Ameaçadas de extinção, ararinha-azul e arara-azul-de-lear são repatriadas
ararinha azul
arara azul de lear
Izabela Ribeiro/ICMBio/ASCOM
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) acaba de repatriar duas aves da fauna brasileira extremamente ameaçadas de extinção: uma ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), espécie encontrada hoje apenas em cativeiro, e uma arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari), que tem só 900 indivíduos na natureza.
As duas aves foram desembarcadas na segunda-feira, 22 de março, no Aeroporto de Congonhas (SP), vindas da Fundação Loro Parque, em Tenerife, na Espanha. Elas haviam sido enviadas para lá em 2006 por meio de um programa de cooperação entre os dois países para a conservação de espécies ameaçadas.
Os animais foram trazidos de volta pelo curador de aves da Fundação Loro Parque, Mathias Reinschmidt, autorizado a colocá-las em gaiolas na cabine do avião, para maior segurança. Reinschmidt foi recebido no aeroporto pela chefe do Setor de Aves, a bióloga Fernanda Junqueira Vaz, e a coordenadora dos programas de cativeiro da ararinha-azul e arara-azul-de-lear, Yara Barros, diretora técnica do Foz Tropicana Parque das Aves, de Foz do Iguaçu.
QUARENTENA
Após os trâmites de liberação junto às autoridades sanitárias, as aves foram levadas por uma equipe do Zoológico de São Paulo para o quarentenário do Zôo em Cananéia (SP). Lá, elas deverão ficar em quarentena por um período mínimo de 15 dias, durante os quais passarão por exames. Serão acompanhadas em tempo integral por um biólogo e uma veterinária do Zôo.
A ararinha-azul, que ganhou o nome de “Mela”, é uma fêmea de 3 anos de idade. Nasceu no Loro Parque e terá como destino o Zôo de São Paulo, onde será pareada (formará casal) com um macho. A arara-azul-de-lear tem também 3 anos de idade e é filhote de um casal enviado do Brasil para o Loro Parque em 2006. Mesmo tendo nascido em um centro de reprodução no exterior, é propriedade do governo brasileiro.
Os pais da arara-azul-de-lear nunca haviam reproduzido no Brasil. Na Espanha, nesses quatro anos, geraram 11 filhotes, que integram o programa de cativeiro do Loro Parque. Antes, um deles já havia sido mandado de volta ao Brasil, onde, atualmente, forma casal com um exemplar da espécie no Zoológico de Belo Horizonte (MG).
AMEAÇA
Segundo o coordenador-geral de Pesquisa do Instituto Chico Mendes, Ugo Vercillo, as duas espécies de arara são endêmicas da caatinga baiana, ou seja, só ocorrem nesse local. A situação de extrema ameaça por que passam se deve, principalmente, à captura para o comércio ilegal e à perda de habitat, que se acentuaram nos últimos anos.
Das duas espécies, a ararinha-azul é a que enfrenta a situação mais crítica. Desde 2002, é considerada oficialmente extinta na natureza. O último registro de um indivíduo selvagem foi feito dois anos antes. Sua única chance de recuperação é o manejo em cativeiro.
Ainda segundo Vercillo, o Programa de Reprodução da Ararinha-Azul conta com apenas 80 aves, distribuídas em centros no Brasil (Zoológico de São Paulo e Fundação Lymington, também em São Paulo), Espanha (Fundação Loro Parque), Qatar (Al Wabra Wildlife Preservation) e Alemanha (ACTP). O objetivo é garantir o retorno da espécie à natureza por meio de reintroduções controladas.
Já a arara-azul-de-lear, embora criticamente ameaçada, tem uma situação um pouco melhor. De acordo com Vercillo, há hoje 900 indivíduos em ambiente natural. Eles se encontram basicamente nos municípios de Canudos, Jeremoabo, Euclides da Cunha e Sento Sé, no oeste da Bahia. Não muito raro, exemplares dessa espécie são apreendidos pela polícia em poder dos traficantes. Alguns já foram, inclusive, confiscados em outros países e repatriados.
De acordo com o coordenador de Pesquisa do ICMBio, cerca de 60 arara-azuis-de-lear apreendidas pela fiscalzação são atendidas hoje por um programa de reprodução, que busca estabelecer uma população de segurança em cativeiro para futuras reintroduções à natureza.
Os centros de reprodução da arara-azul-de-lear que fazem parte desse programa estão localizados no Brasil (Zoológico de São Paulo, Zoológico de Belo Horizonte, Fundação Lymington/SP e Crax Sociedade de Pesquisa em Vida Silvestre/MG), Espanha (Fundação Loro Parque), Qatar (Al Wabra Wildlife Preservation) e Inglaterra Harewod Hall).
“Através da cooperação entre governos e mantenedores, é possível obter um crescimento genética e demograficamente sustentável das populações em cativeiro, que viabilizem a conservação dessas espécies”, disse Vercillo, ao destacar a importância desse trabalho.