segunda-feira, 1 de novembro de 2010

ACIDIFICAÇÃO DOS OCEANOS DESORIENTA PEIXES

Acidificação do oceano faz com que peixe-palhaço vire presa fácil

Estudo mostrou que conforme aumenta concentração de dióxido de carbono na água, larvas de peixe ficam mais desorientadas

Maria Fernanda Ziegler, iG São Paulo Foto: Getty Images

Estudo mostrou que acidificação dos oceanos deixa peixes-palhaço desorientados



O carismático peixe-palhaço (Amphiprion percula) está ficando completamente perdido. A causa é a acidificação dos oceanos, que faz com que os adultos tenham que procurar ambientes melhores para respirar e que suas larvas tenham índice de mortalidade de cinco a nove vezes mais alto que em áreas sem acidificação.

O peixinho, que ficou conhecido mundialmente por causa do filme “Procurando Nemo”, na verdade, sofre duas vezes pela acidificação dos oceanos. Isto porque ele habita corais, que correm risco de desaparecer não só pelo aumento da temperatura nos oceanos, como também por causa da acidificação. A queda no PH da água provoca a menor fixação do cálcio.

O estudo de pesquisadores australianos e canadenses é o primeiro a analisar os efeitos da acidificação em espécies não calcificadas, como o peixe palhaço. Eles, quando estão em fase larval, se orientam por componentes químicos da água a fim de encontrar ambientes favoráveis para seu desenvolvimento, longe do ataque de predadores. Com a alteração química da água – provocada pelo excesso de CO2 na superfície do oceano -, eles perdem esta habilidade e viram presas fáceis.

Foto: Getty Images
Peixe-palhaço sofre duas vezes pela acidificação dos oceanos, pois vive em áreas de coral

De acordo com pesquisadores australianos e canadenses, o problema tende a aumentar ao longo dos anos, provavelmente criando um novo cenário embaixo da água. “A acidificação nos oceanos irá crescer. Olhando os dados vemos que cada vez mais CO2 é emitido na atmosfera e como consequência nos oceanos, tentamos com o estudo, prever o que pode acontecer”, disse ao iG Douglas Chievers, professor da Universidade de Saskatchewan, no Canadá e um dos autores do estudo publicado no periódico científico Proceedings of the National Academy of Science (PNAS).

O estudo

Pesquisadores combinaram testes em laboratório e análises de campo para provar que os altos níveis de CO2 na água, esperados para ocorrer no oceano nos próximos anos, alteram o comportamento dos peixes. Foram quatro concentrações analisadas: 390 ppm (análise controle), 550 ppm, 700 ppm, e 850 ppm. De acordo com o estudo, a trajetória de concentração de CO2 vão exceder 500 ppm no ano de 2050 e podem alcançar 850 ppm em 2100.

A percepção olfativa dos predadores foi sendo alterada em cada concentração de CO2. As que estavam em ambiente controle e a concentrações de 550 ppm apresentaram grande capacidade de evitar predadores a partir da percepção de seu odor em todos os estágios de desenvolvimento.

A partir de 700 ppm, elas apresentaram problemas depois do quarto dia de desenvolvimento. O comportamento foi alterado, e as larvas perderam de 30% a 45% de seu tempo fugindo dos predadores. Houve variação de comportamento entre os indivíduos. Aproximadamente metade das larvas manteve a habilidade, que se fortalecia a cada nova fase de desenvolvimento. A outra metade apresentou atração pelo predador, permanecendo de 74% a 88% em área que continha indício do predador.

As larvas que estavam em água mais ácida conseguiram evitar o predador até o primeiro dia. Nos dias seguintes todas apresentaram atração pelo cheiro do predador passando 94% próximo a eles.

“O estudo mostra mais um modelo de que o oceano está em mudança e que tudo será muito diferente dentro de 20 ou 30 anos”, disse Chievers.