sábado, 10 de dezembro de 2011

Tese investiga mudanças nos deslocamentos populacionais em países da América do Sul

Mãos destacando a América do Sul.
O tradicional fluxo de migrações – das áreas rurais para os grandes centros urbanos – há muito não corresponde aos modelos de mobilidade populacional que prevalecem atualmente no território brasileiro. A constatação de novo padrão nas trocas migratórias internas é uma das conclusões de tese defendida em novembro pelo geógrafo Fernando Gomes Braga, no programa de Pós-graduação em Demografia da UFMG. “O estudo do fenômeno migratório passa por um choque na própria estrutura conceitual”, afirma Braga, cuja tese, organizada na forma de artigos, propõe metodologia para análise da nova realidade.
Orientado pelo professor Dimitri Fazito de Almeida Rezende, o trabalho propõe o uso do arcabouço conceitual e metodológico de análise de redes para observar as regularidades nas trocas populacionais entre as microrregiões brasileiras e delas com os países do Cone Sul. “A pesquisa, assim, assume uma perspectiva relacional para compreender a evolução e a estruturação da migração no Brasil”, explica.
O primeiro dos três artigos que compõem a tese faz análise comparativa da migração interna brasileira, com base em dados dos censos de 1980, 1991 e 2000. O autor explica que, desde a década de 1970, vêm surgindo outros modelos de mobilidade populacional além da busca pelos grandes centros. Assim, outras localidades no interior do país têm ganhado notoriedade como polos de atração populacional, transformando-se em centros controladores de redes de alta densidade, o que indica aumento da coesão da rede urbana brasileira.
Fernando Braga também aponta para o surgimento de novo padrão de circularidade, com migrações mais dinâmicas. “Antes, o retorno migratório associava-se basicamente ao fracasso do migrante nas regiões metropolitanas. Hoje, esse tipo de movimento pode estar relacionado com o crescimento de atividades econômicas de caráter cíclico e à melhora dos meios de transporte, o que estimula as migrações de curto prazo”, explica.
Entre as categorias da análise de redes trabalhadas na tese estão a densidade dos fluxos, a reciprocidade das trocas populacionais e a centralidade. O trabalho mostra que o fenômeno migratório no Brasil passa por profundas modificações, refletidas diretamente na estruturação do território, que apresenta rede urbana em pleno processo de expansão, ampliando conexões entre os espaços anteriormente periferizados.
‘Transfronteira’
Ao estudar a migração internacional que envolve Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai, o segundo artigo identifica outro padrão de migrações, específico das regiões de fronteira. A pesquisa delimitou no território brasileiro as microrregiões que compõem o chamado espaço transfronteiriço, identificado a partir da aplicação de modelos de autocorrelação espacial, aplicados às taxas de migração internacional. A propósito, o trabalho discute a oposição e a complementaridade entre os conceitos de território e fronteira – sendo esta última o espaço onde vivem e interagem as comunidades transnacionais.
Segundo o autor, até meados do século 20 o Brasil era grande receptor de migrantes internacionais. Contudo, desde a década de 1980, e pela primeira vez na história, o saldo migratório internacional do país tornou-se negativo, com o envio de milhares de trabalhadores para nações como Estados Unidos e Japão. No caso das relações com seus vizinhos da América do Sul, o Brasil vem exercendo atração regional de mão de obra.
O terceiro artigo da tese apresenta, de forma inédita, metodologia para reconhecimento das sobreposições entre a migração interna e a internacional. “A bibliografia indica que os migrantes internacionais experimentam também mobilidade interna”, diz Braga, ao destacar que sua pesquisa revelou padrão de migração interna que articula as microrregiões com alta concentração de migrantes do Paraguai. “Trata-se de um padrão que difere da migração total do país, o que indica que essa população que circula entre os países fronteiriços também cria rede de trocas internas, seja no interior da fronteira, seja na articulação com outros centros de influência regional e nacional”, reforça Fernando Braga, que tem graduação e mestrado em Geografia pela UFMG e é docente do Instituto Federal Minas Gerais – campus Ouro Preto.
Tese: Conexões territoriais e redes migratórias: uma análise dos novos padrões da migração interna e internacional no Brasil
Autor: Fernando Gomes Braga
Defesa: 10 de novembro de 2011, junto ao Programa de Pós-graduação em Demografia da Faculdade de Ciências Econômicas
Orientador: Dimitri Fazito de Almeida Rezende

*Boletim UFMG, edição 1760