terça-feira, 28 de agosto de 2012

Brasil e Estados Unidos debatem as descobertas mais recentes sobre vetores de doenças tropicais


Pesquisadores do IOC e da Fiocruz participaram do Simpósio que incentivou a aproximação dos dois países em torno da temática

Fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)
Isadora Marinho

Numerosos e adaptáveis, quase sempre passam despercebidos. Mas os insetos transmissores de doenças já foram responsáveis por epidemias de grande proporção, como a da peste bubônica e a da febre amarela. Hoje, são as persistentes endemias tropicais – como dengue, malária e doença de Chagas – que impactam a economia e a qualidade de vida nos países em desenvolvimento, desafiando especialistas em controle de vetores de todo o mundo. Nos dias 9 e 10 de agosto, um grupo multidisciplinar de ponta do Brasil e dos Estados Unidos se reuniu na cidade norte-americana de Hamilton, no Estado de Montana, para debater as descobertas mais recentes na área e trocar experiências. O simpósio USA-Brazil Vector Symposium, organizado pelo National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID/NIH), vinculado ao National Institute of Health (NIH), marcou uma aproximação direta dos dois países em torno da temática. A iniciativa contou com a participação de três pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Divulgação NIH
Grupo que participou do Simpósio, restrito a pesquisadores dos dois países
Palestras sobre genética, fisiologia, interação com patógenos e imunidade inata de mosquitos, flebotomíneos, carrapatos, pulgas e moscas compuseram a programação. Do IOC, participaram a chefe do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores, Denise Valle; o chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos, Alexandre Peixoto; e o pesquisador do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos, Fernando Genta. Já da Fiocruz-Minas, participaram o pesquisador Luciano Moreira, do Laboratório de Malária, e Paulo Pimenta, do Laboratório de Entomologia Médica.
Avaliação positiva
De acordo com a pesquisadora Denise Valle, o evento contou com apresentações de altíssimo nível acadêmico e evidenciou que o Brasil está na vanguarda quando o assunto é controle de vetores.  “A plateia ficou impressionada com o impacto das ações criadas em conjunto pelas áreas de Pesquisa e de Comunicação do IOC, como a campanha 10 minutos contra a dengue, responsável pela redução dos índices de infestação em muitos municípios do Rio de Janeiro”, destacou Denise. Inseticidas piretróides e estudos inéditos sobre a influência da capacidade vetorial e do habitat sobre a resistência do Aedes aegypti foram outros temas abordados pela especialista. 
O pesquisador Alexandre Peixoto, por sua vez, compartilhou dados inéditos e já publicados sobre os genes de comportamento que regem atividades de cópula e de hematofagia nos flebotomíneos transmissores de leishmaniose. Ele avaliou o simpósio como uma iniciativa excelente. “Ter um espaço que possibilita a convergência de estudos da área é muito importante, pois permite, por exemplo, que metodologias e técnicas desenvolvidas por um grupo que estuda um inseto específico possam ser utilizadas por quem estuda outros vetores e inspirar novas abordagens de investigação”, disse o especialista, que também desenvolve pesquisas sobre mosquitos - dentre eles, o Aedes aegypti.
Reflexo de uma nova fase
Organizador brasileiro do ‘USA – Brazil Vector Symposium’ e responsável por selecionar os palestrantes nacionais, Pedro Lagerblad de Oliveira, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular (Inct-EM) e professor do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBqM/UFRJ), explicou que o interesse do National Institute of Health (NIH) em estabelecer uma colaboração mais estreita com o país é reflexo do aumento progressivo da nossa participação em pesquisas cada vez mais relevantes na área. “O assunto sempre foi prioridade no Brasil mas o aumento de recursos destinados à pesquisa nos últimos dez anos fez com que o desenvolvimento apresentado pelos grupos fosse notado também pela comunidade internacional”, explicou.
Ele ressaltou, ainda, que os participantes identificaram diversos aspectos convergentes em seus projetos e abriram caminho para iniciativas de colaboração. “Foi mencionada a intenção de ampliar o uso das bolsas de pesquisadores sêniors do programa ‘Ciência Sem Fronteiras’ com o objetivo de proporcionar uma maior interação entre os especialistas e colaborações com múltiplos laboratórios”, adiantou. O simpósio será realizado a cada dois anos e, embora ainda não haja uma data marcada, Oliveira afirmou que o Brasil deverá sediar a próxima edição.