Pesquisadores de nove países discutem ações contra infecções por fungos
VI Congresso Brasileiro de Micologia reúne até quinta-feira mais de 700 professores e estudantes no auditório da Finatec
Ana Lúcia Moura e Cecília Lopes - Da Secretaria de Comunicação da UnBPesquisadores da área de micologia estimam que exista 1,5 milhão de espécies de fungos em todo o planeta. O principal no Brasil e na América Latina dentre os que causam doenças em humanos é o Paracoccidioides brasiliensis. Encontrado na terra, esse microorganismo é transmitido pelo ar e se aloja nos pulmões causando uma das doenças crônicas mais conhecidas entre os agricultores, que estão entre as principais vítimas. Aldo Henrique Pacheco Tavares, professor da Faculdade UnB Ceilândia, conseguiu apontar uma das razões porque é tão difícil para o organismo eliminar esse fungo.
As pesquisas foram apresentadas na tarde desta segunda-feira, 20 de novembro, em um auditório lotado, durante o primeiro dia do VI Congresso Brasileiro de Micologia, organizado pela Sociedade Brasileira de Micologia. O trabalho é um dos 708 que serão mostrados durante o encontro, coordenado pelo professor José Carmine Dianese, do Departamento de Fitopatologia da Universidade de Brasília, e membro do seleto time de micologistas da Sociedade Americana de Micologia.
O professor Aldo Tavares demonstrou em sua pesquisa duas estratégias que o P. brasiliensis utiliza para se manter no organismo. O fungo aloja-se nos macrófagos, células de defesa do organismo. Lá, ele degrada as moléculas oxidativas tóxicas dos macrófagos e utiliza uma via alternativa de produção de energia. “Na maioria das vezes, os macrófagos conseguem evitar que o fungo se dissemine pelo organismo, mas não conseguem eliminá-lo completamente”, explica o professor. Na verdade, o P. brasiliensis usa as células de defesa para sobreviver. Com essas estratégias, ele consegue se replicar no interior dessas células", acrescenta.
Para desenvolver a pesquisa, Aldo infectou in vitro macrófagos de camundongos com leveduras do P. Brasiliensis. Além de analisar como o fungo consegue sobreviver no interior do macrófago, o professor, em parceria com sua colega Simoneide Souza Silva, também avaliou como o macrófago se comporta diante do P. brasiliensis. Os trabalhos foram viabilizados dentro de um projeto coordenado pela professora titular aposentada Maria Sueli S. Felipo, do Laboratório de Biologia Molecular da UnB e uma das maiores autoridades em estudos moleculares sobre o P. brasiliensis.
Esse fungo também fez parte da apresentação de Maria Heloisa Blotta, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ela apresentou uma pesquisa desenvolvida pela aluna de pós-graduação Larissa Alegrini. O estudo mostra como a célula NK, importante agente de defesa contra tumores e vírus, atua contra o P. brasiliensis. “É comum ter pesquisas com células nacrófagos e neutrófilos, mas os cientistas pouco estudam a NK”, explica Maria Heloisa Blotta. O estudo de Larissa Alegrine concluiu que a NK, como as outras células já estudadas, também age contra o P. brasiliensis.
NO MUNDO – Pesquisadores de nove países também apresentaram seus trabalhos no congresso. Um deles, sobre o fungo do gênero Fusarium, que se apresenta como uma mancha branca e ataca plantas como tomateiros, pimenteiros e trigo, teve a participação dos professores Liane Gale, da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, Patrício Godoy Martinez, da Universidade Austral do Chile, Ludwig H. Pfenning, da Universidade Federal de Lavras, além dos brasileiros Dauri José Tessmann, da Universidade Estadual de Maringá, e José Aires Ventura, do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), no Espírito Santo.
NO MUNDO – Pesquisadores de nove países também apresentaram seus trabalhos no congresso. Um deles, sobre o fungo do gênero Fusarium, que se apresenta como uma mancha branca e ataca plantas como tomateiros, pimenteiros e trigo, teve a participação dos professores Liane Gale, da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, Patrício Godoy Martinez, da Universidade Austral do Chile, Ludwig H. Pfenning, da Universidade Federal de Lavras, além dos brasileiros Dauri José Tessmann, da Universidade Estadual de Maringá, e José Aires Ventura, do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), no Espírito Santo.
Outro painel tratou sobre o controle biológico e biorremediação, técnica que utiliza fungos na recuperação de áreas contaminadas, e teve palestras de Nelson Lima, da Universidade do Minho, em Portugal, Sueli Mello, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, e Priscilla Chaverri, da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.
Priscilla veio à UnB conhecer os trabalhos desenvolvidos no Brasil. “Gostaria de aumentar a colaboração com pesquisadores de universidades brasileiras. Vou aproveitar os próximos dias para interagir mais”, disse. Assim que acabar o congresso, a pesquisadora vai para Ilhéus, na Bahia, coletar fungos para um estudo em parceria com a Universidade Federal de Viçosa.
“Esse encontro é uma grande oportunidade de conhecermos as pesquisas mais novas sobre fungos”, destacou outra professora, Gioconda San-Blás, do Instituto Venezuelano de Investigações Científicas, e uma das maiores autoridades sobre fungos no mundo. Em sua palestra, ela trouxe exemplos de pesquisas mais recentes envolvendo o uso de fungos para o desenvolvimento de vacinas. “Os fungos representam um campo de pesquisa muito vasto. De 1,5 milhão de fungos estimados, conhecemos apenas 6%”, disse o presidente da comissão organizadora do Congresso, José Carmine Dianese. “O encontro permite aos pesquisadores trocar experiências e abrir novos campos de pesquisa”, acrescenta.
PAINÉIS – Além das conferências, alunos, professores e pesquisadores de mais de dez estados brasileiros apresentam trabalhos sobre fungos durante o IV Congresso Brasileiro de Micologia. Adriele Levorato, iniciante em pesquisa, é uma delas. Ela cursa o aprimoramento, uma espécie de especialização em Biomedicina que antecede o mestrado na Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Adriele quis saber se os dois remédios mais utilizados para a exterminação do P. brasiliensis – bactrin e itraconazol – são agressivos aos rins e ao fígado dos pacientes. O estudo mostrou que em 47 pacientes submetidos a tratamento com esses remédios mostrou que o fígado foi mais atingido pelo itraconazol. “A comparação entre os dois remédios não mostrou outras alterações significativas e essa agressão ao fígado foi bem discreta”, afirma Adriele.