sexta-feira, 9 de abril de 2010

PARANÁ: COLHEITA PREMATURA DO PINHÃO PODE PREJUDICAR ESPÉCIE


O defeso do pinhão

Colheita prematura de pinhão ameaça
a sobrevivência da araucária e é proibida
pelo IAP e pelo Ibama. Mas a semente
já é vendida nas estradas que cortam
os Campos Gerais e a região
Centro-Sul Henry Milleo/Gazeta do Povo / Judite percorre oito quilômetros a pé para vender o litro do pinhão por R$ 1,50. Maioria dos vendedores e consumidores desconhece a proibição da venda antes de 15 de abril Judite percorre oito quilômetros a pé para vender o litro
do pinhão por R$ 1,50. Maioria dos vendedores e
consumidores desconhece a proibição da venda antes de 15 de abril
Maria Gizele da Silva/sucursal da gazeta do Paraná

O pinhão cozido e quentinho pa­­rece combinar com o frio paranaense. Mas muitas pessoas preferem antecipar essa sensação. O resultado é o aparecimento de centenas de vendedores de pinhão nas beiras das estradas.

O Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis e do Meio Ambiente (Ibama) editou portaria em 1976 proibindo o comércio antes do dia 15 de abril, já que após essa data as sementes começam a se desprender sozinhas das árvores. O Instituto Am­­biental do Paraná (IAP) reforçou a portaria em 2007 com uma determinação estadual. Mas a busca pelo dinheiro extra do comércio informal e a falta de conhecimento dos consumidores sobre os riscos à sobrevivência das araucárias mantêm o negócio em atividade.

Na rodovia PR-151, entre Pon­­­ta Grossa e Castro, nos Cam­pos Gerais, há entre 20 e 30 vendedores desde o mês passado. Eles costumam levar uma cadeira para apoiar os pacotes prontos de pinhão e água para beber. Muitos idosos e crianças ficam sob o sol, sem proteção. A concessionária Rodonorte, que administra o trecho, só pode proibir construções à beira da pista, mas neste caso do comércio ilegal, há pouco a fazer. Se­­gundo a assessoria de imprensa, o principal risco é o de atropelamentos. As equipes de vistoria da pista orientam pessoalmente os vendedores e pedem que eles se retirem, mas não têm poder de polícia para despejá-los.
A cozinheira Judite Canha, 55 anos, percorre oito quilômetros a pé, de casa para a rodovia, para vender o litro do pinhão por R$ 1,50. O lucro é de R$ 0,30 por pacote. Segundo ela, que vende pinhão na estrada há pelo menos 30 anos, neste ano o comércio ainda está fraco e há pouco pinhão na mata. Mesmo assim, ela diz que nos dias de maior movimento dá para tirar R$ 20 no comércio. O dinheiro, segundo ela, ajuda no orçamento familiar.
Há os que colhem o pinhão e os que vendem nas beiras das estradas. Alguns sabem que a venda é proibida, mas a maioria desconhece a irregularidade.
Blitz
A Operação Pinhão, desenvolvida pelo Batalhão da Polícia Am­­biental recolheu, em apenas cinco dias, no final do mês passado, quase três toneladas de pinhão. A semente apreendida foi doada para instituições de caridade do interior do Paraná e os responsáveis foram autuados e responderão por crime ambiental.


Segundo o tenente Ivan Fon­se­ca Filho, relações públicas do Batalhão de Polícia Am­­bien­tal, comercializar pinhão neste período é crime ambiental previsto na Lei 9.608/98, que prevê detenção de seis meses a um ano e pagamento de multa que varia de R$ 5 mil a R$ 500 mil, conforme decisão do colegiado do IAP.



Espécie em perigo
Regeneração da árvore fica comprometida
O pinhão tem um papel preponderante na natureza. Serve de alimento para a fauna e ajuda a proliferar a espécie. Cada pinha cai naturalmente num raio de 50 metros da árvore-mãe, o que favorece o nascimento de novas árvores.
Conforme a professora de botânica do departamento de Biologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Rosemere Moro, o processo de derrubada da pinha jovem impede a regeneração da planta. "A semente não completa o seu ciclo", diz.
A maioria das espécies, segundo ela, amadurece entre os meses de julho e agosto. A única espécie que amadurece a partir de março é o pinhão São José. "Mas muitos acabam colhendo outras espécies junto", afirma.
A araucária pode durar 200, 300 anos. Nesse caso, com a colheita prematura, ela enfraquece. O resultado no futuro, conforme a botânica, é a dispersão da espécie.