A Amazônia carrega em sua essência muitas características deixadas pelos povos indígenas, entre elas rituais de cura por meio de chás e também de orações aos deuses primitivos. Essa tradição rompeu as barreiras do tempo e ainda nos dias atuais é conservada por muitas pessoas que tiveram contato com esses ensinamentos.
O projeto ‘Análise sobre a arte de curar por meio de curandeiros e benzedeiros’, sob a coordenação da professora Cybele Morais da Costa, chamou a atenção de quem visitou a 5ª Mostra Pública do Programa Ciência na Escola (PCE), que ocorreu nos últimos dias 20 e 21 de junho, na Divisão de Desenvolvimento Profissional do Conhecimento (Antiga Aldeia do Conhecimento), situada à Rua Maceió, nº 2000, Parque Dez.
O PCE é uma iniciativa do Governo do Estado que conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). O programa mantém parcerias com as secretarias de Educação do Estado (Seduc) Municipal de Educação (Semed Manaus e Itacoatiara) e Fundação Amazonas Sustentável (FAS).
O projeto contou com a colaboração de uma equipe de alunos do Ensino Fundamental da Escola Municipal Deputado Ulysses Guimarães, localizada na fronteira entre os bairros Amazonino Mendes e Mutirão, na zona norte de Manaus.
A pesquisa realizou um mapeamento da presença dos curandeiros e benzedeiros populares residentes no bairro e traçou um perfil dessas pessoas que detêm a sabedoria da arte de curar por meio de remédios caseiros, como chás e garrafadas, e que também realizam as rezas e benzimentos nos doentes.
De acordo com a coordenadora, a ideia do mapeamento teve o intuito de saber se a arte de curar por meios das plantas nativas da região ainda está presente no cotidiano da sociedade atual e descobrir como os curandeiros e rezadores, garantem a sobrevivência dessa tradição. “No bairro, conseguimos descobrir que ainda é comum o trabalho dos curandeiros e que alguns defendem a profissão como um dom divino. Para eles, a profissão está dividida em duas categorias: aquela que a pessoa já traz de berço, ou seja, o indivíduo já nasce com o dom divino, essa categoria geralmente não aceita contribuição; e aquela pessoa que adquiriu os conhecimentos por meio de familiares, e nesses casos é permitida a contribuição”, afirmou.
Metodologia
Segundo a coordenadora a pesquisa foi desenvolvida na área geográfica que compreende o bairro Amazonino Mendes e foi realizada em duas fases. A primeira compreendeu a atividade de mapeamento das ruas, com o objetivo de identificar os praticantes da arte curativa. A segunda foi a parte da entrevista, que segundo ela foi a mais difícil, porque muitos não aceitavam gravar. No total, 89 ruas foram mapeadas; nove curandeiros identificados e, desse total, apenas cinco aceitaram falar sobre o trabalho que realizam.
Esta é a primeira vez que a professora participa do programa e, para ela, a experiência trouxe muitos resultados positivos. “Foi muito bom estar aqui. É bom quando vemos alunos tanto do Ensino Fundamental, quanto do Ensino Médio participando e já desenvolvendo a pesquisa. Essas atividades despertam o interesse por parte desses alunos a seguirem com projetos voltados para a pesquisa científica”, disse.
Para Bianca Silva de Souza, aluna do 8º ano e participante da execução do projeto, a pesquisa foi um grande desafio. “Eu aprendi muito, principalmente trabalhar em grupo. A participação no projeto, fez com que eu me interessasse mais pela pesquisa”, disse.
Sobre o PCE
O Programa Ciência na Escola faz parte da política do Governo do Estado para difundir a ciência e promover o interesse dos jovens pelo mundo científico. Para isso, o programa consiste em apoiar, com recursos financeiros e bolsas, sob formas de cotas institucionais, estudantes dos ensinos Fundamental e Médio integrados no desenvolvimento de projetos de pesquisas de escolas públicas de Manaus e do interior do Amazonas. Desenvolvido pela FAPEAM, o programa conta com o apoio da Seduc, Semed capital, Semed Itacoatiara e FAS.
Rosa Doval – Agência FAPEAM