‘Azeitoninha-das-nuvens’ é como os pesquisadores apelidaram uma árvore descoberta na Serra do Mar. Mas o avanço do aquecimento global periga colocá-la logo na lista de espécies vegetais ameaçadas de extinção.
Por: Bruna Ventura
‘Symplocos atlântica’: apelido de azeitoninha-das-nuvens em alusão aos frutos que parecem azeitonas e por causa de sua localização na mata de neblina (foto: Thayná J. Mello).
Descoberta recentemente, a Symplocos atlântica ganhou o apelido de azeitoninha-das-nuvens por causa de seus frutos pretos, no formato de azeitonas, e sua localização, na floresta nebular. Esse tipo de vegetação, também conhecida como mata de neblina, cresce nas alturas da mata atlântica ou em outros biomas. Na porção da Serra do Mar onde vive a azeitoninha, essa formação ocorre a partir de 1.100 metros acima do nível do mar e apresenta constante condensação de umidade, baixas temperaturas e ventos frequentes.
Com o avanço do aquecimento global, entretanto, as altas temperaturas podem ameaçar toda a floresta nebular, e a azeitoninha-das-nuvens, que acaba de ser identificada, pode entrar na lista de espécies vegetais ameaçadas de extinção.
O biólogo Ricardo Bertoncello, que pesquisou sobre a floresta nebular em seu mestrado na Universidade Estadual de Campinas, publicou a descrição da espécie junto com o biólogo João Aranha Filho no Harvard Papers in Botany. Ele conta que a sua ocorrência se restringe a topos de morros e que, por enquanto, ela só foi encontrada na Serra do Mar, na divisa entre Paraty (RJ) e Ubatuba (SP).
A espécie cresce na floresta nebular da Serra do Mar, a mais de 1.100 metros de altitude (foto: Thayná J. Mello).
Cinturão de nuvens pode subir com aquecimento
Caracterizada por sua baixa estatura (altura máxima de nove metros), ramos bastante retorcidos, folhas grossas, flores brancas e pequenas, além dos frutos carnosos, a espécie não resistiria longe de seu hábitat.
“Estudos recentes indicam que o aumento na média da temperatura global acarretaria uma elevação do cinturão de nuvens e o aumento da evapotranspiração, levando a uma dupla perturbação no ambiente”, afirma Bertoncello.
Nesse contexto, muitas espécies de topo de morro estariam ameaçadas, “podendo ocorrer perda de biodiversidade, invasão de espécies de altitudes menores e possível desaparecimento das florestas nebulares”.
O biólogo lembra que não se pode ter certeza de que o aquecimento global esteja diretamente relacionado à ação do homem, “uma vez que existem variações naturais de temperatura ao longo da história do planeta que determinaram em grande parte a distribuição atual das espécies, além de processos naturais de extinção e especiação”.
Ainda assim, é preciso tomar precauções: “Acredito que a redução da emissão dos gases relacionados ao efeito estufa seja crucial no momento como medida de precaução, além da propagação e manutenção de vários indivíduos da espécie em casas de vegetação climatizada”, propõe Bertoncello.
Bruna Ventura
Ciência Hoje/RJ/