Comunidade Nova Esperança está localizada no perímetro urbano de Manaus (Foto: Ricardo Oliveira)
Entender a realidade das comunidades que vivem em áreas urbanas, mas cultivam hábitos rurais foi o objetivo da dissertação ‘Racionalidade Produtiva e Habitus Híbrido: estudos sobre o modo de vida na Comunidade Agrícola Nova Esperança, Manaus-AM’. O estudo foi desenvolvido pelo mestre em Sociologia formado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Francinézio Lima do Amaral, com financiamento do Governo do Estado do Amazonas via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), por meio do Programa Institucional de Apoio à Pós-Graduação Stricto Sensu (Posgrad).
A Comunidade Agrícola Nova Esperança está localizada na quarta etapa do bairro Jorge Teixeira e se tornou objeto de estudo, após alguns ajustes que o pesquisador fez no projeto. Amaral informou que soube de uma horta comunitária, nas proximidades da escola em que lecionava, no bairro Val Paraíso, zona leste de Manaus. "Pedi a alguns alunos que me mostrassem onde era essa horta e tive a grata surpresa de encontrar a Comunidade Agrícola Nova Esperança. De imediato, pensei: achei o campo para minha pesquisa, pois sempre estive interessado em compreender as formas como a cidade de Manaus se estruturou, especialmente em relação à periferia, pois as investigações sociológicas sobre a vida urbana manauense ainda precisam ser aprofundadas”, relatou Amaral.
A cidade de Manaus desde os anos 1970 vem se modificando devido à criação do Polo Industrial de Manaus (PIM). A cidade recebeu uma forte demanda de migração de outros Estados, todos com o mesmo objetivo, obter a tão sonhada melhoria de vida, fazendo com que surgissem novos bairros. A Nova Esperança ainda preserva seus hábitos e a cultura do plantio familiar, porém devido à expansão e à modernidade as famílias se aprimoraram.
A nova ruralidade é debatida pelo sociólogo, pois a comunidade resiste perto do espaço urbano de Manaus, se excluindo das questões modernas e dos hábitos do homem urbano, sendo digna de apreciação. A produção de hortaliças da comunidade se tornou pioneira. Esse é um tipo de fenômeno social que vem se espalhando pelo Brasil, essa é a nova ruralidade brasileira. Anteriormente, o conceito de rural se limitava a um determinado lugar onde o modo de vida das pessoas era simples, a palavra progresso representava as cidades urbanas. Amaral vê na comunidade um novo fator econômico eficaz.
“Acreditava-se que a produção de hortaliças na cidade poderia se tratar de uma nova forma econômica de produção, mas como vemos o curso está mudando. Isso significa uma transformação do modo de vida urbano indo em direção ao campo, que conta ainda com a intervenção e apoio de políticas públicas governamentais", frisou. De acordo com Amaral, apesar da existência de um movimento, no caso, do campo para a cidade, a formação da Comunidade Agrícola Nova Esperança, foi totalmente fora do conceito que vem sendo considerado como válido para a discussão do tema. "Assim sendo, tem-se uma certa proximidade com as novas ruralidades”, frisou.
A execução do estudo partiu da investigação sobre o local para compreender melhor o modo de vida das pessoas que ali vivem. Compreender seus hábitos e o fator econômico foi fundamental para execução. Uma pesquisa etnográfica do lugar permitiu que o pesquisador fizesse um levantamento social das famílias. A partir desse ponto, alguns aspectos e peculiaridades apontados durante o projeto se fizeram valer do objetivo real de mostrar que a comunidade possui um estilo próprio de vida e social.
Uma mudança hoje já é vista em relação ao Val Paraíso, onde se encontra a Comunidade Agrícola Nova Esperança. O bairro cresceu em torno da área de cultivo das hortaliças e o crescimento da produção contribuiu para a estruturação do bairro. Outra mudança importante foi o auxílio vindo das oficinas de olericultura ministradas pelos técnicos do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam), que ajudaram a melhorar a produção com a introdução das técnicas de uso das casas de vegetação e a correta utilização dos agrotóxicos. “O uso de agrotóxicos deixou de ser importante e perceberam que não é a melhor estratégia para a produção, porém ainda faltam alguns critérios de infraestrutura a serem melhorados”, disse o pesquisador.
Apoio da FAPEAM
De acordo com o pesquisador, o estudo contribuiu ajudando a sociedade a entender a diversidade cultural que o Estado possui, mas que ainda não foi mensurada. Para Amaral, a experiência das pesquisas sobre os indivíduos da Comunidade Agrícola Nova Esperança, trouxe resultados esperados que certamente vão ajudar nas próximas pesquisas. Ele próprio define como uma experiência promissora. “Em relação à sociedade em geral, acredito que seja uma ótima oportunidade para perceberem que o Estado é rico em cultura e que ainda falta explorar. Contudo, foi uma experiência extremamente importante e que contribuiu sobremaneira com minha formação profissional e a FAPEAM, através da sua política de concessão de bolsas de estudos para a pós-graduação, foi de extrema importância, pois estimulou a realização de pesquisas mais aprofundadas e voltadas para a maior compreensão das peculiaridades do nosso Estado e da nossa região. Tenho certeza que esta pesquisa será muito importante para o meu ingresso no doutorado, futuramente”, afirmou Amaral.
Sobre o Posgrad
Esse programa consiste em apoiar, com bolsas de mestrado e doutorado e auxílio financeiro, as instituições localizadas no Estado do Amazonas que desenvolvem programas de pós-graduação stricto sensu credenciados pela Capes.
Redação: Rafaela Vieira
Edição: Jesua Maia - Agência FAPEAM