sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

IDOSOS SOFREM COM AS QUEIMADAS


Renata Moehlecke-agencia fiocruz

As queimadas na Amazônia podem estar prejudicando seriamente a saúde respiratória das populações a elas expostas: é o que um estudo realizado por pesquisadores do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, unidade da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). A pesquisa, publicada na revista Ciência & Saúde Coletiva da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco),
 apontou uma associação positiva entre focos de queimadas, em Rondônia, e as taxas de mortalidade por doenças do aparelho respiratório – inclusive a doença pulmonar obstrutiva crônica – na localidade, o que explicaria entre 50 a 80% da mortalidade por essas enfermidades em idosos de mais de 65 anos na região

A partir de 2002, praticamente triplicou o número focos de calor na região

“Os resultados demonstram a gravidade do problema das queimadas e o impacto sobre a saúde respiratória da população, principalmente sobre a mortalidade de idosos”, alertam os pesquisadores no artigo. “As informações sobre o perfil da mortalidade na região amazônica e sua relação com os problemas ambientais são escassas. Os dados são precários ou ausentes em uma região geograficamente extensa, cuja população apresenta diversidade biológica e cultural importantes em razão da origem variada do fluxo migratório”.

Para o estudo, foram cruzados registros de óbitos do Sistema de Informações de Mortalidade do Sistema Único de Saúde (SUS) com registros de focos de calor/queimadas retirados do bando de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) entre 1998 e 2005. “O comportamento dos coeficientes de mortalidade por doenças respiratórias, ajustadas no período, mostra tendência de incremento para população idosa nas duas faixas etárias estudadas”, afirmam os pesquisadores. “O mesmo acontece com o aumento do número de focos, principalmente a partir de 2002, quando praticamente triplicou o número focos de calor na região”.

Segundo os estudiosos, a população da região norte do país, até a década de 1970, vinha apresentando padrões de evolução em sua mortalidade semelhantes à média do país. Com a inauguração da Rodovia Transamazônica, naquela época, e os incentivos fiscais para a ocupação da área, principalmente com pecuária bovina, a intensidade e o uso indiscriminado das queimadas transformaram-se em um grave problema ambiental. “A seleção de Rondônia para este estudo se deve a sua localização geográfica, situada no arco do desmatamento, principal trajeto de dispersão de poluentes da região norte”, comentam os pesquisadores.