quarta-feira, 10 de novembro de 2010

EDIÇÃO DE NOVEMBRO DO JORNAL DO MUSEU GOELDI JÁ ESTÁ NO AR

Novas espécies de lagartos e conhecimento Kayapó
na edição do Destaque Amazônia
 

 





















Agência Museu Goeldi 
Esse mês o Museu Paraense Emílio Goeldi mais uma vez presenteia seu público com uma nova edição do Destaque Amazônia. Matérias sobre novas espécies de lagartos amazônicos, a relação entre mamíferos e a dinâmica florestal, os conhecimentos do povo Caiapó sobre a fauna e flora e a história dos estudos sobre répteis na região compõem a edição quarenta e sete do informativo.

A matéria principal da edição apresenta a pesquisa desenvolvida por Annelise D´Angiolella, realizada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Zoologia, mantido em parceria entre o Museu Goeldi e a Universidade Federal do Pará. A nova mestra analisou características moleculares e morfológicas como a quantidade de escamas, a cor do papo e o tamanho do corpo para elevar cinco subespécies ao status de espécies dentro do grupo de lagartos Anolis chrysolepis.
 
Foram mais de 350 espécimes analisados para determinar a validade das cinco subespécies atualmente reconhecidas no grupo. Annelise estudou ainda o DNA mitocondrial e a morfologia de espécimes provenientes de coleções herpetológicas do Brasil e de outros países. Também da análise consta o sequenciamento de 39 amostras de tecidos, incluindo tecidos de todas as subespécies de Anolis chrysolepis e dos táxons a elas mais relacionados. Para tal pesquisa, dados provenientes do GenBank - a base de dados seqüências genéticas do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) - também foram utilizados.

A nova mestra terá o seu primeiro artigo com resultados da dissertação publicado no Boletim do Museu de Zoologia Comparada da Universidade de Harvard, periódico de grande tradição em estudos referentes aos lagartos Anolis

Dinâmica florestal 

A relação entre mamíferos e as populações humanas da região do Distrito Florestal Sustentável da BR-163, rodovia que liga Santarém a Cuiabá é outro assunto de reportagem do jornal do Museu Goeldi. Desenvolvida pelo biólogo André Ravetta da Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia do Museu Goeldi, a pesquisa realiza levantamentos populacionais de mamíferos para gerar estimativas de abundância das espécies que funcionam como um termômetro para avaliar os impactos da exploração madeireira.

Baseado na classificação da IUCN - União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, Ravetta registrou oito espécies integrantes da Lista Vermelha da IUCN. Dentre os ameaçados estão: o coatá-da-testa-branca (Ateles marginatus); coatá preto (Ateles chamek); cuxiú de nariz-branco (Chiropotes albinasus); e o macaco barrigudo (Lagothrix cana).

Já na categoria de vulnerável constam o guariba (Alouatta discolor); souim branco (Mico leucippe); tatu canastra (Priodontes maximus); e a anta (Tapirus terrestris). Ravetta observou ainda que a onça pintada (Panthera onca), embora não seja alvo de caçadores para alimentação, costuma ser perseguida nas proximidades de vilarejos devido aos ataques a criações de gado e a animais domesticados.

Herpetologia 

Os estudos sobre os répteis e anfíbios amazônicos estão no Destaque Amazônia de novembro. Pesquisadores do Museu Goeldi comentam a trajetória histórica dos estudos, que remonta ao século XVII. Através da coleta ocasional ou sistemática feita por naturalistas viajantes, répteis e anfíbios amazônicos foram registrados pela primeira vez na Europa. 

Vários têm sido os estudos na área, chegando às pesquisas desenvolvidas por algumas das principais instituições de pesquisa da região, como o Museu Goeldi, as Universidades Federais do Pará, Amazonas e Acre, e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Mas ainda há muito por fazer, como de resto na Ciência como um todo. Dados ecológicos e de história natural para conclusões zoogeográficas ainda faltam ser coletados, assim como há necessidade de mais inventários de longo prazo em locais de difícil acesso na região. A digitalização de dados, a formação de novos especialistas estabelecidos na região, além da manutenção e enriquecimento das coleções são itens essenciais no avanço da herpetologia na Amazônia.

Mebêngôkre-Kayapó 

 O conhecimento dos Caiapó sobre o local que ocupam e a fauna e flora que os rodeiam também está no jornal do Museu Goeldi, O pesquisador da instituição, William Overal, considera que os oito mil integrantes do povo Caiapó, que vivem em 14 aldeias às proximidades do Rio Xingu, nos estados do Pará e Mato Grosso é “quem deveriam nos ensinar”.

Segundo o pesquisador, os Caiapó que se identificam como Mebêngôkre-Kayapó, conhecem e diferenciam os reinos animal e vegetal, as relações de interdependência entre esses reinos, fazem a classificação de animais e plantas, além de atribuírem nomes para cada uma das espécies conhecidas. “Os Caiapó possuem profundos conhecimentos sobre a natureza, reconhecem os tipos de ambientes e possuem sistemas agrícolas e extrativistas de baixo impacto aos ecossistemas”, afirma William Overal.

Os Mebêngôkre-Kayapó têm uma forte ligação com os marimbondos, tanto que os ritos de passagem de criança para jovem e, posteriormente, para adulto, são marcados por uma luta contra os “amuh”. “Para os caiapó, o universo é organizado como um vespeiro, dividido em favos”, lembra o pesquisador do Museu Goeldi, que afirma que o estudo desses conhecimentos deveria formar uma ponte entre o “urbano” e esses povos, para que ambos pudessem compartilhar suas experiências, aprender e se desenvolver de forma mais sustentável.

Texto: Lucila Vilar.