Extração da fibra da piaçaba é alvo de pesquisa no médio rio Negro
Foto: Divulgação
A palmeira Leopoldinia piassaba Wallace conhecida por piaçaba é de origem tupi, traduzido como “planta fibrosa”, citada na carta de Pero Vaz de Caminha, que falava sobre seu uso. Durante o período colonial as fibras de piaçaba eram procuradas por navegadores de várias nacionalidades para fabricação de cordas, utilizadas como amarra de navio. O uso dessa palmeira progrediu para a confecção de vassouras domésticas e industriais, cobertura de casas, área de lazer, na construção civil, entre outros.
Desta forma, o estudo “Análise do extrativismo da fibra da piaçaba (Leopoltina piassaba Wall) no médio rio negro: Subsídios ecológicos para manejo sustentável”, realizado pelo pesquisador Henrique dos Santos Pereira, aborda a caracterização da atividade extrativista no contexto histórico, social, cultural, econômico e ambiental em que se insere, comparando as formas de exploração do recurso entre as diferentes estratégias de uso e visando avaliar o impacto ao nível de indivíduo, população e ambiente.
Nessa área, o extrativismo de fibra de piaçava é de importante atividade econômica para as famílias da cidade e das comunidades do interior. A carência de dados e de sistematização do conhecimento atual relativos a todos os movimentos em torno da piaçabeira, não colabora na avaliação objetiva das relações comerciais pelo aviamento no contexto geográfico e histórico sobre a exploração do recurso.
De acordo com Pereira, a pesquisa foi realizada no médio rio Negro. ''A sobrepressão detectada no médio rio Negro e a deterioração urbana reforçam a necessidade inserir o de recursos dos coletores urbanos em futuras delimitações territoriais através de acordos de uso. A modelagem por meio dos algoritmos de máxima entropia (MAXENT) e a complementação de dados biológicos e ecológicos consolida a piaçaba como espécie indicadora dos impactos das mudanças climáticas, com o objetivo de prever alternativas caso os cenários mais dramáticos sejam confirmados'', relatou.
O pesquisador comenta ainda sobre a análise da piaçabeira. ''A sistematização e complementação de dados sobre a biologia e a ecologia da espécie subsidiam a análise. A metodologia combina com a coleta e análise bibliográfica, de cartografias e imagens geográficas, dados produtivos em órgãos oficiais, de coordenadas de presença da espécie, por meio da observação e experimentação biológica e ecológica (com marcação de transectos e contagem de indivíduos, testes de germinação e extração de óleo) e da pesquisa social junto aos atores e agentes da cadeia comercial. A descrição detalhada do aviamento mostra relações além do ato econômico, mediadas por estratégias (jogo d'água, tara, desconto na balança e impurezas) que geram conflitos e desacordos'', afirmou.
Resultados
Por meio da pesquisa, aponta o pesquisador, pode-se reconhecer um melhor entendimento sobre o padrão de distribuição e ocorrência da espécie, sobre a anatomia da palmeira e a germinação de frutos, além de maior compreensão das relações sociais de produção da piaçaba, assim como da cadeia produtiva e da formação de preços, com uma descrição detalhada das práticas de manejo da planta e da produção a partir da observação direta e das entrevistas com os piaçabeiros.
Entre os principais resultados, Pereira destaca a avaliação de impactos e depredação de recursos, com a mostra de que no médio rio Negro há tendência a uma sobrepressão sobre o recurso. “A exploração de áreas distantes, nunca antes consideradas para a coleta com esforços e riscos altos no transporte, e o corte agressivo sobre o indivíduo piaçabeira nova (mais de 70%), sugerem que a intensidade de corte poderia ser superior a capacidade de recuperação do recurso, levando ao esgotamento comercial nesta região. Este cenário deriva da redução das áreas de corte e da manutenção da demanda de mercado'', ressaltou.
Pereira, que é doutor em Agronomia Fitotecnia pela Universidade de São Paulo (USP), realizou algumas experiências durante a pesquisa. ''As duas experiências realizadas o índice germinação foi baixo e prolongado, as primeiras germinações se registraram três meses depois do plantio sendo que sete meses depois 68% de sementes em um caso e 76% no segundo ainda não tinham germinado, coincidindo com as observações de campo'', finalizou.
Importância do PPP
O Programa de Infra-Estrutura para Jovens Pesquisadores - Programa Primeiros Projetos (PPP), consiste em apoiar a aquisição, instalação, modernização, ampliação ou recuperação da infraestrutura de pesquisa científica e tecnológica nas instituições públicas e particulares, sem fins lucrativos, de ensino superior e/ou de pesquisa sediadas ou com unidades permanentes no Estado de Amazonas, visando dar suporte à fixação de jovens pesquisadores e nucleação de novos grupos em quaisquer áreas do conhecimento.
Pereira participou do PPP e comenta sobre a experiência. ''Foi uma estratégia importante para o incentivo a jovens doutores, apesar do pequeno orçamento do projeto, ele permitiu que fosse desenvolvida uma dissertação de mestrado. Penso que o PPP tem sua importância no fato de permitir que jovens doutores concorram em condições mais favoráveis na competição por financiamento de pesquisa'', relatou.
Foto 1- Extração da piaçaba (Divulgação)
Anamaria Leventi e Alessandra Leite – Agência FAPEAM