segunda-feira, 25 de junho de 2012

Cagaiteiras: para um aproveitamento sustentável



 Fernando Tatagiba / Cerrado Nativo
      
         Rica em vitamina C e antioxidantes, a cagaita poderá
        ser aproveitada em sucos, geleias e bebidas isotônicas
da FAPERJ
Vilma Homero

O nome é bastante estranho, mas tem lá sua razão de ser. Doces e azedinhos, os frutos da cagaiteira, quando comidos em grande quantidade, especialmente se estiverem quentes do sol, têm efeito laxativo. Suas folhas, no entanto, preparadas em infusão, têm efeito exatamente oposto. Popular no Centro-Oeste brasileiro e praticamente desconhecida no restante do país, a cagaita (Eugenia dysrenterica) começa a ser descoberta pelos pesquisadores. Devido às suas boas concentrações de vitamina C – superiores aos encontrados em muitas frutas convencionalmente cultivadas – e antioxidantes de sua composição, eles andam avaliando a possibilidade de empregá-las em bebidas funcionais e isotônicas, além de aproveitá-las em geleias. Com isso, também estarão contribuindo para a fixação no campo dos pequenos agricultores da região e para a ampliação do cultivo dessas árvores, em geral nativas, que vêm perdendo espaço para a formação de pastos.



O projeto de Lucia Maria Jaeger de Carvalho, do Laboratório de Tecnologia e Análise Instrumental de Alimentos da Faculdade de Farmácia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tem exatamente este objetivo. Com apoio do edital de Apoio a Grupos Emergentes, da FAPERJ, sua equipe analisa alternativas para o uso da fruta. "Com o boom das bebidas isotônicas e refrigerantes, o que estamos propondo são novas opções de sabores, com a vantagem de se aproveitar as propriedades antioxidantes e a vitamina C da fruta", afirma a pesquisadora. Ela explica que nas áreas do cerrado brasileiro, onde laranjas e outros cítricos do gênero não são tão abundantes, frutas como a cagaita oferecem uma fonte de vitamina C acessível à população.

Para seu trabalho, a pesquisadora lançou mão de recursos de grande precisão. "Identificamos as substâncias voláteis responsáveis pelo aroma do fruto, utilizando a microextração em fase sólida (MEFS) e a cromatografia gasosa de alta resolução acoplada à espectrometria de massas", explica. A análise da composição da fruta e de sua atividade antioxidante, por vários métodos, tema da dissertação de mestrado de Ediane Maria Gomes Ribeiro, revelou que a cagaita contém 90% de água; 0,25% a 0,33% de minerais; 1,85% a 2,03% de proteínas; 0,20% a 0,36% de lipídios; e 7,62% a 8,73% de carboidratos. Segundo a pesquisadora, a polpa, com ou sem casca, contém bom conteúdo de açúcares e baixo valor calórico. Sua boa capacidade antioxidante vem da vitamina C e dos carotenóides – substâncias que lhe conferem a coloração amarelada, como a luteína e a zeaxantina. Essa parte do trabalho foi objeto da dissertação de mestrado de Patrícia Barros Gomes, orientanda de Lúcia, que avaliou carotenóides, como o alfa e betacaroteno, com atividade pró-vitamina A. "Por todas essas propriedades, nossa meta é estudar formas de aproveitar a cagaita em alimentos, sem reduzir sua atividade antioxidante ou seus níveis de vitamina C."

Esse é realmente o maior desafio, uma vez que a clarificação do suco extraído da polpa da fruta, realizada em filtração por membranas, já provoca uma pequena redução dessas substâncias. "A vitamina C é muito suscetível ao tratamento térmico, e o calor é a base para a fabricação de geleias e vários outros produtos", explica. Por isso mesmo, o assunto está sendo estudado por outro aluno de Lucia, o mestrando Nicolas Tebaldi. Em mais um trabalho, o doutorando Flávio de Souza Neves Cardoso avalia formas de empregar enzimas que possam facilitar o processo de clarificação. "Além de avaliar as perdas de nutrientes e não nutrientes no suco durante o processo de microfiltração, vemos a possibilidade de adicionar micro ou nanocápsulas de ácido ascórbico, ou seja, da vitamina C eventualmente perdida no processo", analisa.



 Wikipedia
Pequena e saborosa, a cagaita poderá
     
ter a polpa liofilizada para exportação