terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

ECOLOGIA MARINHA PARA CRIANÇAS

Uma gota no oceano: projeto treina 

 

professores para ensinar ecologia marinha


Danielle Kiffer
    Reprodução
         
      Alunos do ensino fundamental mostram em desenhos o que
   aprenderam sobre a fauna marinha, seus hábitos e características

As questões relacionadas ao meio ambiente configuram um desafio urgente e crucial para a sociedade contemporânea. Preocupada com as questões ambientais, a pesquisadora Susanna Eleonora Sichel, professora do Departamento de Geologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), desenvolveu o projeto “Um convite à oceanografia: divulgação para as escolas" para difundir entre estudantes do ensino médio e fundamental conhecimento sobre o funcionamento dos oceanos e sua interação com a atmosfera. Todo um conteúdo programático foi adaptado para CD, apostilas, aulas e fotos. E contou também com trabalho de campo para treinamento. 

O projeto, bem como todo material didático, foi elaborado em conjunto com uma equipe multidisciplinar de oceanógrafos, geólogos, biólogos, ambientalistas, geógrafos e matemáticos, que incluiu Thaís Cristina Vargas Garrido e Akihisa Motoki, ambos geólogos do Departamento de Mineralogia e Petrologia Ígnea da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Davi Canabarro Savi do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM) e Janaína Almeida da Costa Silva, geógrafa eprofessora da rede municipal de Teresópolis. 


O projeto foi apoiado pela FAPERJ por meio do programa de Difusão e Popularização da Ciência e Tecnologia no Estado do Rio de Janeiro.

No CD, as aulas adaptadas abordam temas desde a origem dos oceanos até suas perspectivas futuras, passando por poluição, mudanças climáticas e riquezas do mar. "Nosso principal público-alvo está nas escolas: professores e estudantes, que são as duas faces da moeda para a formação de novas gerações capazes de enfrentar e amenizar os desafios de uma natureza agredida", afirma Susanna. O CD foi distribuído nas escolas públicas e privadas da cidade do Rio de Janeiro, Nova Friburgo, Cachoeiras de Macacu, e Niterói, e os professores de escolas de Teresópolis, Arraial do Cabo e Cabo Frio que se interessaram pelo trabalho também receberam treinamento da equipe. 


Treinamento especial

O estudo contou ainda com o apoio da Marinha do Brasil, que cedeu o espaço do IEAPM, em Arraial do Cabo, para realização de palestras para 40 professores da região, no início do projeto, em 2008. Na ocasião também houve um trabalho de campo em embarcação, que saiu da Praia dos Anjos à Ilha de Cabo Frio, durante a qual geólogos e profissionais do IEAPM explicaram como se formaram as composições rochosas das praias, sua idade geológica e os tipos de sedimentos nas areias, entre diversos assuntos. Outro trabalho de campo, no navio NoC Antares, levou professores de Teresópolis pela Baía de Guanabara, até a Barra da Tijuca. Durante o trajeto, foram feitos todos os procedimentos comuns em um navio oceanográfico, como a coleta de água para avaliação da temperatura em diversas profundidades e análise da areia do fundo do mar. "Nestas excursões, pudemos perceber o quanto nosso trabalho poderia dar certo, diante da empolgação dos professores que participaram do treinamento", conta Thaís. 

Semeando consciência


Reprodução
     
    A cadeia alimentar marinha na visão de duas estudantes
                 de escola da rede pública de Teresópolis
   

Em Teresópolis, região serrana do Rio, onde as crianças e adolescentes comumente têm pouco contato com o mar, o resultado da distribuição do material didático foi melhor do que o esperado. "Apresentei o projeto a diversas escolas em reuniões pedagógicas com os professores. E eles começaram a desenvolver o trabalho com os alunos de formas diferentes", conta Janaína. Ela conta que, em uma das escolas, foi apresentado o vídeo do desenho Espanta Tubarões, da DreamWork Animations, para que alunos entre 6 e 10 anos, do ensino fundamental, pudessem, de maneira lúdica, entender a cadeia alimentar no mar. "Foi fantástico. As crianças viram o vídeo e depois foram para o laboratório de informática aprofundar seu conhecimento em pesquisas. Com o que descobriram, fizeram cartazes com desenhos e pequenas animações num programa de computador." As pesquisas na internet levaram as crianças a um outro tema. "Ao entrarem no site do projeto Tamar, descobriram a reciclagem do lixo da praia. Os alunos se envolveram de tal forma que ficaram estimulados a reciclar o lixo na própria escola em lixeiras de cores diferentes. Acaba sendo um trabalho interdisciplinar", explica.

A experiência em outra escola pública de Teresópolis também foi surpreendente. Alunos de 8 a 10 anos fizeram uma excursão ao Parque Nacional da Serra dos Órgãos, onde fica a nascente do rio Guapimirim e do rio Paquequer. No passeio, eles acompanharam o rio Paquequer até o centro da cidade. "No trajeto, as crianças puderam ver a sujeira do rio e ter consciência de que toda aquela poluição vai direto para suas casas, e que o trajeto inverso feito pelo rio Guapimirim leva o mesmo tipo poluição direto ao mar. Elas então partiram para uma pesquisa na internet e, com as fotografias tiradas durante o passeio, montaram uma fotonovela, narrando o que aquele trabalho de campo significou para elas", detalha Janaína. Segundo a professora, o passeio foi rico em observações: ao ver uma aranha, um inseto ou algo diferente na água, por exemplo, eles fotografavam, constatando os exemplares de toda fauna e flora do parque e produzindo material que mais tarde foi reunido e elaborado pela turma inteira.
 Reprodução
           
     Além de ensinar sobre oceanografia, o projeto também procurou
    despertar nos alunos consciência sobre a preservação das águas

Para Janaína, o resultado não poderia ser melhor. "Uma das imagens do CD é a foto de uma tartaruga marinha envolvida por um saco plástico. As crianças ficaram muito impressionadas em saber que o saco plástico que jogam no rio ou fora do lixo pode ir tão longe e ter um final tão ruim como o que foi visto na fotografia. A partir do trabalho, houve um despertar de consciência impressionante", relata. Em conversa com os professores e a turma, a pesquisadora conta que ouviu comentários, como: "Não posso jogar lixo no chão nem no rio, pois as consequências são maiores e piores do que eu poderia imaginar." "Eles viram que, se não há mata ciliar, aumenta o perigo de enchentes; se não tem saneamento básico, além da saúde dos moradores, a própria moradia pode ficar em risco", diz.

Novos horizontes


O estudo fez tanto sucesso que acabou sendo discutido com profissionais da terceira idade, que participavam de um workshopnuma escola de Teresópolis. "Todos ficaram interessados em conhecer as diversas causas de poluição no mar e se interessaram em entender como poderiam colaborar com a preservação dos oceanos e do meio ambiente, com a divulgação do material", fala Janaína. A repercussão do projeto chegou até a revista inglesa Inter Ridge News, que publicou um artigo a respeito. Susanna pretende dar continuidade à pesquisa, ampliando o material, com a inclusão de um maior número de assuntos, aumentando sua distribuição e também o treinamento de professores. "Nosso objetivo é formar cidadãos mais conscientes com a questão ambiental", finaliza.


© FAPERJ – Todas as matérias poderão ser reproduzidas, desde que citada a fonte.