada à incubadora de empresas inovadoras Origem, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) – propõe o cultivo de plantas aromáticas da região e a extração de óleos essenciais delas. Contemplada pela FAPERJ em 2010 com o edital Apoio ao Desenvolvimento de Modelos de Inovação Tecnológica Social, a iniciativa já vem gerando impactos positivos na região, tanto sociais como ambientais.
De acordo com a empreendedora Regina Célia Braga, da Entrefolhas, a região de Nova Friburgo tem clima favorável e um enorme potencial para o plantio em grande escala de ervas aromáticas e para a produção de óleos essenciais a partir delas. "O objetivo é consolidar parcerias com pequenos produtores rurais em um projeto que inclui a implantação de cultivo em sistema orgânico. Com isso, agregar valor à agricultura regional e ajudar Nova Friburgo a se tornar um pólo de extração de óleos essenciais do Estado do Rio de Janeiro", afirma a terapeuta corporal.
Aproveitando as características regionais favoráveis, ela decidiu promover o cultivo de espécies nativas ou historicamente presentes em Nova Friburgo e adjacências. "Entre as espécies que cultivamos, estão a erva cidreira (Lippia alba) e a Mentha arvensis, ambas bem adaptadas ao local. Pesquisamos a extração de óleos de espécies nativas da Mata Atlântica, como o alecrim-do-campo (Baccharis dracunculifolia) e a espinheira santa (Maytenus ilicifolia), além de outras com comércio garantido, como Rosmarinus, Pellargonium e Patchouli", detalha.
Para cultivar essas espécies, foram selecionados até o momento 22 pequenos proprietários rurais. Cada um deles recebe treinamento técnico específico para plantar em suas propriedades as mudas preparadas e distribuídas pela Entrefolhas, segundo os critérios da produção orgânica (sem agrotóxicos). "A tecnologia de cultivo orgânico é repassada aos produtores locais por meio da capacitação deles e da assistência técnica agronômica", conta Regina.
Para estimular a adesão dos agricultores ao projeto, a empresa oferece garantia de compra das plantas que serão matéria-prima para a extração dos óleos essenciais. "Fechamos contratos com os agricultores para garantir a compra de toda a produção deles durante um ano, o que evita que eles tenham prejuízos".
Impactos sociais e ambientais
O projeto vem trazendo benefícios sociais para a população rural de Nova Friburgo, como emprego e renda. "Uma das principais características do óleo essencial é o elevado valor agregado ao produto. O plantio dessas espécies permite rendimentos significativos em pequenas áreas de cultivo, sendo uma excelente opção para os pequenos agricultores rurais e gerando novos empregos, melhorias de condições na economia das famílias rurais da nossa região e desenvolvimento sustentável", justifica Regina Braga.
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Embalagem rústica de fibras vegetais e material reciclado valoriza o artesanato produzido por comunidade do local
Ela ressalta que a necessidade de movimentar a economia local torna-se mais evidente ainda depois dos deslizamentos de terra causados pelas fortes chuvas, que afetaram a região no início de 2011. Outra forma de envolver a força de trabalho da região foi o fechamento de uma parceria para a produção de embalagens especiais para os óleos, concebidas segundo critérios ecologicamente corretos. “As embalagens ganharam novas atribuições. Elas são personalizadas com o artesanato produzido por mulheres da comunidade de Galdinópolis, com fibras vegetais e materiais reciclados”, diz a empreendedora.Depois da etapa do cultivo e da coleta das plantas, o próximo passo é o processo de extração dos óleos essenciais, realizado no laboratório da própria Entrefolhas, que deve ser incrementado com a chegada de um destilador de maior porte. "Com o apoio da FAPERJ, em breve vamos trabalhar com o destilador D-100, capaz de comportar 100 kg de plantas durante cada operação para extração de óleos essenciais", adianta. "Poderemos obter uma média de 600 a 800ml de óleo essencial para cada uma hora e meia do processo de extração", estima.
Outro desdobramento do projeto é a preservação ambiental.
"O trabalho junto às comunidades rurais, na troca de conhecimentos das plantas medicinais da flora local, no preparo e uso de suas aplicações, contribui para a conscientização ambiental da população e de seus valores patrimoniais naturais", explica a empreendedora. Nesse intuito, a recuperação de áreas degradadas da Mata Atlântica também se destaca. "Nas propriedades rurais responsáveis pelo cultivo das plantas, há um cuidado de reativar solos degradados por desmatamentos anteriores, por meio do plantio diversificado. Não cultivamos apenas plantas medicinais, mas prezamos pela mistura delas com outras espécies nativas para não criar uma monocultura, o que dificultaria a recuperação desses solos", destaca.
A comercialização do produto final para as indústrias que utilizam óleos essenciais, no entanto, ainda depende de alguns procedimentos técnicos e legais, como o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Depois dessa fase de trâmites legais e testes técnicos decisórios, estaremos prontos para prospectar os clientes. Estaremos abertos a parcerias nesse sentido para inserir o produto no mercado", conclui Regina Braga. Também fazem parte da equipe da Entrefolhas o sócio Leonardo Pinheiro, especialista em agricultura biodinâmica, o farmacêutico Janilson Pereira Burkhardt , o engenheiro agrônomo Beny Attias e a assistente administrativa Andrea Almeida.
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