Isolada a 20 km do trânsito ensurdecedor e da poluição do Centro do Rio, a Ilha de Paquetá ainda preserva o clima bucólico de cidadezinha do interior do período colonial. Os únicos meios de transporte da ilha são charretes, bondinho e bicicletas, que oferecem aos visitantes a sensação de estar em um local incomum. É nesse paraíso, localizado no coração da Baía de Guanabara, que está surgindo a primeira cooperativa de táxis de bicicleta do Rio de Janeiro, a Eletro Táxi.
Nesta quarta-feira, 150 taxistas vão se reunir com representantes do Sistema OCB/Sescoop-RJ (Federação e Organização das Cooperativas Brasileiras do Estado do Rio de Janeiro e Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo) para a criação do Estatuto e aprovação da diretoria da Eletro Táxi, que deve ser fundada com 46 condutores.
Os táxis de bicicleta já são velhos conhecidos da população local e tornaram-se um meio de transporte ecologicamente correto e barato. Eles surgiram há aproximadamente seis anos e conduzem duas pessoas por corrida. Em uma bicicleta de três rodas, o condutor, sentado no banco da frente, precisa pedalar para mover a engenhoca, enquanto os passageiros se aventuram em um gostoso passeio no banco de trás. O valor cobrado é de R$ 4 para uma pessoa e R$ 7 para duas.
Em entrevista ao SRZD, o superintendente do Sistema OCB/Sescoop-RJ, Jorge Barros, afirmou que a Prefeitura do Rio tem interesse em regulamentar a atividade dos eco-taxistas e modernizar a frota. Ele confirmou ainda que o presidente da cooperativa, Ednard Lima Pereira, e o poder público estudam a possibilidade de exportar a novidade para as orlas da Zona Sul e da Barra da Tijuca, onde funcionaria somente como passeio turístico.
"A cooperativa se trata de uma vontade política do poder público fundamentado pela representação da região administrativa de Paquetá. Quando realizei uma palestra para os potenciais cooperados, descobri pela presidente da associação comercial de Paquetá uma alegria indizível quando o Sescoop apresentou o cooperativismo legal, porque existe uma ameaça do pessoal de São Gonçalo querendo implantar o serviço na ilha. A organização vai ajudar a estancar todas as mazelas restantes entre os moradores daquela região", ressaltou o superintendente.
Cooperativa divide opiniões
Muitos são os benefícios que o sistema de transporte alternativo levou para Paquetá. Além da maior facilidade de locomoção de um lado para outro da ilha, os táxis ecológicos geraram uma nova fonte de trabalho e renda para dezenas de moradores, sem comprometer o meio ambiente e sem explorar a força física dos animais. No entanto, uma preocupação ainda assola a população: o perigo eminente das altas velocidades que as bicicletas motorizadas podem atingir.
A socióloga Fátima Praxedes, de 50 anos, acompanha as transformações de Paquetá desde a infância, quando lá vivia com seus pais. Ela confessou ao SRZD ser contra a entrada de veículos motorizados no bairro. "Sou contra o despreparo dos taxistas, pois eu soube de casos que, devido à velocidade, o táxi virou. Já houve até casos de atropelamento de cachorros. Sou completamente contra o táxi motorizado, porque não é esta a proposta. A velocidade acaba sendo acima do permitido e traz perigo para nossas crianças, que antes podiam andar sozinhas, atravessar a rua, etc. Não necessariamente a cooperativa é criada para eles terem condições melhores de trabalho, isto não quer dizer que eles vão se preocupar com a população, não quer dizer que vai ter mais fiscalização de velocidade", pontuou a paquetaense.
Leandro Martins, de 40 anos, teme que a criação de uma cooperativa possa ser apenas marketing político às vésperas das eleições. "Sou a favor dos eco-táxis e contra a cooperativa, por entender que possa ser jogada política, oportunismo às vésperas de uma eleição. É como se os taxistas fossem obrigados a entrarem na cooperativa para não terem suas atividades paralisadas ou que tenham que angariar certo número de votos para a atividade não acabar".
Já a corretora de imóveis Eliane Machado, que encontra no bairro o seu recanto de paz, acredita que o cooperativismo dará maior organização ao trabalho dos taxistas. "Sou a favor dos táxis de bicicletas, porque não se usa tração e exploração dos animais. Minha opinião é que a cooperativa vai dar visibilidade a Paquetá como lugar civilizado e com iniciativa de transporte alternativo de primeiro mundo, gerando profissionais competentes e melhorando o serviço e o atendimento."
O publicitário Antonio Carlos da Silva, de 61 anos, acredita que a cooperativa cobrará maior responsabilidade por parte dos taxistas, mas também tem um pé atrás com a presença das bicicletas movidas a energia elétrica. "Sou a favor [dos táxis de bicicleta] desde que estejam organizados e que sejam somente pilotados por moradores da Ilha. Apesar de elétricos, sem poluição, não sou a favor [dos táxis motorizados] até porque a Ilha é muito pequena, não existem aclives íngremes e isso é um passo para o retorno de motores a explosão", disse, em conversa com o SRZD.
do OCB SESCOOPRJ - matéria publicada originalmente do site SRZD