Marta Nogueira, Jornal do Brasil
RIO - Depois de 20 anos de discussão, a licença ambiental da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, Pará, foi aprovada segunda-feira pelo Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a empresa que vencer o leilão para construir a hidrelétrica será obrigada a investir cerca de R$ 1,5 bilhão em contrapartida ambiental. A usina terá potência instalada de 11.000 megawatts, a segunda maior do Brasil, atrás apenas da hidrelétrica de Itaipu, no Rio Paraná, que tem 14.000 megawatts.
O projeto prevê a inundação de uma área de 250 quilômetros quadrados da região, e a construção está estimada entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões. Para especialistas, o tamanho do impacto ambiental não se justifica, porque a hidrelétrica só poderá funcionar com capacidade máxima durante seis meses do ano, em função do fluxo do próprio rio.
Indios Kaiapó que serão atingidos pela barragem
– Durante o restante do ano, a potência instalada da usina será de 4.200 megawatts – afirmou o professor do programa de pós-graduação em energia da Universidade de São Paulo (USP), Célio Bermann. – O investimento precisa ser elaborado de acordo com a energia que será gerada.
O empreendimento chegou, que chegou a ser suspenso pela Justiça, gera polêmicas que envolvem ambientalistas e representantes do setor energético. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que, junto com o combate ao desmatamento na Amazônia, o licenciamento ambiental de Belo Monte era um dos grandes desafios de sua gestão.
– Belo Monte tem simbolismo muito forte, é a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a mais polêmica e a terceira hidrelétrica do mundo – avaliou Minc.
Bermann defende que a potência instalada da usina deveria ser menor. Além dos índios, que vivem na região, a natureza envolta deverá sofrer muitos danos.
– O montante anunciado para preservar as redondezas é bastante alto – comentou Bermann. Para ele, com uma construção dentro dos moldes de 4.200 megawatts seria preciso apenas um terço do valor.
Na licença concedida está prevista uma lista de 40 condicionantes que terão de ser cumpridas para que o empreendedor receba autorização para as obras. Dentre as exigências, estão recursos para saneamento, melhoria das condições de vida da população impactada ou atingida pelo empreendimento, monitoramento de florestas e adoção de áreas de conservação.
O professor do Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Hélder Queiroz, defende que o Brasil explore melhor seus recursos hídricos.
– Não podemos abrir mão de capacidade extraordinária que temos. O país vai precisar de novas usinas – afirmou Queiroz, referindo-se à quantidade de água do Brasil. Segundo ele, além de gerar muito menos CO2, ainda são competitivas no custo.