quarta-feira, 16 de março de 2011

USP VAI EXTERMINAR PALMEIRAS

Para proteger a mata nativa, a USP vai exterminar palmeiras

CRISTINA MORENO DE CASTRO


DE SÃO PAULO

Na reserva da mata atlântica da USP, dentro da Cidade Universitária, em São Paulo, já não predominam as árvores típicas da flora nativa, como cedros, aroeiras, paineiras, palmitos jussara e pimenteiras.

Para onde se olhe, o que se vê é um terreno dominado por palmeiras-reais, ou seafórtias, "praga" trazida da Austrália há 50 anos, que começou a invadir a reserva e matar espécies nativas.
O exército de invasoras já tem 3.000 palmeiras adultas --em toda a reserva, de dez hectares, são cerca de 20 mil árvores. Mais 3.000 ocupam outras áreas do campus. As mudas são incontáveis.
As armas da planta exótica são agressivas: cada árvore produz de um a dez cachos e cada cacho tem 3.600 frutos, que dão o ano inteiro. Em quatro anos está em idade reprodutiva. "É uma verdadeira bomba", diz Welington Delitti, coordenador de gestão ambiental da USP.
Danilo Verpa/Folhapress
Palmeira exótica invade mata atlântica reservada da USP, que tem 20 hectares e fica no Instituto de Biociências
Palmeira exótica invade mata atlântica reservada da USP, que tem 20 hectares e fica no Instituto de Biociências


O Instituto de Biociências, que ele dirige, começou a detectar que a planta estava infestando a mata atlântica de planalto há cerca de 20 anos.

"Tínhamos mais de 130 espécies de árvores --muito superior a toda a flora arbórea das ilhas britânicas. Logo a palmeira-real se tornou a espécie mais importante."

Sem apoio das autoridades para fazer o manejo, que até há pouco tempo nem era regulamentado, os pesquisadores se limitaram a etiquetá-las e acompanhá-las, inventariando a flora da reserva para medir o impacto.

Agora, o contra-ataque finalmente será promovido.

Ainda neste mês a universidade dará início ao processo de licitação para definir a empresa que destruirá essas palmeiras e plantará 10 mil plantas nativas no lugar, num processo que só deve terminar no final de 2012.

O custo ainda não foi estimado e os recursos virão da própria USP (20%) e do fundo estadual de recursos hídricos (80%), porque a mata protege uma nascente, um lago e um córrego.

Para destruir as invasoras, será preciso galgá-las com esporas e cortar o ápice de seu tronco, onde está o palmito. Como essa árvore cresce para cima, sem o palmito, ela vai naturalmente morrer e se decompor, sem destruir as espécies vizinhas, como ocorreria numa derrubada.

Os palmitos cortados vão incrementar o cardápio do bandejão por vários meses.
"Tememos que ela invada a costa paulista, pois as pessoas plantam nos condomínios das praias", diz Delitti.

Segundo levantamento mais recente da SOS Mata Atlântica, a cidade tem 24 mil hectares de mata nativa, distribuída principalmente na região das serras do Mar e da Cantareira --apenas 16% da vegetação original.