Quase seis anos depois de  completar sua missão de pesquisar a alta atmosfera terrestre, o satélite  americano UARS está de volta. De acordo com os últimos cálculos, o  satélite deverá reentrar na atmosfera terrestre possivelmente no dia 26,  produzindo uma grande chuva de fragmentos incandescentes.

Segundo a agência espacial  americana, Nasa, a maior parte dos fragmentos será incendiada na  atmosfera superior, mas pedaços grandes com até 150 quilos deverão  chegar intactos à superfície, espalhando entulho espacial em uma faixa  de 800 km de comprimento ao longo do caminho. 
No entender da agência  americana, a possibilidade de um desses fragmentos atingir alguma pessoa  ou propriedade é extremamente baixa. Desde o começo da era espacial,  nos anos de 1950, nunca houve qualquer relato de vítimas causadas pela  reentrada de objetos espaciais ou danos materiais significativos  provocados pela reentrada de satélites. 
Dados estatísticos mostram que a chance de alguma pessoa ser atingida por algum fragmento espacial é da ordem de 1 em 3200. 
Difícil
Devido  ao grande número de variáveis envolvidas durante um processo  descontrolado de reentrada, como no caso do UARS, é muito difícil prever  com exatidão o dia e a hora que um satélite vai cair. Nem mesmo a  localização é possível estimar com precisão.

Uma dos principais fatores  que impedem uma previsão mais acurada do momento da reentrada é a  atividade solar, que interfere de forma bastante acentuada na densidade  da atmosfera, alterando significativamente o arrasto produzido nos  satélites. Para se ter uma ideia, uma recente tempestade solar fez com  que a Estação espacial Internacional, ISS, "caísse" rapidamente 30 km em  sua altitude nominal.
O satélite UARS (Upper Air  Atmosferic Research) orbita a Terra na mesma inclinação que a ISS, que é  de 56 graus. Assim, toda a faixa do globo compreendida entre as  latitudes 56 graus ao norte do equador e 56 graus ao sul do equador  podem vir a ser atingidas pelos restos espaciais. Dessa forma, se você  já viu a Estação Espacial cruzar o céu também tem chances de ver os  fragmentos da reentrada do satélite UARS. 
Estimativas
Os  cálculos de reentrada são feitos diversas vezes ao dia e as melhores  estimativas até o momento indicam que a data mais provável será dia 26  de setembro. Até 13 de setembro, o satélite orbitava a Terra a uma  altitude de apenas 254 km, a 27 mil km/h.
À medida que o tempo  passa, o artefato sofre com os efeitos da densidade do ar nas camadas  mais elevadas da atmosfera. Isso o faz perder velocidade e  consequentemente, altitude. Normalmente, quando atinge 180 km acima da  superfície o processo é irreversível e se não houver propulsão para  eleva-lo a uma altitude mais segura, fatalmente cairá. 
Reentrada e queima
Naves  que reentram sem controle na atmosfera, normalmente se rompem entre 72 e  84 quilômetros de altitude devido à temperatura e forças aerodinâmicas  que agem sobre a estrutura. A altitude nominal do rompimento é de 78 km,  mas satélites de grande porte que têm estruturas maiores e mais densas  conseguem sobreviver por mais tempo e se rompem em altitudes mais  baixas. Painéis solares são destruídos bem antes, quando os satélites  ainda estão entre 90 e 95 km.

Uma vez que a espaçonave  ou seu corpo principal se rompem, diversos componentes e fragmentos  continuam a perder altura e se aquecer, até que se desintegram ou  atingem a superfície. Muitos dos componentes são feitos em alumínio, que  se derretem facilmente. Como resultado, essas peças e desintegram  quando a nave ainda está em grandes altitudes. Por outro lado, se um  componente é feito com material muito resistente, que necessita de altas  temperaturas para atingir o derretimento, pode resistir por mais tempo e  até mesmo sobreviver à reentrada. Entre esses materiais se encontram o  titânio, aço-carbono, aço inox e berilo, comumente usados na construção  de satélites. 
O interessante é que ao  mesmo tempo em que são resistentes às altas temperaturas, esses  materiais também são muito leves (por exemplo, chapas de tungstênio) e  como resultado a energia cinética no momento do impacto é tão baixa que  raramente provoca danos de grande porte. O problema começa com a  composição química residual, que dependendo do componente que sobreviveu  à reentrada, pode conter material extremamente tóxico, como a  hidrazina, utilizado como combustível ou até mesmo material radioativo,  usado na geração de energia elétrica.  
Fotos:  Acima, tanque de pressurização de um foguete Delta 2, que sobreviveu à  reentrada no dia 22 de janeiro de 1997. No centro, gráfico mostra a  previsão de reentrada do satélite UARS. No topo, reentrada não  programada do ônibus espacial Columbia em 1 de fevereiro de 2003.   Crédito: Nasa, Apolo11.com 
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