Erupção vulcânica nas Canárias poderá causar destruição em Nova York e Buenos Aires
A América Latina é margeada pelo Cinturão de Fogo Circumpacífico, a cadeia sísmica submarina com os maiores índices de atividade tectônica do mundo.
A DW-WORLD conversou sobre o assunto com sismologistas na América Latina e na Alemanha.
Mega-tsunami vindo das Canárias
da DW World
Ancorada entre oceanos, a América é o continente mais exposto às forças provindas do fundo do mar. Ocasionados por maremotos, erupções vulcânicas, deslizamentos ou pelo eventual impacto de um meteorito, os tsunamis representam um dos fenômenos naturais mais destrutivos. Na verdade, eles não deveriam nos parecer tão estranhos, pois em todo o mundo se registra a ocorrência de pelo menos um tsunami por ano. Se bem que eles nem sempre representem riscos para a população ou provoquem danos materiais.
Erupção do vulcão Kilauea no Havaí, em junho de 2004: o perigo também pode vir de longe
Na Europa, o primeiro grande tsunami da Idade Moderna causou 60 mil mortos em Lisboa, em 1755. Pouco depois de um século, em 1868 e 1877, dois maremotos no litoral do Peru e do Chile desencadearam tsunamis que atravessaram o Pacífico, causando graves danos no Havaí.
Segundo o Observatório Sismológico do Ocidente-Sul (Osso), o instituto colombiano ligado ao Centro de Alerta de Tsunami no Pacífico (Pacific Tsunami Warning Center, PTWC), "a grande maioria e os maiores tsunamis ocorrem no Oceano Pacífico, nas zonas de subducção."
Quando duas placas da crosta terrestre se chocam, uma pode ser forçada até as profundezas da Terra. A placa submersa geralmente derrete ao atingir uma profundidade com temperaturas superiores a 1000ºC. Este processo é denominado subducção. A placa derretida emerge novamente à superfície. A formação de certos vulcões, montanhas e ilhas está ligada a este processo de subducção e deriva continental. O derretimento de uma porção da litosfera libera gases, contribuindo para a reciclagem da atmosfera.
Falta compreensão e apoio governamentalO Chile, o Peru, o Equador e a Colômbia são os países mais expostos da América Latina. A zona de subducção colombiana-equatoriana, fonte de tsunamis, fica a apenas 150 quilômetros da costa dos dois países. "Em 1906 e 1979, a Colômbia e o Equador foram abalados por tsunamis que causaram morte e destruição", declarou a DW-WORLD Hansjürgen Meyer, encarregado do sistema de alarme de tsunamis na Colômbia.
A proximidade da fonte e as amargas experiências criaram uma certa consciência de perigo em países como Chile, Colômbia, Peru, Equador e Nicarágua, mesmo que a investigação, a implementação de medidas de proteção e o apoio dos governos nacionais às instituições responsáveis ainda deixem muito a desejar.
Ricardo Mena, da UNDHA, o órgão das Nações Unidas para assuntos humanitários, denunciou a falta de iniciativa das autoridades no caso de uma catástrofe natural. Em 4 de outubro de 1994, o PTWC do Havaí divulgou um alerta de tsunami, em decorrência de um abalo sísmico de 7,9 graus (escala Richter) que ocorreu no norte do Japão e provocou mortes, deixou feridos e causou danos materiais na ilha de Hokkaido e nas ilhas Curilas, na Rússia. Este alerta provocou apreensão em toda América Latina e caos no Equador.
Dois bons exemplos
Apesar de tudo, a Colômbia e o Chile estão fazendo louváveis esforços, conforme mostram os exemplos de Tumaco e Antofagasta. As autoridades locais estão priorizando investigações como medida de prevenção e melhorando as deficiências e erros cometidos em casos anteriores de calamidade.
Os riscos de tsunami na América Latina parecem estar mais próximos da plataforma continental do que longe do litoral, pelo menos em se tratando do Oceano Pacífico. O observatório Osso considera fundamental uma previsão detalhada dos efeitos do tsunami de origem próxima e distante para o litoral colombiano.
Apesar de ser mais tranqüilo, o Caribe não está livre da ameaça de tsunamis. A zona de subducção das Pequenas Antilhas é a mais suscetível de se converter em foco de um tsunami, algo que não é de todo desconhecido na região.
Mega-tsunami vindo das Canárias
Vulcão de San Antonio, na ilha canária de La Palma
Mas o maior perigo, não só para todo o continente americano, mas também para a África e Europa, não vem do Oeste e sim do Leste. Mais especificamente, da ilha espanhola de La Palma, no Oceano Atlântico. Os cientistas calculam que uma erupção do vulcão Cumbre Vieja poderia verter no mar cerca de 500 bilhões de toneladas de terra e rochas.
"Esta seria a fonte de um megatsunami que superaria tudo o que se registrou até hoje", declarou a DW-WORLD o sismólogo Lars Serana, da Agência Federal alemã de Ciências Geológicas, em Hannover. Ondas de 20 metros de altura atravessariam o Atlântico ao longo de seis mil quilômetros, podendo devastar metrópoles como Nova York ou Buenos Aires.
Este temor não é infundado. A cerca de dois mil metros de altitude, os geólogos descobriram em Cumbre Vieja uma grande fenda, provavelmente ocasionada por repetidas erupções, ameaçando romper a encosta oeste da ilha canária. Desde 1493, mantiveram-se em atividade sete dos 120 vulcões da cadeia de 14 quilômetros de extensão que constitui La Palma.
Sendo assim, a questão não é tanto se haverá um megatsunami, mas sim quando.
José Ospina Valencia (sm) da DW World