segunda-feira, 4 de junho de 2012

Top 10 das novas espécies inclui descobertas de brasileiros


Por Fábio de Castro/Agência FAPESP
Uma aranha-caranguejeira descoberta no Brasil e uma água-viva do Caribe descrita com a participação de cientistas brasileiros estão entre os animais da lista “Top 10 Novas Espécies” de 2011, anunciada pela Universidade do Estado do Arizona (ASU), dos Estados Unidos.
A lista, produzida anualmente pelo Instituto Internacional de Exploração das Espécies da ASU, elege dez espécies consideradas as mais belas ou curiosas descritas no mundo no período anterior. A divulgação foi feita no dia 24 de maio.
A segunda colocada da lista foi a cubo-medusa Tamoya ohboya, cuja descrição teve a participação de pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP) ligados ao Programa BIOTA-FAPESP. A décima colocada foi a tarântula Pterinopelma sazimai, descrita por cientistas do Instituto Butantan.

A cubo-medusa Tamoya ohboya foi descrita na revista Zootaxa por uma equipe que envolveu pesquisadores do Instituto Smithsonian e da Universidade do Kansas – ambos dos Estados Unidos – e os brasileiros André Morandini e Antonio Marques, do Departamento de Zoologia do IB-USP.
Morandini coordena o projeto “Sistemática, ciclo de vida e padrões reprodutivos de medusas na Baixada Santista: biodiversidade marinha”, apoiado pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.
De acordo com Marques, quando o grupo dos Estados Unidos coletou algumas das medusas na ilha holandesa de Bonaire, no sul do Caribe, percebeu sua semelhança com a espécie Tamoya haplonema, encontrada na costa brasileira e conhecida desde o século 19. Para confirmar que se tratava de uma espécie já conhecida, os pesquisadores entraram em contato com os dois cientistas da USP que coletaram espécimes da medusa brasileira em Santa Catarina.
“Fizemos o trabalho de comparação direta da morfologia, da morfometria e do DNA. Graças a essa comparação concluímos que a medusa da ilha de Bonaire deveria ser descrita como uma nova espécie para a ciência”, disse Marques à Agência FAPESP.
Trata-se de um animal de dimensões grandes para o padrão das águas-vivas. O grupo das cubo-medusas reúne alguns dos animais mais venenosos do planeta. Devido à beleza impactante da nova espécie, os cientistas decidiram não nomeá-la imediatamente. Optaram por abrir um concurso por meio do qual pessoas de diversos países enviaram sugestões de nomes.
“Usamos a descoberta para realizar uma campanha de popularização da taxonomia. Publicamos fotos do animal na internet e abrimos um concurso a fim de chamar a atenção do público para o processo de descobrimento de novas espécies. Trata-se de um exemplo do que chamamos de ‘ciência do cidadão’, na qual o público participa ativamente de uma descoberta”, explicou Marques.
O nome “ohboya” foi escolhido por uma professora do ensino fundamental dos Estados Unidos, fazendo uma alusão à expressão “oh, boy”, em referência à surpresa e ao impacto que a beleza do animal causa em quem o encontra. 


Aranha azul

O nome dado à tarântula Pterinopelma sazimai foi uma homenagem ao cientista que coletou um exemplar do animal pela primeira vez, o zoólogo Ivan Sazima, professor aposentado do Instituto de Biologia (IB) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
De acordo com Sazima, a aranha encontrada era uma fêmea, que não foi identificada na época pois a sistemática desse grupo é feita com base na morfologia dos machos.
“Lembro que encontrei essa aranha na Serra do Cipó, em Minas Gerais, sob uma pedra em campos rupestres característicos da Chapada do Espinhaço, em dezembro de 1971. Depois de terminar os trabalhos de campo, levei a aranha viva para Sylvia Lucas, pesquisadora do Butantan”, disse.
De acordo com Sazima, apesar da dificuldade por se tratar de uma fêmea, Lucas percebeu que se tratava de uma espécie não descrita. A aranha foi mantida viva por mais de dez anos no Instituto Butantan, mas morreu durante uma de suas trocas periódicas do exoesqueleto, antes que fosse possível descrevê-la.
Pterinopelma sazimai só foi descrita em 2011, na revista Zootaxa, pelos pesquisadores Rogério Bertani, Roberto Nagahama e Caroline Fukushima, do Instituto Butantan.
Segundo Bertani – que trabalha há 20 anos com a equipe de Lucas –, desde que morreu o exemplar encontrado por Sazima, os cientistas do Instituto Butantan partiram em busca de outros espécimes. Uma nova aranha azul foi encontrada no início da década de 2000 por Pedro Gnaspini, professor do IB-USP.
Entre 2004 e 2009, Bertani coordenava um projeto de pesquisa sobre aranhas-caranguejeirascom apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular. No âmbito do projeto, levou sua equipe a diversas regiões de Minas Gerais, em busca de novos exemplares.
“Obtivemos sucesso em 2008, conseguindo uma fêmea adulta e algumas jovens aranhas. Depois tivemos a informação de que uma equipe da área de botânica havia coletado alguns animais vivos. Um deles não tinha a cor azul característica, mas concluímos que se tratava do macho da espécie. Com esse material mais completo, pudemos descrever a espécie e publicamos em 2011”, disse Bertani.
Embora os pesquisadores tenham passado por grandes dificuldades para encontrar os espécimes para estudo – e tenham enfrentado barreiras burocráticas para coletar os animais –, Bertani conta que a Pterinopelma sazimai pode ser encontrada facilmente à venda em sites na internet.
“É muito triste saber que uma aranha com tão poucos espécimes em coleções científicas está sendo comercializada no exterior. Provavelmente esse comércio ilegal é motivado apenas pela beleza e o aspecto inusitado da espécie. Acredito que não se trata de biopirataria propriamente dita, mas de um comércio de pets exóticos”, destacou.
Segundo Bertani, embora seja vendido no exterior, o animal é difícil de ser encontrado, por viver em um ambiente muito específico e extremamente inóspito.
“Todos os exemplares foram encontrados em áreas rupestres, de altitude elevada, com vegetação baixa e pobre, predominância de solo arenoso e rochoso, com ausência de água na maior parte do ano e variações de temperatura extremas. Como é impossível cavar tocas nesse tipo de solo, elas costumam viver embaixo de rochas, em populações muito pequenas”, disse.
O grupo de Bertani está atualmente concluindo a descrição de uma nova espécie de aranha-caranguejeira encontrada no mesmo tipo de ambiente. O artigo com a descrição deverá ser publicado na revista Zootaxa em breve.
Mais informações: http://species.asu.edu/Top10