Foto da plenária de 29/01 realizada em
Ribeirão Preto
Fomos para a Audiência Pública de Assis (SP) que iria discutir um novo Código Florestal, desconfiados de que estaríamos diante de uma farsa, pois a cidade do interior de São Paulo, juntamente com Ribeirão Preto é uma das catedrais do agro-negócio e baluarte dos canavieiros, que tem no presidente Lula o garoto-propaganda número um.
Entretanto, uma dúvida nos assaltava, a cidade do norte do Estado, também reduto dos canavieiros havia sido categórica em sua repulsa a esta aventura mudancista.
Em Assis, faixas, cartazes e camisetas, secundadas por uma distribuição de farto material de propaganda distribuído pela CIVAP (promotora do evento), pela FAESP (Federação da Agricultura do E.SP), pela OCESP (Organização das Cooperativas do E. SP) e Sind. Rural patronal, davam o tom do que seria o evento. E a presença de uma claque organizada de deputados estaduais, prefeitos e vereadores da região a maioria simpatizante da monocultura da cana-de açúcar, quando não senhores de engenho, dava aos deputados federais da Comissão Especial da Câmara criada para ouvir a população, a garantia de que seriam as estrelas e que poderiam ser até ovacionados, como realmente ocorreu em alguns momentos.
A ausência de grupos organizados de ambientalistas, como Greenpeace, SOS Mata Atlântica e dezenas de outros que estiveram em Ribeirão Preto, deixou o campo livre para manifestação abusada dos parlamentares, que para gaudio dos ruralistas falavam a língua que eles queriam ouvir.
Interessante foi escutar Aldo Rebelo (PCdoB/SP) ex-presidente da União Nacional dos Estudantes, que durante o regime militar refugiou-se no exterior, defender os interesses dos latifúndios e dos senhores de engenho, aqueles mesmos que representavam o “imperialismo” americano e que oprimia os camponeses da América na época da ditadura de 1.964.
Como os tempos mudam! Mas, ao invés de evoluirmos, estamos regredindo aos tempos de antes de ’64.
Uma Comissão isenta e que tivesse em mente ouvir realmente o povo, deveria ir amassar barro e ver “in loco” o que restou de nossas matas e de nossos cursos d’água e iria concluir que mesmo com um Código Florestal “ultrapassado”, draconiano e que precisaria ser revogado, o setor sucro-alcooleiro desmatou livremente neste país, literalmente enterrando em valetas grande parte de nossa bio-diversidade e paralelamente assoreou córregos, rios e banhados e poluiu suas águas com pesticidas e o vinhoto que a chuva carrega.
Se aprovado este novo Código e a mentalidade que rege o governo Lula em matéria ambiental se estender por mais algum tempo, isto aqui corre o risco de literalmente transformar-se em um deserto, onde não será possível produzir nem cana nos moldes atuais.
O que hoje parece representar um ganho, com o acréscimo de terras destinadas anteriormente á natureza, amanhã representará um pesado ônus, não só para os produtores, mas e principalmente para o Estado, obrigado a atender as demandas, principalmente de saúde e água potável da sociedade.
Um deserto que por certo virá e será principalmente, de homens e idéias ganha quem fala mais alto e grita primeiro.
Seria de bom alvitre, anotar o nome destes parlamentares que estão a serviço do agro-negócio e verificar na prestação de contas de campanha, que destino tomaram as doações do setor, permitidas por nossa esdrúxula legislação eleitoral.
Aquilataríamos a que pátria servem realmente, aqueles que elegemos para servir a todos nós e não a uma clientela determinada, que não representa o interesse da nação.
Luiz Bosco Sardinha Machado
fotos Luiz Leme
29/01