O que está escrito nos Manuscritos do Mar Morto
© iStockphoto.com /Duncan1890 Um dos principais textos dos Manuscritos do Mar Morto é o livro do profeta Isaías |
Os Manuscritos do Mar Morto contêm boa parte do texto do Antigo Testamento, com exceção dos livros de Ester e Neemias. Mas os pergaminhos não são só sobre religião. Há uma boa parte do material composta por textos judaicos não-bíblicos.
Um dos problemas é que essa separação é feita com base na tradição judaico-cristã, no entanto, não há ainda como saber quais desses textos eram considerados sagrados pelo comunidade de Qumran, até por que os textos não-bíblicos contêm muitas referências ao Antigo Testamento.
Há aqueles também que são claramente relativos à seita que ali vivia, como o Manuscrito da Guerra que mostra como deverá se conduzida a guerra santa da seita.
A partir do uso de datação radiocarbônica os peritos conseguiram identificar as idades dos manuscritos, o que permite afirmar que eles foram escritos entre o século 3 antes de Cristo e o século 1 depois de Cristo.
Isso provou que a comunidade de Qumran tinha suas raízes na cultura judaica e não no Cristianismo. Encontrar a data aproximada em que os Manuscritos foram produzidos serviu também para mostrar como o Antigo Testamento foi fielmente reproduzido durante séculos pelos escribas judeus, sem deturpações.
Além disso, entre os textos mais interessantes estão os que supostamente tratam sobre a doutrina e as regras da seita dos essênios e interpretações e comentários feitos sobre as narrativas do Antigo Testamento.
Conselho de Antiguidades de Israel / Reprodução Trecho do Livro de Isaías, encontrado entre os Manuscritos do Mar Morto |
Uma das especulações que surgiram com a descoberta dos Manuscritos foi que eles revelariam fatos novos e surpreendentes sobre a vida de Jesus Cristo. Embora alguns textos sejam contemporâneos a ele, não há nos Manuscritos encontrados nenhuma menção a fatos do Novo Testamento nem à figura histórica de Jesus. Uma das explicações para isso é que naqueles tempos Jesus e seus seguidores não passavam de uma das inúmeras seitas que habitavam a região da Palestina. Além das seitas dos cristãos e dos essênios, havia também as dos fariseus, betusianos, zelotas, ariseus, hassidim, sicários e saduceus.
Mas os Manuscritos mostraram que cristão e essênios tinham muitas similaridades. Ambas eram seitas radicais, as reuniões tanto de um grupo como do outro terminavam em ceias com pão e vinho e os essênios, assim como os cristão, também acreditavam na vinda de um messias. Os estudiosos apontam outras coincidências entre ambas as seitas, que vão de regras de vida comunitária à condenação dos fariseus, por tolerarem os romanos, o que faz partes do Novo Testamento parecerem fortemente influenciadas pelos Manuscritos descobertos em Qumran.
No fim, os pergaminhos ajudaram a compreender um período essencial da história das grandes religiões monoteístas. Mas antes de chegar a isso, a atitude do governo jordaniano e depois do israelense de manter o acesso aos Manuscritos restrito a grupos de pesquisadores por eles selecionados tornou-se um escândalo. A demora desses grupos em traduzir e revelar o que continham os Manuscritos e a proibição de que outros pesquisadores tivessem acesso ao material alimentaram várias teorias conspiratórias, que imaginavam os Manuscritos como fontes de revelações que abalariam as grandes religiões. Essa situação mudou quando em 1991, a Biblioteca Huntington, na Califórnia (EUA), disponibilizou imagens de todos os manuscritos que não tinham sido publicados ainda, a partir de um microfilme enviado por Israel para ser guardado na biblioteca como medida de segurança.