terça-feira, 4 de maio de 2010

O PROBLEMA DO LIXO


Projeto em Campinas quer estimular e quantificar atividade das bactérias metanotróficas (que oxidamo gás metano) na cobertura de aterros sanitários

Um projeto da Poli coordenado por Marinho, em parceria com a bióloga Vivian Pellizari, docente do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, pesquisa em Campinas diferentes materiais e métodos para cobertura do aterro sanitário Delta A1. A meta é otimizar a oxidação do metano (CH4) por bactérias, para diminuir a emissão do gás – o mais nocivo ao aumento do efeito estufa – na atmosfera. "Um dos nossos objetivos é a quantificação, isto é, saber quanto de metano está sendo deixado de ser emitido. Para isso, o desafio é desenvolver um sistema de monitoramento.", conta o professor da Poli.

Também tratando da disposição de resíduos, o professor Osni Pejon desenvolve na EESC uma pesquisa de materiais naturais que podem ser usados como barreira protetora, retendo os contaminantes e impedindo a contaminação do solo e da água subterrânea em São Carlos. "A disposição de qualquer resíduo não pode ser feita sem estudos prévios das características do solo, relevo e posição dos aquíferos, para que não haja risco de contaminação. Na maioria das cidades, lixões e aterros não fazem a proteção correta, e um dos motivos é o custo – é por isso que pesquisamos materiais naturais disponíveis no solo da própria região, o que barateia o sistema", explica o docente.

Ocupação segura de encostas

Na Poli, as pesquisas de geotecnia ambiental são realizadas principalmente no Laboratório de Mecânica dos Solos, do qual Fernando Marinho faz parte. Um outro estudo conduzido pelo professor no Laboratório teve início em 2008 e entra agora em sua segunda etapa. Em conjunto com o Instituto Geológico (IG) do Estado de São Paulo, foi desenvolvido um sistema de instrumentação que avalia como se dá o processo de infiltração da água na região da Serra do Mar, o que pode variar dependendo da inclinação do terreno, da condutividade hidráulica e do uso e ocupação do solo.

"Com o conhecimento adquirido, a ideia agora é colocar estes instrumentos em encostas com risco de escorregamento. Compreendendo como se dão tais processos na região, no futuro há a possibilidade do sistema ser usado para monitorar áreas e indicar, por exemplo, a necessidade de desocupação", projeta Marinho.

A EESC também pesquisa áreas de encostas (inclinação elevada) com probabilidade de deslizamento. Sob a coordenação do professor Lázaro Valentin Zuquette, estudos têm avaliado o risco de movimentos de massa gravitacionais ou relacionados a processos erosivos em cidades como Campos do Jordão (SP) e Ouro Preto (MG), envolvendo, entre outras coisas, a elaboração de cartas (mapas) geotécnicas.

Tragédias

O professor Fernando Marinho esteve em 2008 em Santa Catarina, na ocasião dos numerosos desabamentos ocorridos após as chuvas no Estado. "O grande problema destas catástrofes é os órgãos públicos não impedirem a ocupação de áreas de longa data conhecidas pela grande suscetibilidade a rupturas", lamenta.

Mesmo em locais como o Rio de Janeiro – segundo o pesquisador, local com boa infraestrutura e informações relacionadas às encostas – as pessoas continuam ocupando áreas inadequadas. "No caso do Morro do Bumba, em Niterói, a ruptura colocou em evidência outra questão, que é as pessoas morarem sobre antigos lixões. Além de ser um material altamente instável devido à sua colocação desordenada, há o problema da insalubridade. O próprio gás metano liberado pode gerar explosões, como já ocorreu em uma ocupação em Itapecerica da Serra [SP] há alguns anos", comenta.