segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pyxine jolyana


Pesquisadora da Unesp descreve nova espécie de fungo liquenizado no litoral de São Paulo com nome em homenagem a Carlos Joly, coordenador do BIOTA-FAPESP (foto:Patrícia Jungbluth)

Por Mônica Pileggi/Agência FAPESP 
 Uma nova espécie de líquen – resultante de simbiose entre um micobionte (fungo) e um fotobionte (algas verdes ou cianobactérias) – foi encontrada no litoral paulista por Patrícia Jungbluth, pesquisadora do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências, da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Trata-se do fungo Pyxine jolyana, descrito na revistaMycotaxon. O nome é homenagem ao professor Carlos Alfredo Joly, da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped) do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI) e coordenador do Programa BIOTA-FAPESP, de quem Jungbluth foi aluna durante a graduação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Ela conta que a identificação da espécie em três municípios de São Paulo (Peruíbe, Ubatuba e São Luís do Paraitinga) ocorreu durante seu doutorado no Instituto de Botânica da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, sob a orientação do professor Marcelo Marcelli, coautor da descoberta.
Sua pesquisa integrou o projeto "Biota Gradiente Funcional", coordenado por Joly e que integra o BIOTA-FAPESP.
De acordo com Jungbluth, uma das principais características da Pyxine jolyana é a presença de ácido norstíctico, substância química rara em espécies desse gênero na América do Sul e encontrada no talo do líquen.
Até então, a pesquisadora conta que apenas uma espécie contendo o ácido, a Pyxine retirugella Nylander, havia sido encontrada no Brasil, em 1890, pelo liquenólogo finlandês Edvard August Vainio. Essa espécie foi identificada pela primeira vez em 1859 nas Ilhas Marquesas (Polinésia) pelo botânico finlandês Wilhelm Nylander.
“Creio que a descoberta da Pyxine jolyana é importante porque sabemos muito pouco sobre os liquens existentes nos ecossistemas brasileiros. Em nossos cursos de graduação em biologia, eles são pouco mencionados e raramente estudados em aulas práticas”, disse Jungbluth à Agência FAPESP.
Segundo ela, os liquens são usados e até mesmo exportados como adornos junto a musgos em arranjos florais. A cientista alerta que esse fato pode levar algumas espécies ainda desconhecidas à extinção, pois a micota liquênica cresce de forma lenta, na ordem de milímetros ao ano.
“Os liquens também são utilizados para a fixação do aroma em perfumes e, devido à produção de substâncias antibióticas e anticancerígenas, são empregados na área de biotecnologia e farmacologia. Além disso, são úteis como bioindicadores da qualidade do ar, mas essa parte também é pouco estudada no Brasil”, ressaltou.
Já foram descritas cerca de 60 espécies do gênero Pyxine em todo o mundo, sendo mais de 30 encontradas no Brasil. “O desconhecimento e a falta de interesse em liquenologia no país, e provavelmente na América Latina, é relativamente grande. Os liquenólogos brasileiros descobrem novas espécies a cada ano, mas há poucos especialistas para a quantidade de liquens a serem estudados”, disse Jungbluth.
O artigo A new species and a new record of Pyxine (Physciaceae) with norstictic acid from São Paulo State, Brazil (doi: 10.5248/115.435), de Patrícia Jungbluth e outros, pode ser lido por assinantes da Mycotaxon emwww.ingentaconnect.com/content/mtax/mt/2011/00000115/00000001/art0005