Informe Ensp Ajudar os agricultores a superar as adversidades impostas pela seca na região do semiárido do Nordeste é um dos objetivos da atuação da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) no município de Pintadas, localizado a 250 quilômetros de Salvador. Por meio do projeto Pintadas Solar, a pesquisadora Débora Cynamon Kligerman vem participando das estratégias que buscam articular recursos técnicos, científicos, sociais e de políticas públicas com vistas a gerar renda e adaptar comunidades vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas. O projeto recebeu o prêmio SEED 2008, escolhido entre mais de 400 projetos no mundo como uma das cinco práticas que merecem ser trabalhadas em escala, e vem gerando outros benefícios à população local, garantindo a segurança alimentar e a geração de renda baseada na pequena e média propriedade agrícola, e produzindo sem destruir o ecossistema. A partir das experiências desenvolvidas, surgiu a rede Adapta Sertão, que articula municípios, instituições publicas, privadas e do terceiro setor com vistas a uma melhor adaptação frente às dificuldades.
A área de atuação do projeto é a região semiárida - considerada uma das mais pobres do Brasil. Caracterizada por um clima com períodos de secas recorrentes que afetam cerca de dois milhões de famílias, possui um regime de chuva baixo e muito irregular, podendo variar entre 600 e 800 mm/ano. De acordo com Débora Kligerman, várias intervenções vêm sendo feitas com o objetivo de utilizar a energia da melhor forma possível na agricultura, otimizar o uso da água para o uso próprio e agrícola, proteger a plantação do forte calor, implantar um sistema de saneamento rural e, principalmente, disseminar essas informações e capacitar multiplicadores. Uma das tecnologias citadas pela pesquisadora é a de gotejamento, que consiste no uso de um tubo com pequenos furos que gotejam a dose exata de água sobre as plantações duas vezes ao dia. Outro exemplo citado foi o do sistema de organoponia - um tipo de estufa abastecida por calhas elevadas - que contém uma espécie de esponja molhada de onde os brotos vão germinando para o caso de verduras e legumes. "O trabalho consiste na reflexão dos indicadores obtidos para a construção de medidas de adaptação. Trabalhamos para fazer com que as pessoas se adaptem às dificuldades a que estão expostas. No caso do semiárido é a seca". Dentre as diversas experiências desenvolvidas, Débora mencionou a poliprodução como uma estratégia de integrar os diferentes tipos de cultivo com objetivo de maximizar a produção agrícola. "O sertão é caracterizado por períodos secos que duram vários meses durante o ano. O policultivo é particularmente importante para fazer frente às dificuldades que o clima extremo impõe na região. O agricultor precisa diversificar a própria produção para garantir uma renda e alimentos durante o ano todo. Além disso, incentivamos que eles intercalem o local agrícola com árvores. Ela dá um sombreamento que serve para proteger os animais e amenizar o forte sol calor sobre a plantação". Ainda de acordo com a pesquisadora, como um projeto de adaptação deve influenciar a melhoria da qualidade de vida, é necessário ter ao menos uma infraestrutura básica. Portanto, o saneamento é uma questão fundamental. "Grande parte da população rural não tem banheiro. Estamos negociando com o BNDES a implantação do método Cynamon de Fossa de Fermentação, que não utiliza água. Com a adição de cal ou ferragem, você aumenta o PH da fossa e não causa mau cheiro. Além disso, ainda pode ser utilizado na agricultura como adubo". Em outubro de 2009, junto com o pesquisador Paulo Daguila, ela participou de uma Feira de Ciências na região que teve como tema a alimentação. Segundo Débora, o kit de irrigação que haviam implantado na horta da escola fez com que pais e filhos se envolvessem no projeto. "A disseminação das informações é uma parte importante do projeto. Temos uma área de comunicação que busca fazer a divulgação das estratégias usadas em uma rádio da região. Também não podemos deixar de falar da importância social deste trabalho. Muitas famílias migram do sertão para o Sudeste ou até mesmo para as capitais do Nordeste em busca de emprego e melhor renda. É importante fixar o homem à terra e fazer com que ele possa produzir ali. Temos o exemplo de uma família que retornou de uma infeliz ida ao Sudeste. Hoje, eles contam que o pobre no sertão pelo menos não morre de fome, diferente da grande cidade". |