sábado, 10 de abril de 2010

MOLÉCULA ANTI-TUMORAL LOCALIZADA NA FAUNA MARINHA AÇORIANA

Lúcia Vinheiras Alves/tvciencia.pt







©Vinicius Padula

Identificada nova molécula com propriedades anti-tumorais e anti-microbianas num molusco que vive na fauna marinha açoriana. Uma substância que poderá vir a ser utilizada em novas terapêuticas.





Equipe internacional composta por cientistas de Portugal, Brasil, Espanha e Itália identifica uma nova molécula em águas açorianas que demonstra ter propriedades farmacológicas anti-tumorais.



Designada por Tambjamina K, a nova molécula, da família das Tambjaminas que pertencem ao grupo dos alcalóides, foi identificada numa amostra de moluscos nudibrânquio da espécie Tambja ceutae e do alimento deste invertebrado, colhida no Porto da Ilha da Horta, no Arquipélago dos Açores.



«Esta molécula é muito provavelmente adquirida através do alimento, o briozoário Bugula dentata, e acumulada para utilização na própria defesa do molusco», já que este molusco utiliza a substância como arma química contra os predadores, explica Gonçalo Calado, investigador do Instituto Português de Malacologia, membro da equipa de cientistas internacionais que desenvolveu o trabalho.



No estudo, publicado na edição de Fevereiro de 2010 da revista Bioorganic & Medical Chemistry Letters, os cientistas indicam terem realizado análises químicas a uma amostra de quinze indivíduos Tambja ceutae e do briozoário Bugula dentata, colhida no Porto da Horta, no entanto, apesar de rara a espécie não é exclusiva da costa açoriana.



«Como o nome indica, esta espécie foi inicialmente descrita em Ceuta, existindo à volta do Estreito de Gibraltar, nas Canárias, em Cabo Verde, na Madeira e nos Açores. No entanto, é em geral uma espécie muito rara, à excepção de alguns pontos muito concretos como o Porto da Horta, na ilha do Faial, onde facilmente se localizam centenas de exemplares, devido à grande abundância do seu alimento», explica Gonçalo Calado.



No estudo, os cientistas indicam que analisaram a bioactividade da substância em linhas celulares tumorais e não tumorais de mamíferos, avaliando o crescimento e viabilidade das mesmas. As linhas celulares em estudo incluíram células humanas do cancro do cólon e útero, células de glioma e células mioblásticas cardíacas de ratos de laboratório e fibroblastos de murinos.



De acordo com os cientistas «os resultados mostraram que quer a tambjamine K quer o tetrapirrole (um metabólito relacionado com a tambjamine K) exibem actividade citotóxica notável e dependente da concentração contra células mamíferas tumorais e não tumorais».



Por enquanto, os cientistas vão continuar a desenvolver testes mais específicos e começar a procurar «um parceiro interessado na indústria farmacêutica». Já em relação a futuras terapêuticas com base nesta substância, o investigador português adianta que «ainda estamos muito longe de poder responder a esta questão».



Gonçalo Calado afirma ainda que «a grande lição que podemos tirar daqui é que Portugal tem um manancial enorme de produtos naturais marinhos inexplorados e que, certamente, muitos deles estão mesmo ‘à mão de semear’. Não é necessário ir muito fundo nem muito longe, apenas olhar com olhos de ver e encontrar os parceiros indicados».