terça-feira, 28 de agosto de 2012

Projeto faz levantamento da biodiversidade de peixes da costa fluminense

FAPERJ

Divulgação
Coleta de peixes é o primeiro passo para avaliar as espécies
encontradas nas praias arenosas do estado do Rio de Janeiro 

Débora Mota

Conhecer a biodiversidade é o primeiro passo para a formulação de políticas públicas de preservação ambiental. Partindo dessa premissa, um projeto coordenado pelo Cientista do Nosso Estado da FAPERJ Francisco Gerson Araújo, do Laboratório de Ecologia de Peixes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), propõe um levantamento dos peixes e de seus habitats– locais onde vivem – nas praias arenosas de todo o estado do Rio de Janeiro. O estudo foi contemplado pela Fundação com o edital de Apoio ao Estudo da Biodiversidade – Biota.

De acordo com o professor, as praias arenosas são verdadeiros berçários dos peixes. "É comum encontrarmos peixes jovens perto das praias, já que a reprodução da maioria dos peixes que vivem nas áreas costeiras rasas costuma ocorrer em áreas mais profundas da plataforma continental, isto é, a cerca de 50 a 200 de profundidade na zona costeira. Depois que nascem, os ovos e as larvas são trazidos pelas correntes e marés para a zona costeira rasa, onde passam boa parte da fase inicial da vida”, explica Araújo. Por isso, a ocupação desordenada das praias é tão prejudicial. “A poluição e outras formas de agressão às praias pela ação humana destrói os locais de criação de peixes. Em consequência, populações adultas tendem a desaparecer”, completa.

Para facilitar o levantamento, ele dividiu em três regiões os locais que estão sendo avaliados no projeto. “Vamos caracterizar essas espécies de peixes e verificar a relação deles com seu habitat em três zonas: nas praias do norte fluminense, que vão do estuário do Rio Paraíba até Cabo Frio; nas lagoas costeiras de Maricá, Araruama e Saquarema; e na Baía de Sepetiba”, resume.

O projeto teve início em setembro de 2011 e continua em andamento. Por enquanto, o pesquisador já adianta que houve perda na diversidade de peixes nas praias estudadas na Baía de Sepetiba, na Costa Verde fluminense. “Nos anos 1980, registrei a ocorrência de uma média de 85 espécies de peixes jovens nas praias da Baía de Sepetiba. Agora, percebi que essa média baixou para 65 espécies, nos mesmos locais antes observados”, conta.

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De baixo para cima: Baías de Ilha Grande, Sepetiba e Guanabara; Maricá,
Saquarema, Araruama, São João, Rio das Ostras, Macaé e Quisamã 

De acordo com Araújo, estudar o habitat dos peixes é fundamental para compreender melhor o padrão de ocorrência e de distribuição das espécies. “Existem características intrínsecas ao habitat que definem a ocorrência ou não de determinadas espécies de peixes naquele local”, diz. E prossegue: “Algumas espécies de peixes preferem as lagoas, outras são mais adaptadas ao ambiente salino do mar. É possível avaliar os padrões de abundância das espécies de acordo com cada habitat.” 

Para fazer o levantamento da biodiversidade, o pesquisador coordena a realização de coletas semestrais, no inverno e verão, de peixes e de bentos – animais que vivem associados aos sedimentos de areia no fundo do mar. “Já coletamos nas praias do norte fluminense, entre Quissamã e Cabo Frio; nas três lagoas costeiras de Araruama, Saquarema e Maricá; e em praias da Baia de Sepetiba e da Ilha Grande. Cada área tem um padrão de fauna diferente”, relata Araújo. Além da fauna, os habitats são analisados. “Medimos dados ambientais como a concentração de oxigênio no mar, a temperatura, a salinidade, a transparência e a turbidez da água, e avaliamos a morfodinâmica das praias. Também coletamos sedimentos para a determinação da granulometria [a medida dos grãos de areia] e do conteúdo de matéria orgânica, bem como a quantidade de fósforo, carbono e nitrogênio”, destaca.

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Francisco Gerson Araújo, de blusa verde, e parte da equipe
reunida na UFRRJ: estudo minucioso da costa fluminense 

Segundo o pesquisador, os resultados obtidos na pesquisa poderão servir como base para a elaboração de políticas de conservação e gerenciamento de recursos naturais por diversos órgãos, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Além da biodiversidade de peixes, ele também estuda os peixes como indicadores da qualidade ambiental. “Os peixes são bioindicadores do ambiente em que vivem. Eles são um termômetro das condições ambientais", diz o professor.


"Quando o ambiente está pouco preservado, os peixes apresentam pequeno número de espécies, que em sua maioria são de pequeno tamanho e magros. As espécies menos tolerantes desaparecem e a cadeia trófica é desestruturada, isto é, as diversas espécies que deveriam compor diferentes funções no ambiente, como consumidores de vegetais, consumidores de animais, predadores, é desproporcionalmente representada. Já nos ambientes preservados, a diversidade de peixes é maior, eles são maiores e vivem mais”, explica. “Daí a importância de estudar esses animais e seus habitats, encontrar e descrever as áreas de criação e protegê-las contra a destruição por atividades humanas, como a especulação imobiliária e a poluição”, conclui.

Além do coordenador do projeto, participam da equipe multidisciplinar as doutoras em Biologia Animal Márcia Cristina Costa e Azevedo e Ana Paula Penha Guedes; a mestranda em Ciências Ambientais Taynara Pontes Franco, bolsista do programa Bolsa Nota 10, da FAPERJ, e o mestrando em Biologia Animal Tailan Moretti Mattos, que trabalham com os peixes. Também fazem parte da equipe a doutoranda em Biologia Animal Débora de Souza Silva, o mestrando em Biologia Animal Wagner Uehara, e as graduandas em Ciências Biológicas Rafaela Gomes de Sousa e Camila Santiago Camargo, bolsista de iniciação científica da FAPERJ, que trabalham com os organismos bentônicos e com sedimento.