Os animais são fundamentais na dispersão (semeaduras) de sementes de plantas na região do Baixo Japurá, no Médio Solimões (AM). A constatação foi obtida por meio de uma pesquisa inédita realizada nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável do Amanã e Mamirauá, no município de Maraã, próximo à cidade de Tefé (550 km distante de Manaus).
Durante a pesquisa, ficou evidente que tanto animais aquáticos (peixes) quanto aves (tucanos e araras) e primatas (macacos) têm um papel essencial na dispersão de sementes nas florestas da Amazônia.
Com o apoio do Programa de Apoio à Participação em Eventos Científicos e Tecnológicos (Pape) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Estado do Amazonas (FAPEAM), a doutora em Zoologia e Ecologia, Luciane Lopes de Souza, apresentou na 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Natal (RN), os resultados do projeto por meio do artigo científico "Síndromes de dispersão, abundância e distribuição das espécies de plantas lenhosas no baixo Rio Japurá".
O estudo verificou três tipos de floresta: de várzea, de terra firme e de igapó. Nelas, a zoocoria (semeadura por animais) foi o mecanismo predominante de dispersão de sementes . "Espécies com dispersão por vetores bióticos (animais) e abióticos (vento e água) foram relativamente comuns em todos os tipos de florestas", explicou a pesquisadora.
Souza explicou ainda em seu trabalho, gerado a partir da tese de doutorado "Ecologia das Florestas do Baixo Japurá", que a região do Baixo Japurá é formada por um mosaico constituído de florestas de terra firme, florestas de várzea e florestas de igapó. "As espécies dessas florestas diferem-se devido a suas síndromes de dispersão (conjunto de características morfológicas que plantas usam para atrair seus dispersores), abundância e distribuição na paisagem", disse.
O estudo investigou se plantas que apresentam diferentes síndromes de dispersão de sementes também se diferem em termos de abundância e distribuição e se as plantas mais abundantes localmente são as mais amplamente distribuídas na paisagem. "Verificamos que quando a floresta inunda, os peixes vêm junto com a água e se alimentam levando sementes com eles. Esses peixes são, por isso, chamados de frutívoros", afirmou Souza.
Métodos
De acordo com a pesquisadora, que também é professora do Centro de Estudos Superiores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) de Tefé, o estudo foi realizado com dados coletados em levantamentos florísticos das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Amanã e Mamirauá, as quais abrangem uma área de 3,474 milhões de hectares, o equivalente a 14,15% da área total do Corredor Ecológico Central da Amazônia do qual fazem parte.
"Foram realizadas coletas de frutos, observação de eventos de frugivoria e consultas à literatura especializada. Além disso, foram gerados Índice de Abundância (IA) e Índice de Distribuição (ID) por espécie de cada ambiente", explicou a pesquisadora.
Sobre o Pape
O Programa de Apoio à Participação em Eventos Científicos e Tecnológicos (Pape), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), consiste em apoiar, com passagens aéreas, pesquisadores e estudantes de graduação ou pós-graduação, para apresentarem trabalhos em eventos científicos e tecnológicos nacionais e internacionais.
Foto1: Dra. Luciane Souza durante sessão de pôsteres da 62a SBPC (Foto: Giovanna Consentini/Ag.Fapeam)
Foto2: Florestas de igapós das RDSs de Amanã e Mamirauá (Foto: Divulgação)
Por Cristiane Barbosa – Agência Fapeam