quarta-feira, 31 de março de 2010

PARÁ RESPONDE À CHAMADA NUTRICIONAL


Peso e altura: em mais de 25% das crianças, foram detectadas carências alimentares


por Andréa Mota


foto Mácio Ferreira/jornal beira do rio/UFPA

A cada pequeno par de pés que sobe em uma balança, inúmeros indicadores sociais surgem revelando a realidade do País. Renda, saneamento básico, acesso à saúde, alimentação adequada e até nível de escolaridade aparecem quando se avalia o estado nutricional das crianças de uma região. Pensando nisso, a Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, as secretarias de Estado e as universidades distribuídas pelo Brasil criaram o Inquérito Nutricional de crianças brasileiras menores de cinco anos.







Também conhecida como Chamada Nutricional, a iniciativa conjunta propunha verificar a situação nutricional em amostras representativas da população infantil brasileira. O objetivo era alimentar as informações do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) e subsidiar ações de saúde pública à população das regiões analisadas. Em 2007, a Chamada Nutricional aconteceu na Região Norte, durante as duas fases da Campanha Nacional de Vacinação, ocorridas em junho e agosto. Em 2009, os resultados foram apresentados.






No Pará, mais de duas mil crianças menores de cinco anos, distribuídas em 15 municípios, foram avaliadas. Municípios de toda a Região Norte foram convidados a participar do inquérito, sendo Acre, Amazonas, Amapá e Pará na primeira fase e Rondônia, Roraima e Tocantins na segunda. Entretanto, para a análise dos dados, foram utilizadas as informações de uma amostra de localidades escolhidas por sorteio aleatório. Os municípios paraenses foram Anajás, Curralinho, Juruti, Novo Repartimento, Nova Ipixuna, Bragança, Água Azul do Norte, Baião, São Miguel do Guamá, Rondon do Pará, São Félix do Xingu, Marituba, Castanhal, Santarém e Belém.






De acordo com o relatório intitulado “Determinantes para Políticas Públicas de Saúde e Nutrição para a População Paraense”, elaborado pelos organizadores da pesquisa – Secretaria de Saúde Pública do Estado do Pará, Centro Colaborador de Alimentação e Nutrição da Região Norte (Cecan) e Faculdade de Nutrição da Universidade Federal do Pará – são pouquíssimos os inquéritos probabilísticos sobre o estado nutricional da população infantil do Estado.






Baixo peso ao nascer é indicador global de saúde


Altura e peso na balança, questionário na mão. Enquanto os pequenos passaram pela avaliação antropométrica, seus responsáveis preencheram um questionário com informações sobre saúde, medidas, hábitos alimentares das crianças, situação socioeconômica da família e participação em programas sociais.






Segundo as características sociodemográficas, as crianças investigadas apresentaram como principal responsável o pai, seguido da mãe e de avós. A maioria desses responsáveis tem entre 20 e 39 anos e mais de 60% apresentam entre cinco e 11 anos de estudo. Outro aspecto verificado foi o acesso aos programas sociais, entre eles: Programa Bolsa Família, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e Benefício de Prestação Continuada (BPC). Nos resultados obtidos, ficou demonstrado que a maioria das famílias não está vinculada a programas sociais. Apenas o Bolsa Família esteve presente entre as 67% das famílias indagadas. Entretanto, mais de 10% da população pobre da região não recebe a complementação de renda dada pelo Programa.






Durante a pesquisa, as famílias foram consultadas sobre a utilização da Caderneta de Saúde da Criança, ferramenta criada pelo Ministério da Saúde para acompanhar o desenvolvimento de crianças menores de dez anos. Mais de 67% das famílias preencheram a Caderneta, no mínimo, duas vezes num período de seis meses. Outro dado importante diz respeito ao preenchimento da Caderneta no momento do nascimento da criança. No relatório, notou-se a importância deste indicador para se averiguar a realidade da saúde na localidade. “Esse tipo de informação torna-se extremamente necessário, uma vez que o baixo peso, ao nascer, é considerado o principal problema de saúde pública e um indicador global de saúde que traduz a eficácia do sistema de saúde local”, ressaltam os organizadores.






Quanto à alimentação, constatou-se a presença de déficits nutricionais quando averiguados dados como peso e altura. Em mais de 25% das crianças, foram detectadas carências alimentares, valor elevado se comparado aos resultados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde, em 1996 e 2006, para a Região Norte do Brasil. No que se refere ao perfil alimentar, em mais de 40% da amostra, o aleitamento materno aparece como alimentação exclusiva até os cinco meses de vida. O índice cai para 16,8% entre crianças de seis meses a dois anos de idade.






Inquérito identifica abandono precoce do aleitamento


O Inquérito Nutricional identificou o abandono precoce do aleitamento materno, sugerido como exclusivo nos primeiros seis meses de vida. Mais de 50% das famílias fazem uso de mel, papas salgadas e sucos antes dos seis meses. Para os pesquisadores, a introdução desse tipo de alimento é um dos responsáveis pelo abandono do aleitamento materno exclusivo. Além disso, “o mel é contraindicado no primeiro ano de vida pelo risco de contaminação com Clostridium botulinum, bactéria encontrada em águas e alimentos, a qual pode causar toxi-infecção alimentar”, ressalta o relatório.


Entre as famílias pesquisadas, mais de 50% oferecem alimentos ricos em açúcar, como biscoitos recheados, para crianças maiores de dois anos. Segundo os pesquisadores, a utilização desse tipo de alimento pode contribuir para doenças crônicas e outros problemas de saúde.






Diante dos resultados, o relatório reforça a importância de investimentos em políticas públicas voltadas para crianças menores de cinco anos de idade. Entre as recomendações estão: a melhoria da educação da população, a correção de hábitos alimentares e o incentivo ao aleitamento materno.


Os pesquisadores também chamam atenção para a reestruturação dos cuidados ofertados na atenção básica e para a avaliação dos programas já existentes. De acordo com o relatório, a intenção é que o estudo sirva para conscientizar os governantes das carências da população.