Estados Unidos e Rússia se uniram para expandir a fronteira  petrolífera para o Polo Norte. A gigante norte-americana Exxon e a  estatal russa Rosneft assinaram um contrato para exploração de três  campos de petróleo no nordeste da Rússia, que se expandem por 126 mil  quilômetros quadrados – área equivalente a três vezes o estado do Rio de  Janeiro.
As reservas de petróleo e gás sob o gelo do Ártico estão entre as  maiores do mundo, equivalendo a 22% do potencial mundial inexplorado,  segundo estimativas norte-americanas. E como a massa de gelo está  diminuindo por causa do aquecimento global, os poços agora podem ser  alcançados. Um negócio bilionário que nem Estados Unidos nem Rússia  querem perder.
O acordo prevê um investimento inicial de 3,2 bilhões de dólares para  a exploração de campos de petróleo no Mar de Kara, no Ártico, e também  no Mar Negro. Mas esse é só o começo.
"Os investimentos diretos no projeto são da ordem de 300 bilhões de  dólares. Se considerarmos a infraestrutura, podem chegar a 500 bilhões",  anunciou o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, durante a  assinatura do contrato nesta quarta-feira (31/08).
Para  a Rússia, a cooperação com a Exxon não é um passo apenas importante,  mas também necessário, já que a exploração de petróleo no Ártico é  extremamente cara e complexa. Os campos no Mar de Kara já pertencem à  Rosneft, mas os russos não têm tecnologia para perfurar os poços a 350  metros de profundidade. Os americanos fornecem o know-how e, em troca, ganham acesso a uma das últimas reservas de petróleo e gás inexploradas do mundo.
De acordo com estimativas da Rosneft, os campos no Mar de Kara, ao  norte da Sibéria, têm potencial para extração de 36 bilhões de barris de  petróleo. Avalia-se que a região abrigue um volume total equivalente a  110 bilhões de barris – quatro vezes mais do que as atuais reservas da  Exxon em todo o mundo. As reservas do Mar Negro são estimadas em nove  bilhões de barris de petróleo. As primeiras perfurações devem começar em  2015.
Ganha-ganha
O acordo agrada a russos e a americanos. "Novos horizontes estão se  abrindo", disse Putin. O presidente da Exxon também se emocionou: "Com  esse acordo, nossa parceria atinge um novo patamar. Ele vai criar valor  substancial para ambas as empresas." Os russos ficam com a maior parte  da exploração – dois terços para a Rosneft, um terço para a Exxon.
Ao fechar o acordo, a Exxon passou para trás seus concorrentes  europeus. Quem negociava com os russos até então era o grupo britânico  BP. Mas, devido a desentendimentos internos entre os acionistas  majoritários, o negócio foi cancelado. Até o grupo anglo-holandês Shell  estava em tratativas com a Rosneft.
Esta  não é a primeira experiência da Exxon com a Rosneft. Desde meados dos  anos 1990, a petrolífera norte-americana explora campos de petróleo com a  Rosneft ao redor de Sachalin, ilha russa no Oceano Pacífico. Diferente  das negociações com a BP, o contrato da Exxon com a Rosneft não prevê  intercâmbio de ações.
Mesmo assim, ele envolve riscos: por enquanto, é impossível dizer ao  certo quanto dinheiro será preciso investir nas águas profundas do  Ártico, ou quando os investimentos serão recuperados. "Para que se tenha  uma visão geral sobre as perspectivas dos campos de petróleo no Ártico  serão necessários ainda de cinco a sete anos", avalia o analista do  Banco Moskwy, Denis Borisow.
Falta tecnologia para lidar com catástrofes
Ambientalistas vêem a corrida para exploração de petróleo no Ártico  com grande preocupação. O ecossistema do Polo Norte é especialmente  vulnerável, e não existe qualquer infraestrutura para lidar com o  derramamento de petróleo no gelo, de acordo com um relatório publicado  pela organização ambientalista WWF.
"O WWF tem chamado a atenção repetidamente para o fato de que não  existem tecnologias eficazes para combater o derramamento de petróleo em  geleiras. Mas a pressa em explorar os recursos do Ártico ofusca  qualquer argumento racional ou apelo para que se aprendam lições com  catástrofes como a do navio Exxon Valdez (1989) ou da plataforma  Deepwater Horizon (2010)", critica o chefe do programa de petróleo e gás  no Ártico do WWF, Mikhail Babenko.
A organização assinou esta semana um acordo com a Rosneft e a Exxon  que prevê o desenvolvimento conjunto de três locais de teste no Mar de  Kara, onde as empresas terão que trabalhar sob duras condições  climáticas.
FF/dw/rtr/dpa
Revisão: Roselaine Wandscheer


