Equipamentos instalados no alto da torre conseguem
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apor Pedro Fernandes / Abril 2012
foto Acervo do Pesquisador/UFPA-Jornal Beira do Rio
Desmatamentos, queimadas, ocupação desordenada do espaço, uso indevido do solo e uso de técnicas agrícolas inadequadas estão, hoje, entre as principais causas do desequilíbrio dos agrossistemas amazônicos. As ações humanas modificam radicalmente a dinâmica da natureza. As mudanças ambientais afetam diretamente as atividades agrícolas, já que estas dependem de solo e clima apropriados para se desenvolverem.
Mas, afinal, é possível aumentar a produção sem agredir o meio ambiente? Sim, para isso, as práticas inadequadas precisam ser substituídas por modelos sustentáveis de plantio, cultivo e colheita. O primeiro passo é ampliar e atualizar os conhecimentos sobre os processos climáticos, físicos, biológicos, químicos, entre outros, que regulam os agrossistemas amazônicos. Daí, a relevância de estudos microclimatológicos integrados com outras pesquisas científicas.
Diante disso, professores do curso de Meteorologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) desenvolveram a Pesquisa "Implantação de Sítio Experimental Multidisciplinar em Agrossistema na Localidade de Cuiarana – Município de Salinópolis, região nordeste do Estado do Pará", a qual integra o Projeto "Rede de Mudanças Climáticas e Ambientais do Pará: uma perspectiva de estudos integrados", vinculado à Faculdade de Meteorologia (FAMET) e ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA) da UFPA.
O sítio experimental é um núcleo de pesquisa e ensino instalado no interior de um pomar de manga- -rosa, situado entre uma pequena área urbana em expansão (agrovila) e um ecossistema costeiro de manguezal. A área foi doada à UFPA e à Universidade Rural da Amazônia (UFRA) pela família do senhor Modesto Rodrigues, após a sua morte, atendendo ao desejo de que, no local, fosse instalado um laboratório de pesquisa.
Agrossistemas multifatoriais
O sítio experimental dá suporte às atividades de campo do curso de Meteorologia, permite análises das características microclimáticas desse agrossistema e ajuda a entender como a cultura de manga reage ao clima local e como este é influenciado por ela. A partir das informações obtidas, busca-se melhorar a produção e aumentar o rendimento econômico.
Além disso, por conta do seu aspecto interdisciplinar, a pesquisa busca integrar cursos de graduação e pós-graduação da UFPA, da capital e de outros campi, bem como de outras instituições de ensino superior. Nesse sentido, a Pesquisa avalia os aspectos biológicos, morfológicos, fisiológicos, entre outros, relativos à plantação de mangueiras e às características físicas e químicas do solo.
"Os fenômenos que envolvem o agrossistema de mangueira são multifatoriais. Vamos supor que haja uma seca nessa região. O que pode contribuir para isso? Só a manga, só o capim, só o mangue? Todos os processos podem contribuir para o fenômeno e o nosso estudo integrado leva isso em consideração. Na análise, há a visão do meteorologista, do físico, do químico, do agrônomo, do estatístico, entre outros. A nossa ideia forma um contexto completo e mais elaborado, foi por isso que pensamos no aspecto interdisciplinar. Afinal, pouco se pode fazer apenas com o ponto de vista da Meteorologia", explica o coordenador da Pesquisa, professor José de Paulo Rocha da Costa.
Entre os eixos temáticos abordados, destacam-se a Micrometeorologia, estudo das variáveis climáticas (temperatura, vento e umidade) do ambiente; a Agrometeorologia, estudo do ciclo de produção e desenvolvimento da mangueira; e a Hidrologia, estudo do balanço de água e energia do solo local.
Sensores e variáveis climáticas
O principal equipamento instalado neste agrossistema de mangueiras é uma torre metálica de 20 metros de altura, chamada de "micrometeorológica". Ela está equipada com sensores para medir, de forma contínua, as variáveis climáticas do ambiente. Entre elas, radiação solar, vento, temperatura, chuva e umidade do ar. Visando à abrangência dos estudos, também foram instalados, no sítio de pesquisa, sensores para medir a temperatura e a umidade no interior do solo.
A torre micrometeorológica está instrumentada em dois níveis. A dois metros acima do solo, estão instalados os sensores de temperatura e umidade do ar e do vento (direção e velocidade). No topo da torre, além dos sensores de vento, temperatura e umidade do ar, há o pluviômetro (sensor de chuva), o saldo radiômetro (mede o saldo de radiação, ou seja, o balanço entre a radiação direta do sol, a da atmosfera e aquela refletida pela cobertura vegetal, que é utilizada nos processos físicos que se desenvolvem no agrossistema) e o piranômetro (mede a radiação global – direta e difusa - sobre o dossel do pomar).
"A torre microclimatológica é um ponto de medida das variáveis climáticas ao longo de um período, semana, mês ou ano. A partir dos instrumentos colocados na base e no topo da torre, nós temos uma noção de como é a variação do vento, da temperatura e da umidade do ar. Por intermédio deles, podemos medir, indiretamente, a variação do fluxo de energia ou de calor no ambiente", explica José de Paulo Rocha.
Desde 2010, atividades de campo da disciplina Micrometeorologia estão sendo desenvolvidas no sítio experimental e os resultados são apresentados em seminários. As práticas de 2010 e 2011 resultaram em dois Trabalhos de Conclusão de Curso e diversos artigos científicos.
Próximo passo: promover integração com a comunidade
Em campo, os alunos têm a chance de usar equipamentos próprios da Meteorologia. Ademais, a aplicação da teoria no sítio experimental promove a formação técnica integral e desenvolve o olhar crítico do aluno sobre as questões ambientais.
"Queremos que os alunos participem da instalação do instrumento, da coleta de dados (leitura dos sensores), das análises e da produção de resultados. Queremos que eles usem os dados obtidos para escrever trabalhos seguindo os padrões exigidos por congressos e revistas científicas", esclarece José de Paulo Rocha.
A proposta para 2012 é integrar a Pesquisa às escolas da rede pública e privada da localidade. "Terminamos de instrumentar a torre recentemente e iremos coletar os dados por mais dois anos. O passo seguinte é integrar ações de extensão ao Projeto. Em Cuiarana, há escolas de ensino fundamental e essa é uma ótima idade para aprender, pois a mente está em formação. Queremos levar os alunos dessas escolas para conhecerem o sítio de pesquisa. ‘Por que pesquisar?’, ‘Qual a utilidade da pesquisa?’, são questões que eles poderão fazer", esclarece o professor.
O objetivo é promover a interação da UFPA e de outras instituições de pesquisa com a comunidade local. Está prevista a criação de uma infraestrutura com alojamentos e sala de aula no sítio experimental. Um espaço de ensino poderia ser utilizado pelos alunos da UFPA, em atividades com a população local.nalisamicroclima