Escolas enfrentam cultura da má alimentação
Estudo realizado na UnB revela que estudantes com idade entre 11 e 13 anos consomem 4,5 porções diárias de doces e 230 ml de refrigerantes por dia
Daiane Souza - Da Secretaria de Comunicação da UnB
Um dos principais desafios enfrentados pelas escolas públicas brasileiras para melhorar a qualidade da merenda é mudar a cultura alimentar das crianças e jovens. Um estudo realizado pela UnB com 800 estudantes com idade entre 11 e 13 anos mostra que eles consomem 4,5 porções diárias de doces e 230 ml de refrigerantes por dia. Dos alimentos consumidos em lanchonetes, 77,9% têm alto nível de gorduras.
Para discutir como mudar esses hábitos alimentares, a UnB realiza a IV edição da Jornada de Alimentação Escolar. “O risco nutricional corresponde ao desenvolvimento de doenças crônicas como diabetes, alta pressão arterial e obesidade e o surgimento precoce de doenças sexualmente transmissíveis”, alerta Natasha Toral, nutricionista coordenadora de Ensino e Pesquisa do Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição do Escolar (Cecane) da UnB.
Antes da implementação do Programa Nacional de Alimentação Escolar, instituído em 2009, a merenda escolar era disponibilizada apenas às crianças do Ensino Fundamental. A pesquisa constatou que a falta de acesso à lanches adequados durante esse período colaborou para a má alimentação de crianças e adolescentes. "Como eles não tiveram contato com esse tipo de comida na escola é mais difícil que aceitem o que é novo e incomum. Existem barreiras em torno das mudanças alimentares e precisamos compreendê-las", afirma.
Natasha acredita que os cardápios devem ser elaborados com as crianças. Dessa forma, é mais fácil que os alimentos sejam aceitos. "A ideia é motivá-los e isso só vai funcionar quando eles compreendem a importância de comerem bem", explica.
Oferecer vários tipos de alimentos aos jovens é outra sugestão da nutricionista. Maria de Fátima Vieira Barros, reponsável pela alimentação na Diretoria Regional de Ensino de Sobradinho, concorda com a pesquisadora, mas afirma que a estrutura física das escolas não permite a estocagem de alimentos perecíveis no volume necessário para atender a demanda.
Maria conta que também enfrenta a concorrência com uma lanchonete que sustenta os maus hábitos alimentares dos jovens. "Entre escolher um arroz com frango e brócolis e um pacote de salgadinho industrializado, os meninos preferem a segunda opção", conta.
EXEMPLO - O modelo adotado no estado de Tocantins dá mais autonomia às escolas e, por isso, funciona melhor. “As escolas municipais fazem as compras, o que permite o acesso a alimentos mais baratos e saudáveis”, esclarece Felipe Barbosa, 30 anos, responsável técnico da Secretaria de Educação de Palmas.
Ele conta que lanchonetes em ambientes escolares são novidade nos municípios de Tocantins e que por isso, o estado não tem problemas para implementar a lei. “Os lanches oferecidos são balanceados e seguem o cardápio de cada escola. As crianças não sentem necessidade do alimento industrializado”, diz.