quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Computação, materiais e sustentabilidade




Escola São Paulo de Ciência Avançada tratará do uso de métodos computacionais avançados para resolver problemas relacionados aos novos materiais com aplicações nas áreas de energia e meio ambiente


Fábio da Castro/FAPESP
Durante duas semanas, um grupo de 70 estudantes brasileiros e estrangeiros terá o desafio de utilizar métodos computacionais avançados para resolver problemas relacionados aos novos materiais com aplicações nas áreas de energia e meio ambiente.
Entre 5 e 16 de setembro, eles participarão da São Paulo Advanced School on Computational Materials Science for Energy and Environmental Applications, na Universidade Federal do ABC (UFABC), em Santo André (SP).

O evento, realizado no âmbito da Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), modalidade de apoio da FAPESP, será organizado pela UFABC em colaboração com o Centro Internacional de Física Teórica Abdus Salam (ICTP, na sigla em inglês) – entidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), sediada em Trieste (Itália) – e a Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento (TWAS).
A escola terá a participação de 30 docentes, incluindo alguns dos pesquisadores mais consagrados do mundo na área de desenvolvimento de métodos computacionais avançados, de acordo com Caetano Rodrigues Miranda, coordenador da ESPCA e professor do Centro de Ciências Naturais e Humanas da UFABC.
“Existe a necessidade de satisfazer, de forma ambientalmente sustentável, uma enorme demanda mundial para novas fontes limpas e renováveis de energia e para a criação de metodologias para a exploração de combustíveis fósseis alternativos e de biocombustíveis. Um dos focos da escola será o debate sobre como resolver esses problemas a partir da escolha apropriada de materiais ou do desenvolvimento de novos materiais voltados para essas aplicações”, disse Miranda à Agência FAPESP.
O evento fornecerá, segundo ele, uma visão geral do uso de métodos computacionais para resolver problemas de materiais aplicados a perspectivas como energia solar, exploração de petróleo, células combustíveis, hidrogênio e biocombustíveis. “Vamos abordar novas tendências para resolver esses problemas a partir da ciência de materiais”, apontou.
A área abordada pela Escola é nova, mas se fundamenta em uma tradição bem consolidada. “A área de estrutura eletrônica, ligada à física, tem bastante tradição, mas sempre ficou restrita a problemas particulares da física. A ideia é trazer um pouco dessa tradição para os problemas atuais de energia e meio ambiente, pensando em aplicações industriais. Queremos estabelecer uma ponte entre pesquisa básica e inovação”, explicou.
Pela manhã, ao longo das duas semanas, os estudantes participarão de palestras com pesquisadores consagrados sobre aspectos atuais da área. À tarde, terão tutoriais para aplicar na prática os fundamentos debatidos pela manhã, com o objetivo de experimentar como os métodos computacionais podem ser usados efetivamente para resolver problemas relacionados à energia e ao meio ambiente.
“A ideia é que, além de refletir sobre os fundamentos, eles possam trabalhar independentemente, mas interagindo de forma intensa, estabelecendo colaborações entre eles e com os docentes participantes”, disse Miranda. Os participantes são alunos de mestrado e doutorado, metade proveniente da Europa, Estados Unidos e África. A outra metade é de alunos brasileiros.
O curso será ministrado, segundo o coordenador da Escola, por pesquisadores que se destacaram no contexto internacional pela elaboração de códigos computacionais amplamente utilizados em ciências de materiais, especialmente nos Estados Unidos e na Europa.
“Os palestrantes são justamente as pessoas que desenvolveram esses códigos. Trata-se de uma oportunidade única para os participantes – em especial para os estudantes latino-americanos – terem a possibilidade de uma interação intensa com esses pesquisadores”, afirmou.
Aplicação industrial 
Durante o curso, os estudantes terão à disposição dois laboratórios computacionais para aplicar as diversas metodologias que serão debatidas. O perfil do pessoal é bastante interdisciplinar, segundo Miranda.
“A maior parte do pessoal é proveniente das áreas de física, química e ciência dos materiais, mas utiliza o computador como ferramenta para resolver problemas relacionados à energia e ao meio ambiente. Eles irão trabalhar em uma ampla gama de vertentes, que vai do nível da mecânica quântica e da escala molecular às simulações de dinâmicas de fluidos em sistemas de grande porte, como oleodutos, por exemplo”, disse.
São Paulo Advanced School on Computational Materials Science for Energy and Environmental Applications incluirá ainda duas mesas-redondas. A primeira tratará das maneiras pelas quais as metodologias computacionais podem ser aplicadas na indústria.
“Vamos debater como a interface entre universidade e indústria se dá a partir do nosso tema. Teremos alguns convidados oriundos do setor produtivo e alguns pesquisadores que colaboram estreitamente com a indústria. Queremos debater como explorar essa interface, pois nessa área o diálogo entre indústria e academia é fundamental”, afirmou Miranda.
A outra mesa-redonda tratará das oportunidades de atuação em ciência e tecnologia no Estado de São Paulo e no Brasil. “A Escola trará estudantes de outros países e queremos mostrar a eles o campo que teriam para explorar se viessem para cá. Temos grande interesse em atrair esse pessoal”, disse.
Mais informações: http://pesquisa.ufabc.edu.br/ascms