segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Estudo promove o melhoramento genético de espécies agrícolas fluminenses

Elena Mandarim/FAPERJ

 Divulgação/Uenf
     
     Cultivado a partir de sementes melhoradas, pimentão passa por
     teste de resistência a principais doenças fluminenses, em campo
    
 
Cada vez mais, os estudos mostram como as hortaliças, popularmente conhecidas como legumes e verduras, são indispensáveis à alimentação. Atualmente, os nutricionistas recomendam de quatro a cinco porções por dia, para que o organismo funcione bem e se mantenha saudável. Para Rosana Rodrigues, pesquisadora do Laboratório de Melhoramento Genético Vegetal (LMGV), da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), mais do que um papel importante para a saúde da população, as hortaliças representam uma grande fatia do agronegócio no estado do Rio de Janeiro, sobretudo como uma boa opção para pequenos e médios produtores. Por meio do edital Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regial, da FAPERJ, ela coordena projetos que objetivam o melhoramento genético do tomate, da abóbora e do pimentão, para a obtenção de cultivares resistentes a patógenos – vírus, bactérias, fungos e nematóides –, que infectam e comprometem a produção agrícola. “Já estamos na fase final, na qual identificamos as melhores linhagens de sementes, resistentes às principais doenças da região, que neste momento estão sendo testadas em campo”, adianta a pesquisadora.

Segundo Rosana, melhoramento genético, resumidamente, é uma sequência de três fases: primeiro, identificam-se espécies que apresentam as qualidades desejadas, por exemplo, uma resistente a determinada praga e outra que tenha frutos grandes; depois, faz-se o cruzamento entre elas; por fim, testa-se se o novo genótipo é viável e se reuniu as características selecionadas. “É preciso repetir essa sequência diversas vezes e ir selecionando as características desejadas, para se chegar a um material melhorado, resistente a vários patógenos e que ainda forneça bons produtos. É um trabalho de médio a longo prazo, que engloba várias fases e vários testes”, diz.

A pesquisadora explica que quanto mais diversificadas forem as amostras de sementes disponíveis, mais fácil fica produzir uma cultivar melhorada. Ela conta que, associado à parte prática dos projetos, existe uma constante atualização do banco de sementes do LMGV. “Estamos sempre preocupados em manter as espécies que temos saudáveis e sempre buscando novas fontes de germoplasma, seja por meio dos cruzamentos que fazemos, seja por intercâmbio com outras instituições nacionais e internacionais”, relata.

Para Rosana, a principal vantagem desses estudos é alcançar uma produção agrícola que dispense ou  reduza o uso de agrotóxicos. Ela explica que esse método de controle de patógenos é prejudicial ao produtor, que frequentemente não se protege adequadamente. É ruim também para os consumidores, já que os alimentos muitas vezes são oferecidos sem que se respeite o período de carência do agrotóxico – tempo necessário para a toxicidade acabar. E contamina ainda o meio ambiente.

De acordo com a pesquisadora, outro fator positivo é obter cultivares resistentes a alguns tipos de vírus, para os quais não existem outras formas eficientes de controle, nem mesmo os agrotóxicos. “Em alguns casos, o melhoramento genético das sementes é a única maneira de proteger a produção agrícola”, diz.

Resultados

De acordo com Rosana, entre as doenças consideradas mais destrutivas da cultura do pimentão, por exemplo, cita-se a mancha-bacteriana, causada pela bactéria Xanthomonas euvesicatoria, responsável por perdas significativas para os produtores. Ela conta que a partir do cruzamento entre uma espécie de pimentão e uma de pimenta, foram obtidas 18 linhagens recombinadas que se mostraram promissoras para a resistência à mancha-bacteriana, com aumento na qualidade dos frutos.
Divulgação/Uenf
 
Na avaliação de diversas linhagens de abóbora, as quatro mais
promissoras em laboratório estão no campo para novos ensaios
      
 
Após as análises das 18 linhagens, foram identificadas cinco resistentes à mancha-bacteriana e com alta produção de frutos, que estão em campo para realização de testes denominados de Valor de Cultivo e Uso (VCU). “Os testes são exigidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para que a nova cultivar seja registrada e posteriormente possa ser lançada como alternativa aos produtores”, conta. “Os resultados estão publicados nos periódicos Ciência e Agrotecnologia e Ciência Rural e já foram apresentados, em parte, na 20th International Pepper Conference
Nos estudos com tomates, Rosana explica que a mancha-bacteriana, causada por diversas espécies de Xanthomonas spp, é o principal patógeno e que em regiões tropicais e subtropicais sua presença endêmica. “As plantas contaminadas têm desenvolvimento e produção reduzidos quando comparadas a plantas sadias. Os métodos convencionais de controle, como agrotóxicos, não têm se mostrado eficientes”, conta.

Em sua pesquisa, três genótipos descritos previamente na literatura como resistentes a mancha-bacteriana do tomateiro foram testados. Segundo Rosana, um deles se mostrou resistente a três raças de Xanthomonas e outro a apenas uma. “A partir dessa identificação, realizamos alguns cruzamentos e obtivemos duas combinações híbridas com potencialidade para serem resistentes a mancha-bacteriana, que estão sendo utilizadas em análise moleculares e testes de campo”, diz. “Os resultados estão publicados na forma de artigos científicos nos periódicos Journal of Phytopathology e Crop Breeeding and Applied Biotechnology”, relata.
Sobre a produção de abóbora, Rosana conta que os trabalhos de melhoramento efetuados com essa cultura são escassos e não têm uma continuidade adequada.  Em 1986 teve início o programa de melhoramento de abóbora na Estação Experimental de Itaguaí, Pesagro-Rio, e posteriormente na Uenf, onde os trabalhos continuam sendo realizados.
De acordo com a pesquisadora, está sendo avaliado o comportamento de diversas linhagens de abóbora, levando em consideração produtividade, características internas e externas dos frutos, resistência a pragas e doenças, entre outros, sempre visando à produção de novas cultivares. “Em nossas análises, quatro linhas se mostraram altamente promissoras em laboratório. Agora, encontram-se no campo para realização dos ensaios de avaliação de Valor de Cultivo e Uso (VCU)”.
Rosana destaca a participação de Nilton Rocha Leal, professor titular da Uenf; Cláudia Pombo Sudré, técnica de nível superior; José Manoel de Miranda, técnico de nível médio; Cíntia dos Santos Bento e Sarah Ola Moreira, doutorandas; Graziela da Silva Barbosa, mestranda; Rebeca Lourenço de Oliveira, bolsista de iniciação científica. Contou também com a participação da Maria Luíza de Araújo da Estação Experimental de Seropédica da Pesagro-RIO.
As hortaliças, diferentemente dos grãos, ocupam áreas pequenas e têm grande inserção na agricultura familiar, produzindo aproximadamente 15 milhões de toneladas de produtos anualmente. Seu cultivo gera cerca de 2,5 milhões de empregos no campo.  Para Rosana, o lançamento de novas cultivares resistentes a doenças e adaptadas às regiões Norte e Noroeste do Rio de Janeiro contribuirá para um manejo agroecológico mais eficiente na produção de alimentos nessas regiões.

As pesquisas desenvolvidas pela pesquisadora se mostram relevantes, levando em consideração que as três culturas – tomate, abóbora e pimentão – possuem grande importância para o pequeno e médio produtor da região Norte-Noroeste do Rio de Janeiro, sendo que São João de Ubá é um dos principais produtores de tomate do estado. Rosana ressalta, contudo, a importância de se disseminar, pelos campos agrícolas, métodos paliativos de produção, como o manejo e armazenamento adequados.