quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A ERA DO BLEFE


Blefe é o aportuguesamento de uma palavra – bluff - largamente utilizada nas mesas de poker dos Estados Unidos e significa dissimulação, logro, engodo, etc.
Note que bluff não significa obrigatoriamente trapaça, mas uma forma de levar o adversário a acreditar naquilo que você o induz a fazê-lo.
O blefe é uma verdadeira instituição americana, que adora poker e leva tão a sério a arte de blefar, que o bluffer, o blefador, é venerado, copiado e imitado.

Quando Barack Obama iniciou sua campanha vitoriosa à Casa Branca, cujo slogan era “We can” (nós podemos), sua plataforma diferia da água para o vinho do governo de seu antecessor e basicamente, no plano externo fundava-se: na aproximação com todos os países indistintamente, inclusive os denominados por Bush como eixo do mal; fim das intervenções armadas no Afeganistão e no Iraque; desmobilização da base de Guantánamo em Cuba.
Prometia enfim, um governo de “esquerda”, onde as minorias teriam voz e vez e as questões sensíveis, que dizem respeito ao humanismo seriam prioridade.
À braços com uma crise mundial, Obama tinha créditos de sobra para enfrentá-la e saiu-se vitorioso, mas a imprensa não diz, essa vitória custou-lhe caro, politicamente e o tempo irá provar.
Um ano após eleito, o presidente americano parece que descobriu que entre a teoria e a prática existe um Mississipi de distância. Obama parece que encontrou a “direita”.
Se vale o dito “uma pessoa, um voto”, vale a contrapartida “um dólar é um dólar”. Afeganistão, já não é bem aquilo e lá vão mais setenta mil soldados. O Iraque precisa ainda ser “pacificado” e os prisioneiros de Guantánamo, ninguém os quer no quintal.
Na questão climática, o chamado mercado de carbono que envolve os valiosos dólares, as informações da presença americana num eventual protocolo de Copenhagen mudam de direção aos ventos do clima e das informações desencontradas e a assinatura americana é tão incerta quanto a quantificação dos números de CO2 retirados do meio ambiente pelo Brasil, por exemplo.
Pais que vai a Copenhagen levando na bagagem a ambiciosa meta de seqüestro , diminuição das emissões, em 40% do gás carbônico que despeja na atmosfera até 2.020, ao mesmo tempo em que denota um absurdo descomprometimento com questões ambientais internas.
Aliás, a todos os países em desenvolvimento interessa a imposição de altas metas de retirada de gás carbônico do meio ambiente, por que mercê da incipiente industrialização, sobrar-lhes-ão excedentes que poderão ser vendidos a países do primeiro mundo, gerando com isso milhões de dólares em receitas.
Seria interessante que se aproveitasse Copenhagen, onde Lula está posando de defensor do clima do planeta e se mostrasse a realidade dos desastres ambientais praticados por este governo e se exigisse dele uma explicação satisfatória, para intuir-se a sua real intenção.
Enumeraríamos algumas questões que vão muito além da conversa vazia, como a transposição do São Francisco, as hidrelétricas do rio Madeira e de Belo Monte, a reforma extemporânea do Código Florestal e o mais recente absurdo, a autorização para plantio de cana de açúcar, uma cultura que causa degradação ambiental irreversível, no santuário ecológico do pantanal matogrossense.
Ao preterir o ministro do Meio Ambiente e nomear a ministra-chefe da Casa Civil como a representante do Governo em Copenhagen para a Conferência do Clima, Lula sinalizou com quais critérios utiliza nas coisas que dizem respeito à sobrevivência na Terra: midiático e político.
Escolha infeliz e equivocada, que demonstra apenas o interesse da permanência no poder, pois no currículo da ministra consta, que além de ser candidata à sucessão de Lula, foi Ministra das Minas e Energia e é atualmente membro do Conselho Diretor da não muito ecológica Petrobrás.


Luiz Bosco Sardinha Machado

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