Pesquisa sobre o grupo Anolis chrysolepis apresenta como resultado a elevação das cinco subespécies ao nível de espécies, além da atualização dos dados sobre a distribuição do grupo
Agência Museu Goeldi
Características moleculares e morfológicas como a quantidade de escamas, a cor do papo e o tamanho do corpo foram usadas para elevar cinco subespécies ao status de espécies dentro do grupo de lagartos Anolis chrysolepis. O estudo que deu origem à mudança foi realizado no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Zoologia, mantido em parceria entre o Museu Goeldi e a Universidade Federal do Pará, e é de autoria da nova mestra Annelise D´Angiolella.
O grupo é reconhecido, morfologicamente, por seu tamanho moderado (cerca de 80 mm), cabeça curta e papo de pequeno a moderado, presente em ambos os sexos, embora menor nas fêmeas, entre outras características. “Eu sempre quis estudar esse grupo, e a Amazônia é o berço brasileiro dos Anolis. Além disso, nós subestimamos a biodiversidade amazônica, porque ainda há locais não estudados”, explica Annelise, que nasceu na Bahia e veio à Belém fazer o seu mestrado.
Então, para determinar se as cinco subespécies reconhecidas atualmente desse grupo eram válidas, a pesquisa de Annelise D´Angiolella analisou, morfologicamente, 359 espécimes provenientes de coleções herpetológicas (que incluem répteis e anfíbios) nacionais e internacionais, além de sequenciar 39 amostras de tecidos, incluindo tecidos de todas as subespécies de Anolis chrysolepis e dos táxons mais relacionados a elas. Para tal pesquisa, dados provenientes do GenBank - a base de dados de seqüências genéticas do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) - também foram utilizados.
Um grupo diverso - O grupo apresenta uma taxonomia bastante confusa, com dois nomes (nitens e chrysolepis) sendo utilizados no momento. Draconura nitens foi originalmente descrito por Wagler (1830) com base, principalmente, em caracteres de coloração. Único espécime foi perdido e parece não haver registro de outro autor que o tenha examinado. Aliado a isso, a localidade tipo “America” é bastante vaga quando consideramos a distribuição total do grupo que vai do sudeste dos Estados Unidos, México, América Central, Antilhas, até a América do Sul. Por essas razões, Annelise adotou no trabalho o nome Anolis chrysolepis Duméril & Bibron, (1837).
O grupo estudado, juntamente com a espécie Anolis bombiceps, foi usado pelos pesquisadoresVanzolini & Williams, em 1970, para propor a controversa Hipótese dos Refúgios do Pleistoceno”, destaca Annelise. “Nesse trabalho, os autores descreveram uma nova subespécie para o grupo - o Anolis chrysolepis brasiliensis -, que contava com apenas três subespécies: Anolis chrysolepis scypheus; Anolis chrysolepis planiceps e Anolis chrysolepis chrysolepis”, conta a nova mestra, que ainda lembra que os autores determinaram quatro áreas como centro de evolução de cada uma das subespécies, com zonas de contato secundário entre elas.
O grupo também foi estudado pela pesquisadora do Museu Goeldi e orientadora de Annelise, Teresa Ávila Pires, em 1995. Ela adotou o nome nitens, ao invés de chrysolepis, e descreveu uma nova subespécie para o grupo: Anolis nitens tandai. “Desde então, poucos estudos envolvendo Anolis da América do Sul foram realizados, e o grupo Anolis chrysolepis não foi foco de nenhum deles”, ressalta Annelise.
A pesquisa e os resultados - A nova mestra, então, procurando elucidar as relações entre as subespécies do grupo, revisar a sua taxonomia e entender seus padrões de distribuição, analisou o DNA mitocondrial e morfologia de todas as cinco subespécies e de táxons mais relacionados a elas. Em seu trabalho, cada subespécie é elevada ao status de espécie, novamente diagnosticada com comentários sobre as diferenças entre as espécies-irmãs e novos dados de distribuição geográfica são fornecidos.
A grande congruência entre os dados moleculares e morfológicos nos permitiu concluir que existem seis linhagens independentes dentro do grupo Anolis chrysolepis, incluindo Anolis bombiceps. Nossos resultados mostraram a ausência de áreas de contato secundário, com todos os grupos identificados na análise molecular sendo capazes de serem identificados também morfologicamente”, resume Annelise, cujo primeiro artigo relacionado a sua dissertação será publicado no Boletim do Museu de Zoologia Comparada de Harvard, que tem grande tradição em publicações referentes aos lagartos Anolis.
O trabalho foi co-orientado pelo Dr. Tony Gamble (Minessota, EUA) e teve como colaboradores o Dr. Laurie J. Vitt (Sam Noble Oklahoma Museum, EUA), Dr. Brice Noonan (Universidade do Mississipi, EUA), Dr. Guarino Rinaldi Colli (Universidade de Brasilia) e o Dr. Miguel Trefaut Rodrigues (Universidade de São Paulo).
Anolis chrysolepis
Duméril & Bibron, 1837
Duméril & Bibron, 1837
Essa espécie se difere das demais por possuir uma menor escama interparietal (na região mediana da cabeça). Também possui os menores tamanhos do pé e do quarto dedo. O papo do macho vai do azul royal a azul-escuro, enquanto o da fêmea é creme. Distribui-se no sul da Guiana, Suriname, Guiana Francesa, e ao norte do Brasil, nos estados do Amapá e Pará.
Anolis bombiceps Cope, 1876
Essa espécie difere das demais espécies principalmente em algumas contagens de escamas. Possui o papo azul-royal ou azul-escuro, semelhante ao papo dos machos de A. tandai e A. chrysolepis. Ocorre na Amazônia Colombiana, Equador, Peru e no Brasil, no estado do Amazonas.
Anolis scypheus Cope, 1864
Apresenta os maiores tamanhos de corpo, largura e altura da cabeça, diâmetro do ouvido e distância entre as narinas. Possui papo azul no centro e vermelho na borda tanto em machos, como em fêmeas. Ocorre na Colômbia, Peru, Equador e no noroeste do estado do Amazonas, no Brasil.
Anolis tandai Avila-Pires, 1995
Espécie descrita pela pesquisadora do Museu Goeldi, Ávila Pires, apresenta a maior tíbia (osso da perna) em relação ao comprimento do corpo. As fêmeas possuem papo com um ponto azul central, rodeado por uma área creme. Já os machos apresentam papo similar ao de A. chrysolepis, de azul-royal a azul-escuro. Ocorre ao sul do rio Amazonas, no Peru e a oeste do rio Tapajós no Brasil, nos estados do Pará, Amazonas, Acre, Rondônia e Norte do Mato Grosso.
Anolis brasiliensis Vanzolini & Williams, 1970
Apresenta o maior tamanho de focinho. Possui papo acinzentado ou azul acinzentado, sem distinção entre machos e fêmeas. Ocorre no Brasil no sudeste do Pará, Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Distrito Federal.
Anolis planiceps Troschel, 1848
Distingue-se das demais por apresentar a maior cauda (em relação ao tamanho do corpo), pé e quarto dedo. Possui também os maiores valores de tamanho da escama interparietal. Apresentam papo vermelho, sem distinção entre machos e fêmeas. Ocorre na Venezuela, Trinidad, Guiana e no Brasil, nos estados do Amazonas e Roraima.
Texto: Vanessa Brasil