Trabalho internacional publicado na revista Precambrian Research revelou o passado remoto de uma antiga cadeia de montanhas na região da crosta terrestre a que hoje damos o nome de Nordeste brasileiro. Liderada pelo geólogo Elson Oliveira, do Departamento de Geologia e Recursos Naturais do Instituto de Geociências da Universidade de Campinas, a pesquisa aponta que a já erodida formação montanhosa chamada de Cinturão Sergipano data de aproximadamente 600 milhões de anos.
Sua formação teria durado cerca de 300 milhões de anos, fazendo parte da construção do supercontinente Gondwana, que unia os atuais continentes da América do Sul, África e Antártica, bem como a Índia e a Austrália.
Pelo consenso da geologia atual Gondwana, o supercontinente que existia no hemisfério sul há 200 milhões de anos, fazia parte de Pangeia, um dos vários supercontinentes que teoricamente uniram todas as massas terrestres no nosso planeta ao longo de sua história. O estudo propõe que a formação montanhosa do Cinturão Sergipano tenha se iniciado há mais ou menos 980 milhões de anos, quando duas placas tectônicas se chocaram e iniciaram o atualmente bem conhecido processo de formação de montanhas.
Nos 300 milhões de anos seguintes, a região passou por diversas acreções e interações com estruturas próximas. Desde então (mais ou menos 540 milhões de anos) a construção da cadeia de montanhas cessou e passou por um constante processo de erosão que praticamente deixou apenas vestígios do que antes havia sido uma cordilheira.
Para Oliveira, a cadeia montanhosa do Cinturão Sergipano "é o resultado de um processo parecido à formação da cordilheira do Himalaia no continente asiático".
O Himalaia se formou a partir da colisão entre as placas tectônicas indo-australiana e a euroasiática. Separando-se de Gondwana, estima-se que a Índia tenha colidido com a Ásia há 45 milhões de anos e iniciado neste período a formação da cordilheira. "Neste estudo, conseguimos caracterizar rochas sedimentares e magmáticas formadas em ambiente oceânico, nas zonas de colisão de placa oceânica com placa continental", afirma o geólogo.
Evidências semelhantes à encontrada no Sergipe podem ser observadas na parte paquistanesa do Himalaia, que é o resultado de um primeiro momento de colisão entre regiões que estiveram sob o oceano. Oliveira afirma que "é por meio da geoquímica que conseguimos saber em que condição uma rocha foi formada, se foi sob o oceano ou não. Calcário e basalto, que encontramos na região, são evidências de que parte do Cinturão Sergipano teve sua formação sob o oceano".
O estudo também mostra indícios da colisão posterior entre os continentes. "Encontramos dobras e granitos típicos de colisão de continente com continente, que só ocorreram bem depois da colisão entre as regiões oceânicas", ressalta Oliveira.
A tectônica de placas
A hoje amplamente aceita teoria da tectônica de placas surgiu apenas na segunda metade do século XX, quando a comunidade geológica começou a reunir substanciais evidências que corroboravam a hipótese de deriva continental defendida no começo do século por Alfred Wegener.
Como muitos outros antes dele, Wegener notou que havia uma semelhança entre os contornos da costa brasileira e da costa ocidental africana. No entanto, foi o primeiro a propor seriamente a hipótese da deriva continental – ou seja, a de que os continentes sulamericano e africano haviam formado, há muitos milhões de anos, um único supercontinente e, em algum ponto do passado geológico, se separaram gradualmente até chegarem às distâncias atuais.
A hipótese de Wegener, inicialmente ridicularizada e sem evidências que a sustentassem, só foi levada a sério após a descoberta de falhas geológicas nas plataformas oceânicas e a constituição de uma teoria que explicava os movimentos na crosta terrestre por meio de grandes placas tectônicas.
Outros indícios também foram decisivos para que a teoria ganhasse força, como fósseis de espécies terrestres extintas coletados em continentes diferentes, hoje separados por vastos oceanos. A tectônica de placas explica satisfatoriamente desde a deriva continental até terremotos, vulcões e a formação de cadeias montanhosas.
Para Oliveira, "atualmente, a discussão na comunidade internacional é sobre quando iniciou a tectônica de placas como nós a conhecemos hoje. A maioria dos dados revela que a partir do final do Pré-cambriano (entre 1 bilhão e 550 milhões de anos atrás) a tectônica de placas já era semelhante à tectônica atual".
Sobre o que causa os movimentos das placas tectônicas, ainda não há consenso: "Para a maioria dos geocientistas, o que produz a movimentação das placas é a convecção do manto espécie de deslocamento de material na camada intermediária entre o núcleo e a crosta terrestre por conta de diferenças em sua temperatura.
Um grupo minoritário de pesquisadores acha que o movimento das placas pode ser explicado por expansão da Terra", explica o geólogo, lembrando que a tecnologia atual poderá ajudar a solucionar este mistério. Com as técnicas modernas de localização por GPS de alta precisão será possível discutir se a Terra está se expandindo ou não. |