sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Pacamã, espécie do Rio São Francisco, ganha estudo especial do Laboratório de Aquacultura


NOTICIAS DA UFMG
O pacamã (nome científico: Lophiosilurus alexandri) é um peixe típico da bacia do rio São Francisco. Com alto rendimento de filé e sem espinhos intramusculares, sua carne é bastante apreciada. Sua reprodução se dá através de desovas parceladas, o que significa que acontecem várias vezes durante um ciclo reprodutivo. Estes motivos, aliados à escassez de publicações científicas sobre a espécie, levaram pesquisadores do Laboratório de Aquacultura (Laqua) da Escola de Veterinária da UFMG a buscar conhecer mais sobre o peixe, estudando sua reprodução e manejo.
O primeiro lote de pacamãs chegou à Escola no mês de setembro de 2009 e novos lotes continuaram sendo trazidos. Como explica o professor Ronald Kennedy Luz, que coordena as pesquisas, eles são capturados diretamente do rio e colocados nos tanques do Laqua para serem estudados.
“Este ano fizemos uma boa captura, trouxemos 20 animais em janeiro e, em julho, eles já começaram a desovar. Isso para nós já é uma vantagem, conseguimos fazer a desova durante o período de inverno por termos, no laboratório, fatores ambientais controlados, como temperatura, luz e oxigênio”. De acordo com o professor, a reprodução na natureza só tem início entre os meses de setembro e outubro. Já no Laqua, aconteceram, desde julho, 10 desovas.
Em laboratório, todo o processo reprodutivo dos animais pode ser acompanhado. Colocados em tanques, machos e fêmeas se reproduzem e realizam a desova, que é recolhida pelos pesquisadores e levada à incubação artificial, processo que dura até a eclosão do ovo. As larvas, ao nascerem, passam um período vivendo de seu alimento interno, chamado vitelo, e depois são alimentadas com microcrustáceos (artêmia) durante 15 dias. É após este processo que se inicia o que se chama de condicionamento alimentar.
Segundo Ronald, o Pacamã é uma espécie carnívora. “É preciso realizar uma fase de treinamento para evitar o canibalismo, que é um problema comum. Seria economicamente inviável alimentar os peixes com outros peixes vivos durante a engorda”, esclarece. Durante esta fase, os animais passam por um período de alimentação semiúmida e, gradualmente, é introduzida a ração seca comercial.
O trabalho de acompanhamento da reprodução dos animais busca entender o comportamento e os parâmetros reprodutivos da espécie. Além disso, os animais já treinados, que comem ração, permitem estudos sobre qual a melhor densidade de alimento a ser fornecido, a frequência de alimentação, a quantidade de ração necessária, densidade de estocagem, temperatura da água e outros fatores relacionados ao manejo.

Nova linha
Organismos juvenis produzidos no laboratório também serão, a partir de agora, objeto de uma nova linha de pesquisa, voltada a seus aspectos nutricionais, digestibilidade e níveis de proteína e energia. Essas pesquisas pretendem perceber se os animais conseguem adquirir peso comercial em tempo razoável, analisar sua viabilidade econômica. “Quando tivermos um pacote tecnológico, que já existe para os estágios iniciais de vida da espécie, vamos tentar colocar isso no mercado para o produtor rural, para que se possa começar a produzir o pacamã a nível comercial”.
As pesquisas têm sido reconhecidas e rendem bons resultados. Em julho de 2011, o resumo “Frequência alimentar para juvenis de Lophiosilurus alexandri” foi apresentado durante a III Conferência Latino-americana sobre Cultivo de Peixes Nativos, em Lavras, e ficou em terceiro lugar na categoria de mérito científico na área de nutrição e alimentação de peixes nativos. O trabalho foi feito por André Eduardo Heringer Santos, em coautoria com Reinaldo Melillo Filho, Walisson de Souza e Silva, Lucas Alves Rodrigues, Edgar de Alencar Teixeira e Ronald Kennedy Luz.
Os estudos sobre o pacamã são realizados em parceria com outros laboratórios, como, por exemplo, o Laboratório de Genética e o Laboratório de Patologia Clínica, com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e a PUC Minas. No projeto estão envolvidos 10 bolsistas, entre iniciação científica (graduação), mestrado, doutorado e pós-doutorado, e financiamento da Fapemig e do CNPq.
(Assessoiria de Comunicação da Escola de Veterinária)