Parque do Morro do Diabo é opção de área ecológica no oeste paulista
Situado em Teodoro Sampaio, o local é a maior reserva de Mata Atlântica do interior paulista. Em breve ganhará mirante
Com área aproximada de 33 mil hectares, o parque tem como principal atrativo, o Morro do Diabo
O oeste paulista é carente de áreas remanescentes de antigas florestas, especialmente as abertas à visitação pública. Um dos raros casos é o Parque Estadual do Morro do Diabo (PEMD), situado no município de Teodoro Sampaio, Pontal do Paranapanema. A unidade de conservação, administrada pela Fundação Florestal, órgão da Secretaria do Meio Ambiente, é a maior reserva de Mata Atlântica do interior paulista.
O Parque Estadual do Morro do Diabo é a maior reserva de Mata Atlântica do interior paulista
Com área aproximada de 33 mil hectares (equivalente a 33 mil campos de futebol), o parque tem como principal atrativo, conforme o próprio nome indica, o Morro do Diabo. Para chegar ao morro, a trilha (com 1,7 quilômetro de extensão) começa na SP-613, rodovia que corta 14 quilômetros da unidade. Do topo do morro (de 250 metros), é possível ter visão de todo o parque, inclusive de parte do trecho de 40 quilômetros que margeia o Rio Paranapanema, um dos seus limites.
Com capacidade diária de 50 visitantes, essa trilha, a partir de agosto, será fechada, para reestruturação e contenção de erosão. O topo do morro também ganhará um mirante, seguindo todos os critérios necessários, informa a diretora do parque, Andréa Soares Pires. Todas essas obras são resultado de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), determinado pelo Ministério Público. Os recursos virão de empresa da região, responsável por incêndio que, entre outros danos, matou duas onças.
Riqueza e biodiversidade
Destaque da unidade ainda são outras quatro trilhas e um pequeno museu (com animais empalhados e maquete da região), situados próximos da sede. A trilha da Lagoa Verde (de 500 metros), por exemplo, única que não necessita de guia, tem como característica uma pequena ponte pênsil sobre um lago coberto por plantas aquáticas. As demais são a do Barreiro da Anta (1,7 quilômetro), do Paranapanema (de 2,5 quilômetros) e das Perobeiras (de 3,5 quilômetros).
Como ocorre hoje com a rodovia, antigamente o parque era seccionado pela Estrada de Ferro Sorocabana, conhecida por Ramal Dourados. Apesar de desativada há anos, ainda não foi encoberta completamente pelo mato. Por isso, a previsão é criar uma trilha paralela ao traçado da ferrovia, para que turistas possam visitá-la.
A riqueza e biodiversidade do PEMD são enormes, segundo Andréa. "Temos vários exemplares de fauna, desde mamíferos topo de cadeia (como a onça-pintada) até espécies ameaçadas de extinção (como o mico-leão-preto)", exemplifica. A vegetação predominante, informa a diretora, é a Mata Atlântica de interior (ou floresta estacional semidecidual), a mais ameaçada da Mata Atlântica. "E, pelo fato de o local ser um fragmento de biodiversidade na paisagem da região, é importante conservá-lo a todo custo", afirma.
Felinos e primatas
A estimativa é que vivam na unidade de 15 a 20 onças (somando as pintadas, pretas e pardas), além de jaguatiricas e outros felinos. Também são encontrados primatas como o macaco-prego e o bugio. O mico-leão-preto, espécie endêmica do Estado de São Paulo, tem sua maior população no parque. "Específicos ainda do local são o peixe Trichomycterus diabolus e a borboleta Selenophanes cassiope guarany", diz Fabio de Oliveira Prado, monitor ambiental. Em termos de flora, a unidade contém a maior população de peroba-rosa do sudeste brasileiro. Além disso, contabiliza 426 espécies catalogadas de borboletas.
Até 2004, o PEMD recebia por ano cerca de 2 mil visitantes. Hoje, como resultado de reestruturação empreendida pelo Programa de Uso Público, esse número saltou para 20 mil, diz Andréa. Os visitantes são estudantes do ensino fundamental a universitários. Mas esse perfil tem se alterado. Nos finais de semana, muitas famílias estão descobrindo o parque como local de recreação e lazer.
A maior ameaça ao lugar, em especial à sua biodiversidade, é a SP-613, que liga o Mato Grosso do Sul e o Paraná ao Pontal do Paranapanema, destaca a diretora da unidade. Essa rodovia é a principal responsável pelos atropelamentos (seguidos de mortes) de animais. Isso porque a estrada serve de desvio, principalmente para caminhoneiros, que trafegam em geral à noite, quando os animais mais circulam pela pista.
Acordo
Entretanto, desde 2008, com a transformação desse trecho da via em estrada-parque, e a consequente colocação de portais e placas educativas, os atropelamentos diminuíram. Em 2007, por exemplo, 10 animais morreram na pista. Em 2009, foram dois. E, neste ano, constatou-se apenas um óbito. O ideal, porém, de acordo com Andréa, é que esses acidentes não ocorram. "Por ser totalmente isolado, cercado de cana e pasto, o parque é um refúgio dos animais, uma espécie de Arca de Noé. Se morre uma onça, entre 20, você perde parte considerável da população. Se é uma anta que está amamentando, na verdade perdemos dois indivíduos: a mãe e o filhote", argumenta.
A expectativa para impedir ainda mais esses atropelamentos é um acordo, a ser firmado entre as secretarias do Meio Ambiente e dos Transportes. O documento compreenderia, entre outras medidas, maior fiscalização do local e instalação de radares (fixos e móveis).
Ameaças também ao parque são a caça e a pesca, embora tenham sido minimizadas nos últimos anos. Os guardas procuram coibir, mas o efetivo ainda é reduzido para o tamanho do território. A diminuição dos recursos humanos, por sinal, é um dos maiores problemas enfrentados pela unidade. No total são 34 funcionários (nove vigilantes ou guarda-parques, oito administrativos e 17 da parte de manutenção em geral).
A origem do nome
Criado em 1941 como reserva florestal, o Parque Estadual do Morro do Diabo passou à categoria de parque estadual em 1986. A expressão Morro do Diabo já figura em mapas e relatos das primeiras expedições que o engenheiro e geógrafo Teodoro Fernandes Sampaio realizou na região do Pontal do Paranapanema, no final do século 19. Uma das supostas origens do nome é a seguinte: um grupo de bandeirantes que capturava índios para escravização teria sido morto por uma das tribos locais e suas cabeças cortadas e espetadas em lanças. Quando nova expedição retornou à região teria se deparado com a cena e atribuído o que viram ao diabo. Outra suposição é que, antes, as extremidades do topo do Morro seriam mais acentuadas, dando o aspecto de chifres.