segunda-feira, 10 de maio de 2010

EUCALIPTOS CLONAIS AJUDAM A SUPRIR DEMANDA DE MADEIRA PARA DIVERSOS USOS

Vilma Homero/FAPERJ



Até 2011, a Du Campo pretende passar dos atuais 4 milhões para 8 milhões de mudas, ampliando suas instalações

Considerando que um eucalipto apto ao corte produz 0,38 m³ de madeira, uma pessoa de 68 anos terá consumido, ao longo da vida, cerca de 300 árvores. Para isso, basta que tenha usado papel, móveis, adquirido um automóvel ou mesmo consumido energia. Os dados são da Universidade Federal de Viçosa e sinalizam para a necessidade de, cada vez mais, se usar madeira de reflorestamento.

 A empresa Du Campo, de Bom Jesus do Itabapoana, produz 4 milhões de mudas de eucaliptos clonais por ano para finalidades que variam da produção de polpa de papel à indústria moveleira, passando pelos laminados de madeira e a produção de energia. Trata-se de projeto desenvolvido com recursos do programa de Rio Inovação – Apoio à Difusão e Inovação Tecnológica, da FAPERJ.
 



Como explica o gerente da Du Campo, Nyder Barbosa de Menezes Segundo, trata-se de eucaliptos clonais, ou seja, mudas geneticamente similares, que passaram por um processo de melhoramento e seleção ao serem reproduzidas. "As matrizes, adquiridas de empresas como a fábrica de papel Suzano, são plantadas em leitos de areia, em canaletas suspensas, pelo processo de hidroponia", explica Nyder. Ali, elas recebem todos os nutrientes necessários.

Tão logo começam a brotar, as pequenas mudas são podadas. "Mantemos apenas o par de folhas basais, que são aquelas próximas ao tronco", explica. Em cada ponto onde houve essa poda, nascem dois novos brotos. Novamente cortados, cada um deles gera outros dois brotos. Isso significa que, em média, cada matriz adquirida gera 10 estacas por mês. "É a média dos materiais clonais."


Cada planta matriz de eucalipto é capaz de gerar 10 estacas por mês

Cada um desses brotos podados é transplantado para tubetes (estaqueado) com substrato apropriado a seu enraizamento, e levado a se desenvolver em estufas, onde condições climáticas favoráveis são constantemente monitoradas. Uma vez que iniciam o enraizamento e o crescimento, as mudas daí resultantes passam por uma pré-aclimatação, em viveiros protegidos do sol com tela a 50% para, em uma fase seguinte, serem adaptadas em viveiros a sol pleno. "Chamamos a isso de rustificação. Significa que são irrigadas para manter o crescimento, enquanto suportam as condições naturais do ambiente, tornando-se assim mais resistentes às intempéries, ao estresse de água etc."

Em nenhuma das fases do projeto usa-se hormônio para induzir o enraizamento. "Como o processo de resistência a pragas foi feito anteriormente, no desenvolvimento das matrizes, elas são plantas sadias, com boa resistência a doenças", explica Nyder.

Planta originária da Austrália, o eucalipto teve o plantio intensificado no País a partir do século XX. Seu uso continua sendo dos mais diversificados: empregado em dormentes para ferrovias, como postes, transformado em carvão vegetal para uso na siderurgia, na indústria de papel etc. Seu plantio também é disseminado. Tanto floresce em solos pobres quanto em solos secos. Da árvore, praticamente tudo é aproveitado: se o tronco tem as aplicações já mencionadas, de suas folhas extraem-se óleos essenciais para perfumes, alimentos e produtos de limpeza; o tanino de sua casca é empregado para o curtimento do couro; suas fibras entram como matéria-prima para a fabricação de papel e celulose; e, não menos importante, do pólen extraído de suas flores, é produzido mel de altíssima qualidade. No Brasil, dos 350 milhões de metros cúbicos de madeira consumidos por ano, 100 milhões já provêm de plantios florestais, a maior parte de eucaliptos. Sem contar que o eucalipto nacional é dez vezes mais produtivo do que outras árvores utilizadas em países de clima frio para produzir celulose.

A Du Campo produz 4 milhões de mudas de eucaliptos clonais por ano. "Embora seja uma boa produção, ainda é um número ínfimo em relação à demanda do mercado. Por isso nossa perspectiva é de ampliar a produção. A ideia é duplicar essa capacidade até meados ano que vem."


Ao atingir determinado tamanho, as mudas de eucalipto são vendidas para empresas produtoras de papel

Para isso, no entanto, a empresa precisará também ampliar sua estrutura. "Uma vez que a estrutura da Du Campo só permite que operemos na atual capacidade, precisaremos aumentar os viveiros e ampliar todas as fases de nossas instalações." A única fase que a Du Campo não realiza é a de produção de matrizes geneticamente melhoradas, desenvolvidas por propagação in vitro. Esse material é adquirido de empresas de produção de papel e de siderurgia. "Não temos estrutura, laboratórios, nem condições para, por exemplo, desenvolver os testes industriais necessários para saber se a celulose de determinada linhagem de eucalipto é boa ou não. Assim, é mais interessante comprar as cepas de quem já vem fazendo tudo isso."

“Apoios como esse têm sido continuamente estimulados pela FAPERJ”, afirma Rex Nazaré, diretor de Tecnologia da Fundação. E prossegue: “Com investimentos de pequena monta, o resultado que se vem conseguindo, em muitas das cidades do interior fluminense, é a geração de novos empregos, com a manutenção do cidadão em seu local de origem, e melhorando a sua qualidade de vida.”

Mesmo com a necessidade de ampliar a produção, a técnica de propagação in vitro, por enquanto, não se mostra interessante economicamente. "É que o custo de tudo isso para espécies como eucalipto não compensa, já que o preço final para a revenda das mudas continuaria o mesmo", diz. Empresa de origem capixaba que migrou para o Rio de Janeiro, Minas Gerais e Maranhão, a Du Campo está em vias de crescer em terras fluminenses. "Vamos chegar a 8 milhões de mudas no próximo ano."