Os menos de quinze dias da Conferência do Clima de Copenhagen, deram bem o tom do que será o século XXI, que prenuncia-se como sendo o reinado da manipulação da informação, com a mentira e as meia-verdades campeando soltas e o homem caminhando para um futuro que é uma incógnita.
O que podemos esperar do que vem lá? Sabe-se lá!
Um dia antes do início da COP 15 a mídia propagou a todo o mundo a notícia nitidamente plantada, de que o cientista que anunciara o aquecimento global, maquiara os dados para ganhar notoriedade e pressionar o mundo a adotar medidas severas e consequentemente alocar mais verbas para detê-lo. E mais, a mídia divulgou ainda, que ao contrário do que se disse, a Terra até esfriara.
Interessante que esta “barriga” foi comida por grande parte da mídia dita séria e pôs em risco até o Prêmio Nobel de Al Gore, ex-vice-presidente norte-americano e ativista ambiental.
Em seguida, já no início da Conferência, “vazou” um rascunho de um eventual documento, que seria assinado pelos chefes de Estado que estariam na Dinamarca, que adiaria para 2.050 a assinatura de um novo protocolo, com força de lei, com bases para a redução da emissão de CO2 na atmosfera. Novamente a mídia inundou o mundo com tal informação, nitidamente absurda, que tinha a finalidade única de exacerbar os ânimos dos que iriam pressionar os líderes mundiais na capital dinamarquesa.
Barack Obama, contribuiu de maneira incisiva à contradição em que está enterrado o mundo, ao comparecer à Academia Sueca para receber um prêmio Nobel da paz que lhe tinha sido outorgado, por não se sabe quais méritos, justamente na semana em que anunciava o envio de mais de setenta mil soldados ao Afeganistão. Obama foi a Estocolmo e defendeu a guerra!
No capítulo das contradições, podemos por num dos pódios, a ministra-chefe da Casa Civil e chefe da delegação brasileira à Copenhagen, que disse às quatro mídias que o Brasil era um país pobre e que não teria a obrigação de aplicar num “Fundo Verde”, um bla-bla-blá, que não ia dar em nada.
Milhões riram da mancada da ministra e bastou, para que no dia seguinte inventassem que o governo iria por 5 bilhões no tal fundo. Pronto! A mídia espalhou, para alegria dos áulicos, que tal montanha de dinheiro iria para o nosso combalido clima.
Lula, mais comedido, mas nem um pouco modesto arriscou uns passos no mesmo sentido, mas sem falar em números e também sem deixar claro se as questões do clima eram responsabilidade de ricos ou pobres.
Ainda em Copenhagen, a secretária Hillary Clinton apostou em oníricos cem bilhões de dólares, até 2.020, para sossegar os que viam as vacas dos protestos irem rapidamente para o brejo nos braços da polícia. Conversa de quem não tinha nada a oferecer, além de promessas.
O fracasso da Conferência não foi coisa de todo inesperada. Já se sabia pelas declarações do Secretário Geral da ONU, do Presidente da França Sarkozy, das evasivas de Obama e do esperneio de muitos, como da pequena e paradisíaca Tuvalu, que pouco podia-se esperar de efetivo. Foi o que aconteceu.
Mas a reunião desesperada dos cinco países (EUA, Brasil, Índia, China e Índia) para produzir um documento, que foi rejeitado pela plenária, foi uma verdadeira empulhação, só possível no momento de ambigüidades em que vivemos.
Não foi só o clima, nem a qualidade de vida, nem o futuro no planeta que perdeu na batalha que Copenhagen representou. Mas, muito mais a verdade, a mídia respeitável e a liberdade de decidir-se o futuro sem sermos manipulados, saíram feridos mortalmente, demonstrando que o mundo está rodando fora dos eixos e vivendo uma falsa realidade disseminada eletronicamente pela mídia.
Antigamente, dizia-se que a mentira tinha perna curta; hoje ela tem milhões de bytes que a impulsiona e quando ela é descoberta, o estrago já foi feito. Reconstruir a verdade, efetivamente dá muito mais trabalho do que rechaçar a mentira e isto nem sempre é possível.
Luiz Bosco Sardinha Machado