quarta-feira, 24 de março de 2010

MÉTODO AMPLIA FORMAS DE ANÁLISE DA ÁGUA PARA CONSUMO

Informe Ensp/fiocruz

Um relatório emitido pelo Programa do Meio Ambiente das Nações Unidas (Unep) nesta segunda-feira (22/3), Dia Mundial da Água, revelou que "mais pessoas morrem hoje por causa da água poluída e contaminada do que por todas as formas de violência, inclusive as guerras". Portanto, agregar metodologias que avaliem a qualidade da água para consumo humano se faz necessário em todo o mundo. O trabalho desenvolvido pelos pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Antonio Duarte e Valmir Laurentino amplia as possibilidades de análise com a pesquisa de parasitos na água.


Os pesquisadores Valmir Laurentino e Antonio Duarte (Foto: Virgínia Damas/Ensp)


Desenvolvido nos municípios de Angra dos Reis e Paraty, nas tribos indígenas guarani, o trabalho, segundo os pesquisadores, complementa a vigilância da qualidade da água convencionalmente estabelecida por meio da análise físicoquímica e microbiológica. "Normalmente, o trabalho dos órgãos responsáveis pela qualidade da água consiste em uma análise físicoquímica e microbiológica. O nosso, desenvolvido em parceria com a UFF e a Funasa, visa levantar a possibilidade de contaminação da água com formas evolutivas de helmintos e protozoários por meio de exames parasitológicos e imunológicos, que permitem a pesquisa de antígenos de criptosporídeos, amebas e giardias", afirma Duarte.

Ainda de acordo com os pesquisadores, apesar de haver uma recomendação do Ministério da Saúde para aplicação dessa metodologia, por meio da Portaria Nº 518, que estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, seu emprego é uma novidade. "A água da tribo passa por um processo simples de tratamento, que compreende um sistema de filtração artesanal e cloração. O trabalho vem sendo feito desde o segundo semestre de 2009 e os resultados parciais indicam que a Funasa tem sido muito eficaz no tratamento, pois a água para consumo dos índios foi considerada de boa qualidade", diz Valmir.

A ideia é expandir a metodologia e aplicá-la na análise da água para consumo humano em diversas regiões. Segundo os pesquisadores, o trabalho será desenvolvido na Ilha da Marambaia, onde a Marinha do Brasil e a Ensp assinaram um termo de compromisso com vistas ao desenvolvimento de projetos e atividades no campo do ensino e pesquisa em ciência e tecnologia. Também já recebeu solicitações de prefeituras como a de Casimiro de Abreu. "A tendência é aplicar essa metodologia para pesquisa de parasitos e refiná-la para uso rotineiro em serviço. Estamos participando de um projeto, em parceria com o Departamento de Saneamento, em que vamos realizar essa análise na Baía de Guanabara. Reconhecemos a importância de aumentar a capacidade de avaliação da qualidade para um tratamento mais apurado", alerta Valmir.

O Dia Mundial da Água

Este ano com o tema Água limpa para um mundo saudável, o Dia Mundial da Água busca aumentar a conscientização sobre a manutenção de ecossistemas saudáveis e elevar o perfil da qualidade da água por parte dos governos incentivando organizações, comunidades e indivíduos em todo o mundo a participar ativamente na prevenção da poluição, limpeza e restauração.

No relatório intitulado Água doente, lançado nesta segunda-feira, o Unep afirmou que 2 milhões de toneladas de resíduos, que contaminam cerca de 2 bilhões de toneladas de água diariamente, causaram gigantescas zonas mortas, sufocando recifes de corais e peixes. O resíduo é composto principalmente de esgoto, poluição industrial e pesticidas agrícolas e resíduos animais.

Ainda segundo o relatório, a falta de água limpa mata 1,8 milhão de crianças com menos de 5 anos de idade anualmente. Grande parte do despejo de resíduos acontece nos países em desenvolvimento, que lançam 90% da água de esgoto sem tratamento. A diarreia, principalmente causada pela água suja, mata cerca de 2,2 milhões de pessoas ao ano, segundo o relatório, e "mais da metade dos leitos de hospital no mundo são ocupados por pessoas com doenças relacionadas à água contaminada".